Católicos e anglicanos dão passo importante para normalizar relações
A Igreja Católica e a Comunhão Anglicana assinam nesta segunda feira um documento
conjunto, em Seattle, sobre o lugar e a importância de Maria na Igreja. A declaração
“Maria Graça e Esperança em Cristo” é um passo importante para a normalização das
relações entre as duas confissões, bastante afectadas pela ordenação de um Bispo homossexual
na Igreja episcopaliana (ramo anglicano nos EUA).
O documento, é o fruto do trabalho da Comissão Internacional Anglicano-Católica (ARCIC,
siglas em inglês). O documento discute a problemática dos dogmas católicos, pelo que
poderá vir a ser interessante não só para o diálogo católico-anglicano, mas também
para o diálogo com todas as comunidades surgidas da Reforma.
A Comissão Internacional Anglicano-Católica concluiu a redacção deste documento em
Fevereiro de 2004, tendo sido depois submetido ao Conselho Pontifício para a Promoção
da Unidade dos Cristãos e ao Conselho Consultivo Anglicano. A compreensão da figura
de Maria na Igreja “foi objecto de profunda controvérsia entre anglicanos e católicos”,
constatava um comunicado da Comissão.
As conversações, decorridas em Seattle, giraram à volta dos dogmas católicos da Imaculada
Conceição e da Assunção, no contexto mais amplo da reflexão teológica e das Escrituras
sobre Maria.
A publicação de “Maria: Graça e Esperança em Cristo” encerrará a segunda fase do trabalho
da Comissão Internacional Anglicano-Católica, que foi estabelecida em 1982 por João
Paulo II e pelo arcebispo Robert Runcie.
Nos últimos vinte anos, a Comissão publicou outras quatro declarações: “Salvação e
a Igreja” (1987), “A igreja como comunhão” (1991), “Vida em Cristo” (1994) e “O dom
da autoridade” (1999). Relações tensas
O Conselho Pontifício para a promoção da Unidade dos Cristãos admite em comunicado
que as relações entre as duas Igrejas foram muito afectadas pelas “repercussões provocadas
pelos recentes desenvolvimentos verificados no âmbito do Anglicanismo da América do
Norte”.
A Comissão conjunta católico-anglicana para a Unidade e a Missão vai retomar os seus
trabalhos numa data próxima, anunciou o Vaticano. Os trabalhos deste importante organismo
ecuménico tinham sido suspensos em 2003 após a referida ordenação de um Bispo homossexual
na Igreja Episcopaliana e da decisão da Igreja Anglicana no Canadá de abençoar uniões
homossexuais.
O Conselho Pontifício para a promoção da Unidade dos Cristãos considera que o ensinamento
dos Primazes da Comunhão Anglicana sobre a homossexualidade e os seus esforços para
“assegurar que as decisões individuais das dioceses não violam os limites da Comunhão”
oferecem, neste momento, uma base suficiente para “continuar o diálogo e a cooperação
ecuménica”.
Os referidos desenvolvimentos na vida da igreja Anglicana provocaram o congelamento
do diálogo entre esta e a Igreja Católica. A decisão afectou, sobretudo, a publicação
e recepção de uma declaração conjunta sobre a Fé que tinha sido preparada pela Comissão
Internacional Anglicana-Católica Romana para a Unidade e a Missão (IARCCUM).
A Comissão Internacional Anglicana-Católica Romana (ARCIC) desenvolveu, por seu lado,
uma reflexão, a pedido do arcebispo Rowan Williams da Cantuária, sobre os problemas
levantados depois da polémica suscitada em Agosto de 2003 com a designação e posterior
ordenação de Gene Robinson - que convive com um homem há 13 anos, após ter-se divorciado
- como bispo da diocese anglicana de New Hampshire.
A ARCIC, nascida em 1970, é o principal instrumento do diálogo teológico entre a Igreja
Católica e a Comunhão Anglicana, enquanto que o IARCCUM, estabelecido em 2001, é um
corpo liderado por bispos que pretende criar iniciativas práticas para dar expressão
aos pontos comuns entre as duas confissões cristãs.