O pessimismo anunciado confirmou-se: um mês de negociações em torno do Tratado de
não Proliferação (TNP) não deu em nada. O objectivo, que reuniu representantes de
188 países na sede da ONU, em Nova Iorque, era encontrar mecanismos capazes de travar
e regulamentar a disseminação das armas atómicas, mas, por uma razão ou por outra,
nenhum dos projectos vingou em matéria de desarmamento, garantias sobre os programas
nucleares nacionais e utilização pacífica da energia nuclear. O presidente da conferência
que reuniu esta plêiade, o brasileiro Sérgio Duarte, resumiu, ontem, o seu estado
de espírito: "É lamentável."
Sexta-feira, o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, lamentou o fracasso da conferência.
"O secretário-geral nota que os Estados membros falharam uma ocasião vital para reforçar
a nossa segurança colectiva contra as numerosas ameaças nucleares, às quais todos
os Estados e todos os povos são vulneráveis", afirmou o seu porta-voz em comunicado.
Numa altura em que o mundo toca a rebate perante os programas nucleares da Coreia
do Norte e do Irão, falaram mais alto as divergências entre Estados, com os EUA, por
exemplo, a concentrarem-se no risco de terrorismo nuclear, negligenciando o desarmamento.
Isto depois de, na anterior conferência, realizada em 2000, ter sido aceite um plano
de desarmamento em 13 etapas.
Já o Irão, cujo programa de enriquecimento de urânio é
temido
pela comunidade internacional, insistiu no sentido de lhe ser reconhecido o direito
de produzir tecnologia nuclear para fins pacíficos. A Coreia do Norte, que anunciou
já dispor de armas nucleares, não disse de sua justiça porque, pura e simplesmente,
retirou-se deste fórum em 2003.
Israel, que não é signatário do TNP, esteve sempre, segundo analistas, na mira dos
representantes egípcios, a eles se ficando a dever, em grande medida, os bloqueios
nas negociações. Insistiram que fosse decidida "uma espécie de embargo às transferências
de material e de tecnologia para Israel, bem como uma interdição de os cientistas
se deslocarem a este país", explicou um diplomata ocidental. Talvez por isso a Administração
Bush tenha sido criticada. " Outra interpretação foi dada por um diplomata ocidental
impor restrições a Israel, directa ou indirectamente, "é uma coisa que os EUA e outros
países do Ocidente não podiam aceitar. O Egipto queria tudo ou nada".
O fracasso desta conferência não causou surpresa, porém. Estava escrito. Adiado fica,
pois, o objectivo inicial de os Estados já dotados de armas nucleares aceitarem o
desarmamento, enquanto os restantes se comprometeriam a não adquirir essas armas.
Por meios legais ou ilegais. Até porque está ainda muito presente a rede ilegal de
venda deste tipo de armamentos montada pelo cientista Abdul Qadeer Khan, verdadeiro
herói nacional do Paquistão. Khan, "pai" da bomba atómica paquistanesa, vendeu os
seus conhecimentos e tecnologias a vários países.