Aprender as lições da 2ª guerra mundial: na ONU a Santa Sé pede a constituição de
uma comissão inter-governativa de pacificação
O Vaticano teme que 60 anos depois, muitos tenham sido os que se esqueceram das lições
trágicas da II Guerra Mundial. Num discurso publicado pela Santa Sé, o representante
do Papa na ONU, D. Celestino Migliore, associou-se às Jornadas oficiais da Memória
e Reconciliação, por ocasião do 60º aniversário do final desse conflito.
“O reconhecimento da natureza trágica e devastadora da guerra leva-nos a interrogar-nos
não só se uma guerra é legal e legítima, mas sobretudo se pode ser evitada”, assinalou
o observador permanente da Santa Sé.
D. Celestino Migliore pediu, neste sentido, que a ONU institua “uma comissão inter-governativa
de pacificação” como forma de reforçar o papel das Nações Unidas enquanto construtora
da paz.
Apesar de aceitar que, em algumas circunstâncias, pode ser inevitável “um uso limitado
da força, estritamente condicionado”, a Santa Sé indica que hoje em dia “são possíveis
soluções pacíficas, pelo que não devemos poupar-nos a esforços para encontrá-las”.
A reflexão da Santa Sé sobre o direito da guerra, tão em foco após a recente intervenção
militar no Iraque, apresentou como “única condição admissível para o uso da força”
a actuação “rápida e eficaz" que restabeleça uma paz "justa e duradoura”.
“É preciso, por isso, reforçar e alargar os instrumentos legais existentes, relativos
à condução e ao desenvolvimento da actividade pós-bélica, ao mesmo tempo que se devem
ter em conta os parâmetros éticos que a consciência e sensibilidade modernas desenvolveram”,
acrescentou o Núncio nas Nações Unidas.
Classificando a II Guerra Mundial como “um conflito terrível”, o representante católico
frisou a necessidade de “recordar que esta foi a pior das numerosas catástrofes globais
inúteis provocadas pelo homem, as quais transformaram o séc. XX num dos piores que
a humanidade alguma vez conheceu”.
O discurso do Arcebispo Migliore assinalou que as causas deste conflito estiveram
“na exaltação do Estado e da raça, na orgulhosa auto-suficiência da humanidade fundada
na manipulação da ciência e da tecnologia, e no princípio da força”.