Em Timor Leste, Igreja e governo em rota de colisão: manifestação em Dili.
Cerca de duas mil pessoas concentraram-se nesta terça feira junto ao palácio do Governo
timorense, em Díli, numa manifestação não autorizada pelas autoridades, e convocada
pela Igreja Católica contra a política do governo dirigido por Mari Alkatiri, nomeadamente
a intenção de retirar à disciplina de Religião o actual peso curricular que detém
para passar a ser facultativa.
Ao longo do percurso realizado desde o Paço Episcopal de Díli até à sede do governo,
os manifestantes foram sempre acompanhados pela polícia. O porta-voz do episcopado
timorense, Padre Domingos Soares, criticou o governo por não ter autorizado a manifestação
e estar a transformar o país numa ditadura.
O bispo de Díli, D. Alberto Ricardo da Silva, acusou também o governo de ordenar a
detenção de cerca de 200 pessoas que se deslocaram de localidades do interior para
participarem na manifestação, sendo que o executivo refuta estas acusações alegando
que a polícia se limitou a actuar de acordo com os procedimentos usuais nestas circunstâncias.
As autoridades defendem-se argumentando que a manifestação não foi autorizada em virtude
de o pedido de autorização só ter entrado segunda-feira no Comando Geral da Polícia
Nacional de Timor-Leste, com o primeiro-ministro Mari Alkatiri a afirmar que a manifestação
não ajuda em nada à criação de condições para o diálogo.
A realização desta manifestação culmina cerca de dois meses de "diálogo de surdos"
entre a Igreja e o Governo, com troca de Notas Pastorais e comunicados.
Numa Nota Pastoral distribuída esta segunda feira, a hierarquia da Igreja timorense
critica as "democracias marxistas de modelo chinês ou terceiro-mundista retrógrado",
numa alusão ao Governo do primeiro-ministro Mari Alkatiri.
A Nota Pastoral diz que a Igreja não acredita em "marxistas convertidos à pressa"
e que é partidária de uma "verdadeira democracia que garanta a implementação do Estado
de Direito, no quadro da separação de poderes garantida pela Constituição".
Questionado sobre a situação vivida em Díli, o presidente timorense, Xanana Gusmão,
fez saber que está a acompanhar o que se passa, mas recusou pronunciar-se sobre a
manifestação organizada pela Igreja Católica com o argumento de que a resolução do
problema é da responsabilidade do governo.