2005-08-21 13:48:23

A proxima jornada mundial da juventude será em Sydney, na Austrália, em 2008. A noticia foi dada por Bento XVI no final da celebração eucaristica de encerramento da JMJ de Colonia. Um "não" firme do Papa á religião que se torna produto de consumo


Num ambiente de grande intensidade, cerca de um milhão de jovens participaram, neste domingo de manhã, em Marienfeld, nos arredores de Colónia, à Eucaristia conclusiva da Jornada Mundial da Juventude 2005, presidida por Bento XVI, que no final da celebração anunciou o lugar e a data da próxima JMJ, Sidney, Austrália, em 2008.
A homilia do Papa nesta Eucaristia final da JMJ de Colónia constituiu uma bela catequese, ao mesmo tempo simples e densa, sobre o mistério eucarístico, que se pode de certo modo resumir com algumas das palavras iniciais da sua intervenção: Na Eucaristia a adoração deve-se tornar união. Mediante a Eucaristia, a hora de Jesus torna-se a nossa hora, sua presença no meio de nós. Na última ceia, Jesus segue os ritos de Israel (da ceia pascal), recitando a oração de louvor e de bênção. Mas algo de novo acontece: Ele dá graças a Deus não só pelas grandes obras do passado; dá-Lhe graças pela sua própria exaltação que se realizará mediante a Cruz e a Ressurreição.
“Como pode Jesus distribuir o seu Corpo e o Seu Sangue? Fazendo do pão o seu Corpo e do vinho o seu Sangue, Ele antecipa a sua morte, aceita-a no seu íntimo e transforma-a numa acção de amor. O que externamente é violência brutal, de dentro torna-se um acto de amor que se dá totalmente. É esta a transformação substancial que se realizou no cenáculo e que se destinava a suscitar um processo de transformações cujo termo último é a transformação do mundo até que Deus seja tudo em todos. Desde sempre todos os homens de certo modo esperam no seu coração uma mudança, uma transformação do mundo.
“É este o único acto central de transformação capaz de renovar autenticamente o mundo: a violência transforma-se em amor, a morte – em vida. Este acto transmuta a morte em amor, a morte como tal está já superada no seu interior, nela está já presente a ressurreição.
“A morte é, por assim dizer, intimamente ferida, de tal modo que não será ela a última palavra. É esta, para usar uma imagem a nós bem conhecida, a fissão nuclear levada ao mais íntimo do ser – a vitória do amor sobre o ódio, a vitória do amor sobre a morte. Só esta íntima explosão do bem que vence o mal pode suscitar a cadeia de transformações que pouco a pouco irão transformando o mundo. Todas as outras transformações permanecem superficiais e não salvam. É por isso que nós falamos de redenção”.

Recordando que “esta primeira transformação fundamental da violência em amor, da morte em vita arrasta consigo outras transformações”, observou Bento XVI: “Pão e vinho tornam-se o seu Corpo e Sangue... dados a nós para que nós próprios sejamos por nossa vez transformados... no Corpo de Cristo, consanguíneos d’Ele... Deus não está apenas diante de nós, como o Totalmente Outro. Está dentro de nós, e nós estamos n’Ele. A sua dinâmica penetra-nos, para propagar-se aos outros e estender-se a todo o mundo, para que o seu amor se torne realmente a medida dominante do mundo”.
Neste contexto, o Papa – exprimindo-se em inglês - expôs de modo sugestivo a diferente acepção da palavra “adoração”, em grego e em latim:
“A palavra grega é proskynesis, que significa gesto de submissão, reconhecer a Deus como nossa verdadeira medida, cuja norma aceitamos seguir. E então liberdade não quer dizer gozar a vida, considerar-se absolutamente autónomos, mas sim orientar-se seguindo a medida da verdade e do bem, para nos tornarmos verdadeiros e bons...
“A palavra latina para ‘adoração’ é ad-oratio – contacto boca a boca, beijo, abraço, isto é – amor. A submissão torna-se união, porque aquele a quem nos submetmos é Amor. É assim que submissão adquire um sentido, porque não se nos impõe algo de exterior, mas nos liberta no mais íntimo do nosso ser”
A novidade que teve lugar na Última ceia, observou ainda o Papa, agora em francês, consistiu na nova profundidade da antiga oração de bênção, de Israel, que a partir dali se torna numa palavra de transformação e nos dá a participação na “hora” de Cristo.
« É por isso que nós designamos este acontecimento Eucaristia, tradução da palavra hebraica beracha, que significa acção de graças, louvor, bênção, e portanto transformação a partir do Senhor: presença da sua ‘hora’.
A hora de Jesus é a hora em que vence o amor. Por outras palavras: foi Deus que venceu porque Ele é amor. A hora de Jesus deve tornar-se a nossa hora e tornar-se-á se nós próprios, pela celebração da Eucaristia, nos deixarmos envolver neste processo de transformação que o Senhore tem em vista. A Eucaristia deve tornar-se o centro da nossa vida”.
Neste contexto, Bento XVI sublinhou a importância do Domingo, o Dia do Senhor, dia da Eucaristia, dia da renovação de toda a criação, insistindo na necessidade de não reduzir o domingo a mero “tempo livre”. O domingo é um dia vazio, se Deus não está presente – advertiu o Papa, dirigindo-se aos jovens. “Não vos deixeis dissuadir de participar na Missa dominical. Ajudai outros a descobrir o sentido do domingo. Descubramos a profunda riqueza da liturgia da Igreja e a sua verdadeira grandeza. Não somos nós que fazemos a festa, ao contrário: é o próprio Deus vivo que prepara uma festa para nós”.
Falando em italiano, o Papa exortou os jovens que encontraram Cristo a encaminhar para Ele os outros, até porque não se pode guardar para si uma grande alegria, há que a transmitir. “Em muitas partes do mundo, Deus é estranhamente esquecido. Parece que tudo vai igualmente bem sem Ele. Mas ao mesmo tempo existe um sentimento de frustração, de insatisfação. E as pessoas são levadas a dizer: não é possível que viver seja isto. E têm razão”.
Paralelamente a este afastamento de Deus, observou Bento XVI, existe também, como que um “boom” do “religioso”. Sem querer desacreditar tudo o que existe neste campo, o Papa quis pôr os jovens de sobreaviso sobre uma religião objecto de consumo:
“Muitas vezes a religião torna-se como que um produto de consumo. Escolhe-se aquilo que agrada, e há quem saiba tirar daí lucros... Mas a religião procurada desta maneira consumista ao fim e ao cabo não nos ajuda. É cómoda, mas nas horas críticas abandona-nos a nós mesmos.
“Ajudai os homens a descobrirem a verdadeira estrema que nos indica o caminho: Jesus Cristo! Procuremos nós próprios conhecê-Lo melhor para poder de modo convincente guiar também os outros para Ele”.
Neste contexto, o Papa recomendou o amor pela Sagrada Escritura, lida à luz da fé da Igreja, pois – observou – é o Espírito Santo que guia a Igreja na sua fé crescente, fazendo-a penetrar cada vez mais na profundidade da verdade. Bento XVI recomendou aos jovens presentes em Colónia o “Catecismo da Igreja Católica” e o recentemente publicado “Compêndio” dessa mesma obra.
Mas os livros não bastam. Há que viver a dimensão comunitária da vida cristã. Os frutos da Eucaristia hão-de manifestar-se na vida, na capacidade de perdão, nas actividades de voluntariado aos serviço dos que mais precisam. Se pensamos e vivemos em comunhão com Cristo, então abrem-se-nos os olhos. E então não nos resignaremos a arrastar a vida, em tom menor, pensando só em nós próprios, mas descobriremos onde e como poderemos pôr a nossa vida ao serviço dos outros, dando assim o testemunho que o mundo espera dos discípulos de Jesus Cristo.
No final da celebração, depois de ter agradecido a todos os que contribuiram para o êxito desta Jornada Mundial da Juventude, de Colónia, Bento XVI anunciou, como já referimos, que a próxima JMJ terá lugar daqui a três anos, na Austrália, em Sydney.
Entre as saudações finais, dirigidas em variadas línguas aos jovens presentes, não faltou uma em português: RealAudioMP3
“Saúdo também com afecto a juventude aqui presente que fala em português. Espero, meus caros jovens, que vivais sempre como amigos de Jesus, para experimentar a verdadeira alegria de ser filhos de Deus, e de comunicá-la aos vossos semelhantes, especialmente aos que padecem maiores dificuldades”.







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