2005-08-20 18:33:16

NO ENCONTRO COM MUÇULMANOS, BENTO XVI AFIRMA QUE RELIGIÃO NÃO PODE SER USADA COMO PRETEXTO PARA A PRÁTICA DO TERRORISMO


Colônia, 20 ago (RV) - Bento XVI encontrou-se hoje, na sede do Arcebispado de Colônia, com representantes de comunidades muçulmanas alemãs. Diverso foi o teor do discurso do Papa: enquanto ontem, à comunidade judaica, Bento XVI falou apenas de assuntos de caráter religioso, no discurso aos muçulmanos, hoje, o Santo Padre abordou questões sociais como, por exemplo, o terrorismo.

"Estou certo de interpretar também o vosso pensamento, ao colocar em evidência, entre as preocupações, aquela que nasce da constatação do difuso fenômeno do terrorismo" _ iniciou o Santo Padre.

Bento XVI frisou que continuam se repetindo, em várias partes do mundo, ações terroristas que disseminam morte e destruição, "levando muitos de nossos irmãos ao desespero" _ ressaltou.

Segundo o Santo Padre, os idealizadores desses atentados mostram querer envenenar as nossas relações, servindo-se de todos os meios, inclusive da religião, para se n oporem a todos os esforços de convivência pacífica, leal e serena. "O terrorismo, seja qual for sua matriz _ acrescentou o Pontífice _ é uma escolha perversa e cruel, que pisa no direito sacrossanto à vida e mina os fundamentos de toda convivência civil."

"Se juntos, conseguirmos extirpar dos corações, o sentimento de rancor, se conseguirmos contrastar toda forma de intolerância e se conseguirmos nos opor a toda manifestação de violência, frearemos a onda de fanatismo cruel que coloca em risco a vida de tantas pessoas, impedindo o progresso da paz no mundo" _ exortou o Santo Padre.

Bento XVI lembrou que esse é um trabalho árduo, mas não impossível, pois o fiel sabe que pode contar, apesar da própria fragilidade, com a força espiritual da oração.

O Papa mostrou-se profundamente convencido de que "devemos afirmar, sem ceder às pressões negativas do ambiente, os valores do respeito recíproco, da solidariedade e da paz, pois a vida de todos os seres humanos é sagrada, tanto para os cristãos como para os muçulmanos".

Para o Papa, a dignidade da pessoa e a defesa dos direitos que lhe são inerentes, devem constituir o objetivo de todo projeto social e de todo esforço. "Essa é uma mensagem que deve ser repetida, de maneira inconfundível, pela voz mansa, mas clara, da consciência. É uma mensagem que é preciso ouvir e fazer ouvir: se o seu eco se apagasse nos corações, o mundo estaria exposto às trevas de uma nova barbárie" _ sublinhou o Papa.

"Apenas no reconhecimento da centralidade da pessoa, se pode encontrar a base comum, superando eventuais contraposições culturais e neutralizando a força das ideologias" _ argumentou ainda o Santo Padre.

Para Bento XVI, a experiência do passado nos ensina que o respeito mútuo e a compreensão sempre marcaram as relações entre cristãos e muçulmanos. "Queremos procurar as vias da reconciliação e aprender a viver, respeitando a nossa mútua identidade. A defesa da liberdade, nesse sentido, é um imperativo constante e o respeito às minorias, uma marca indiscutível da verdadeira civilidade."

O Santo Padre recordou que o ensino é o veículo através do qual se comunicam idéias e convicções: "A grande palavra é a estrada-mestra na educação da mente. Vós tendes, portanto, grande responsabilidade na formação das novas gerações" _ destacou o Papa.

Bento XVI disse que muçulmanos e cristãos devem enfrentar juntos, os numerosos desafios do nosso tempo, sem deixar espaço para a apatia e a falta de empenho; e menos ainda à parcialidade e ao sectarismo.
 O Papa concluiu seu discurso, destacando a necessidade vital das relações islâmico-católicas e reafirmando que não podemos ceder ao medo e ao pessimismo. Ao contrário, o otimismo e a esperança devem ser cultivados, e o diálogo cristão-muçulmano não pode ser reduzido a uma escolha ocasional.
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Depois de se encontrar com os representantes das comunidades muçulmanas, Bento XVI visitou o Marienfeld (Campo de Maria), local onde será celebrada a missa de encerramento do XX Dia Mundial da Juventude, neste domingo. Durante a visita, o Santo Padre saudou os 600 bispos presentes em Colônia para o encontro.

Mais tarde, durante a vigília dos jovens com o Papa, Bento XVI voltou a recordar a figura dos Reis Magos que, após se prostrarem diante de Menino Jesus, alcançando a sua meta, davam início a uma nova caminhada. "O caminho exterior daqueles homens tinha terminado. Mas àquela altura, começava uma nova caminhada, uma peregrinação interior que mudou suas vidas."

Bento XVI explicou que os Reis Magos estavam à procura do Direito e da Justiça que devia vir de Deus e queriam servir aquele Rei, contribuindo assim, para a renovação do mundo. "Eles pertenciam àquele gênero de pessoas que "têm fome e sede de justiça" _ disse o Pontífice, citando o Evangelho de Mateus.

O Santo Padre recordou que "ainda que os outros homens, aqueles que permaneceram em casa, os consideravam utópicos e sonhadores, eles eram pessoas com os pés no chão, e sabiam que, para mudar o mundo, é necessário se desfazer do poder".

"O poder de Deus é diferente do poder dos potentes do mundo. O modo de agir de Deus é diferente de como nós o imaginamos e de como queríamos impô-lo também a Ele. Deus, desse modo, não entra em concorrência com as formas terrenas do poder" _ explicou o Papa.
 Segundo o Papa, a absolutização daquilo que não é absoluto mas sim relativo, se chama totalitarismo. "Não liberta o homem, mas lhe tira a dignidade e o escraviza. Não são as ideologias que salvam o mundo, mas apenas o dirigir-se ao Deus vivo, o garante da nossa liberdade, daquilo que é realmente bom e verdadeiro." (WM)







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