2005-05-28 14:26:19

Não proliferação nuclear sem acordo


O pessimismo anunciado confirmou-se: um mês de negociações em torno do Tratado de não Proliferação (TNP) não deu em nada. O objectivo, que reuniu representantes de 188 países na sede da ONU, em Nova Iorque, era encontrar mecanismos capazes de travar e regulamentar a disseminação das armas atómicas, mas, por uma razão ou por outra, nenhum dos projectos vingou em matéria de desarmamento, garantias sobre os programas nucleares nacionais e utilização pacífica da energia nuclear. O presidente da conferência que reuniu esta plêiade, o brasileiro Sérgio Duarte, resumiu, ontem, o seu estado de espírito: "É lamentável."
Sexta-feira, o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, lamentou o fracasso da conferência.
"O secretário-geral nota que os Estados membros falharam uma ocasião vital para reforçar a nossa segurança colectiva contra as numerosas ameaças nucleares, às quais todos os Estados e todos os povos são vulneráveis", afirmou o seu porta-voz em comunicado.

Numa altura em que o mundo toca a rebate perante os programas nucleares da Coreia do Norte e do Irão, falaram mais alto as divergências entre Estados, com os EUA, por exemplo, a concentrarem-se no risco de terrorismo nuclear, negligenciando o desarmamento. Isto depois de, na anterior conferência, realizada em 2000, ter sido aceite um plano de desarmamento em 13 etapas.
Já o Irão, cujo programa de enriquecimento de urânio é temido pela comunidade internacional, insistiu no sentido de lhe ser reconhecido o direito de produzir tecnologia nuclear para fins pacíficos. A Coreia do Norte, que anunciou já dispor de armas nucleares, não disse de sua justiça porque, pura e simplesmente, retirou-se deste fórum em 2003.
Israel, que não é signatário do TNP, esteve sempre, segundo analistas, na mira dos representantes egípcios, a eles se ficando a dever, em grande medida, os bloqueios nas negociações. Insistiram que fosse decidida "uma espécie de embargo às transferências de material e de tecnologia para Israel, bem como uma interdição de os cientistas se deslocarem a este país", explicou um diplomata ocidental. Talvez por isso a Administração Bush tenha sido criticada. " Outra interpretação foi dada por um diplomata ocidental impor restrições a Israel, directa ou indirectamente, "é uma coisa que os EUA e outros países do Ocidente não podiam aceitar. O Egipto queria tudo ou nada".
O fracasso desta conferência não causou surpresa, porém. Estava escrito. Adiado fica, pois, o objectivo inicial de os Estados já dotados de armas nucleares aceitarem o desarmamento, enquanto os restantes se comprometeriam a não adquirir essas armas. Por meios legais ou ilegais. Até porque está ainda muito presente a rede ilegal de venda deste tipo de armamentos montada pelo cientista Abdul Qadeer Khan, verdadeiro herói nacional do Paquistão. Khan, "pai" da bomba atómica paquistanesa, vendeu os seus conhecimentos e tecnologias a vários países.







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