TRAGÉDIA NO IRAQUE: PEREGRINOS EM FUGA, MASSACRADOS
Bagdá, 31 ago (RV) - 850 mortos e 323 feridos, na maioria mulheres e crianças:
é o balanço trágico da matança ocorrida hoje, na zona norte de Bagdá. Autoridades
iraquianas estimam que os mortos no tumulto podem chegar a mil.
O lançamento
de quatro salvas de morteiro contra milhares de fiéis, congregados em torno da mesquita
xiita de Al-Kadhimiya, provocou uma fuga maciça de peregrinos, que, em pânico procuravam
alcançar uma ponte do rio Tigre. O corre-corre foi provocado também por boatos segundo
os quais estaria escondido no meio da multidão um terrorista suicida pronto para fazer-se
detonar.
O Ministro do Interior iraquiano, Bayan Jabor, acusou "um terrorista"
(sem fornecer maiores detalhes) de ter espalhado o boato da presença de um suicida
(kamikaze) entre a multidão de xiitas, causando o corre-corre que desencadeou a tragédia.
Foram
muitas as mortes "causadas por empurrões e esmagamento", mas a maioria das vítimas
morreu afogada nas águas do Tigre, onde caíram, da ponte de Al-Aaimmah, cuja estrutura
cedeu, em parte devido à pressão dos fugitivos.
Trata-se do maior massacre
ocorrido no país árabe, nestes dois anos e meio de ocupação anglo-americana. Certamente
o fato contribuirá para aumentar ainda mais a tensão político-religiosa já bastante
alta, em plena queda de braço sobre o esboço da nova Constituição iraquiana, aprovado
pela aliança majoritária curdo-xiita, mas rechaçado pelos sunitas.
Não obstante
a tragédia, milhares de fiéis xiitas continuaram a lotar a mesquita de Al-Kadhimyah,
um dos principais mausoléus xiitas da cidade, para participar da cerimônia de comemoração
do martírio de uma das figuras mais veneradas pela comunidade xiita: o 7º imame, Moussa
Al-Kadhir. Impassíveis, sob um sol tórrido, celebraram o típico ritual da lamentação
fúnebre em honra de Kadhir, batendo rítmica e repetidamente no peito.
O Ministro
da Saúde, próximo do movimento do líder radical xiita, Moqtada Al Sadr, pediu publicamente,
a demissão de seus colegas, do Interior (um xiita) e da Defesa (um sunita), que acusou
de serem responsáveis pela tragédia de hoje.
Um grupo sunita pouco conhecido,
o "Exército da seita vitoriosa", reivindicou o ataque contra a mesquita xiita de Bagdá.
O grupo afirma ter aberto fogo com morteiros e e foguetes contra "uma concentração
de apóstatas" na mesquita de Kadhimiya. (PL)