Na Vigilia de oração em Marienfeld, Bento XVI exorta os jovens a aprenderem o estilo
de Deus, a tornarem-se gente de verdade, de justiça, de bondade, de perdão, de misericórdia.
Como os Magos vindos do Oriente em peregrinação, assim os jovens estão chamados a
realizar uma “peregrinação interior”, para descobrir o verdadeiro rosto de Deus e
d’Ele aprender um novo estilo de comportamento. Neste percurso, os santos (conhecidos
ou desconhecidos) são os exemplos concretos que indicam o caminho para sermos felizes
e verdadeiramente humanos. São eles os autênticos revolucionários, não as ideologias.
Tudo isto o vivemos em Igreja, onde coexistem trigo e cizânia, mas que é a grande
família de Deus, espaço de comunhão e de unidade através de todos os continentes,
culturas e nações. - Estes os pontos fortes das vibrantes palavras dirigidas por
Bento XVI à imensa multidão de jovens congregados, em vigília, neste sábado à noite
na esplanada de Marienfeld.
Exprimindo-se, como na alocução do dia da chegada, nas cinco línguas desta JMJ (alemão,
inglês, francês, espanhol e italiano), o Papa partiu do exemplo dos Magos que se puseram
em movimento animados por uma inquietação e por uma esperança. Os Magos – observou
– eram pessoas com “fome e sede de justiça”. Eles fizeram-se peregrinos em busca da
justiça que esperavam de Deus, para se colocarem ao serviço da mesma. E a primeira
coisa que tiveram que fazer foi modificarem a ideia que tinham de Deus e do verdadeiro
poder:
“O poder de Deus é diferente do poder dos potentes do mundo. O modo de agir de Deus
não é como o imaginamos... Deus neste mundo não entra em concorrência com as formas
terrenas do poder... Ao poder rumoroso e prepotente, Jesus contapõe o poder inerme
do amor, que na Crus – e depois sempre de novo no decurso da história – sucumbe, e
todavia constitui a coisa nova, divina, que se opõe à injustiça e instaura o Reino
de Deus.”
Bento XVI exortou, pois, os jovens a “aprenderem o estilo de Deus”. Os Magos começam
a sentir-se “diferentes” quando advertem que Deus é diferente, diverso, daquilo que
imaginavam. E adoram o Menino, desejando ao mesmo tempo servir, n’Ele, a causa da
justiça e do bem no mundo. O que exige que se dêem eles próprios.
“Eles têm que aprender que a sua vida se deve conformar a este modo divino de exercer
o poder, a este modo de ser do próprio Deus. Devem tornar-se gente de verdade, de
justiça, de bondade, de perdão, de misericórdia. Em vez de se perguntarem Para que
é que isto me serve, terão que passar a perguntar-se: Como sirvo eu a presença de
Deus no mundo.”
Assim fizeram os santos, aquela inumerável série de discípulos de Jesus nos quais,
ao longo da história, o Senhor abriu diante de nós o seu Evangelho, desfolhando as
suas páginas. E continua a fazê-lo ainda hoje. Nas vidas dos santos, como num grande
livro ilustrado, se revela a riqueza do Evangelho.
« Nas vicissitudes da história, foram eles os verdadeiros reformadores que, muitas
vezes, fizeram sair a história dos vales obscuros em que corre sempre o risco de cair
de novo; eles iluminaram-na sempre que tal era necessário... É contemplando estas
figuras que nós aprendemos o que quer dizer ‘adorar’, o que quer dizer viver à medida
do Menino de Belém, à medida de Jesus Cristo e do próprio Deus”.
Como que numa variação sobre o mesmo tema, Bento XVI, passando a exprimir-se em espanho,
insistiu ainda:
“Só dos santos, só de Deus, provém a verdadeira revolução, a transformação decisiva
do mundo. No século passado vivemos revoluções cujo programa comum foi não esperar
nada de Deus, tomando totalmente nas mãos a causa do mundo para transformar as suas
condições... A absolutização do que não é absoluto... chama-se totalitarismo. Não
liberta o homem; pelo contrário, priva-o da sua dignidade e escraviza-o.
“Não são as ideologias que salvam o mundo, mas sim o dirigir o olhar para o Deus,
nosso criador, garante da nossa liberdade, garantia do que é realmente bom e autêntico.
A verdadeira revolução consiste unicamente em dirigir o olhar para Deus, que é a medida
do que é justo, e é também, ao mesmo tempo, o amor eterno. E o que é que nos pode
salvar, se não o amor?”
Quase a concluir a sua catequese aos jovens na vigília de oração desta JMJ, Bento
XVI referiu-se à Igreja “m que se revela o Deus vivo, sempre connosco e ao mesmo tempo
diante de nós”. Reconhecendo que se pode criticar muito a Igreja... que é uma rede
com peixes bons e maus, um campo com grão e com cizânia... , Bento XVI fez esta inesperada,
surpreendente, observação:
“No fundo, é consolador o facto de esistir cizânia na Igreja: assim também nós, com
todos os nossos defeitos, podemos esperar fazer parte dos seguidores de Jesus, que
chamou precisamente os pecadores. A Igreja é como uma família humana, mas é ao mesmo
tempo a grande família de Deus, mediante a qual Ele forma um espaço de comunhão e
de unidade através de todos os continentes, culturas e nações. Alegremo-nos portanto
de pertencer a esta grande família: alegremo-nos de ter irmãos e amigos em todo o
mundo. Precisamente aqui em Colónia fazemos a experiência de como é belo pertencer
a uma família vasta como o mundo.”