Revolta no Usbequistão pode alastrar a toda a Ásia central
A violenta repressão das autoridades do Usbequistão sobre os autores da revolta que
sexta-feira eclodiu em Andijan, quarta maior cidade do país (com 300 mil habitantes),
provocou um número ainda indeterminado de mortos e levou à fuga de muitos habitantes
para os países vizinhos.
As chancelarias ocidentais, manifestam-se preocupadas com uma revolta que o Presidente
Islam Karimov - e a Rússia - classifica como "tentativa de desestabilização" da Ásia
Central.
Também a Comissão Europeia e a NATO reagiram aos acontecimentos, com a primeira organização
a defender a resolução do caso através do diálogo e a segunda a mostrar-se "inquieta".
A Casa Branca também apelou à calma.
A revolta iniciou-se na noite de quinta-feira, quando algumas dezenas de revoltosos
roubaram armas de um quartel militar, assaltaram a prisão de alta segurança e ocuparam
o edifício do Governo.
Na origem dos protestos, a que se juntaram milhares de manifestantes, esteve o julgamento
de 23 homens de negócios, acusados de terem fundado uma célula terrorista ligada ao
ilegalizado partido islamita Hizbi Tahrir. A ameaça terrorista constitui o argumento
do regime para justificar a repressão.
A violência dos confrontos levou muitos usbeques a fugir para a fronteira com países
vizinhos no Vale de Fergana (um grande centro de propagação do isla- mismo radical
na Ásia Central).
Analistas citados pela AFP alertavam neste sábado para o risco de a revolta, em parte
motivada pelos índices de pobreza e opressão, alastrar - apoiada no radicalismo islâmico
- pelo chamado "efeito dominó" a todo o ex-Turquestão sovié tico (actuais Cazaquistão,
Turquemenistão, Tajiquistão, Quirguízia e Usbequistão).
A importância estratégica da região para os EUA e a sua crescente presença por causa
da luta contra o terrorismo também estão a exacerbar os ânimos, até porque Washington
fecha os olhos às práticas ditatoriais dos líderes locais (formados no regime soviético).