2005-04-18 11:05:53

Para não permanecer "infantil na fé" há que resistir á "ditadura do relativismo",salientou o Card. Ratzinger na homilia da Missa pela eleição do Papa.


Na manhã desta segunda feira foi celebrada na Basilica de S.Pedro uma solene eucaristia pela eleição do Papa, daquele que será escolhido para substituir João Paulo II no governo da Igreja de Roma,e como sucessor de Pedro na chefia da Igreja Universal.

Concelebrada por todos os cardeais a Santa Missa foi presidida pelo Card. José Ratzinger na sua qualidade de Decano do Colégio Cardinalicio.

Para não permanecer “infantil na fé” há que resistir à “ditadura do relativismo” que se tem vindo a constituir. Caminhar em direcção à “maturidade em Cristo”, à “medida da plenitude de Cristo”, ser realmente adulto na fé” – recordou o cardeal Ratzinger na sua homilia, comentando a segunda leitura da Missa, da Epístola aos Efésios – significa não se deixar “agitar pelas ondas, levados de cá para lá por qualquer vento de doutrina” (segundo a expressão de São Paulo). “Uma discrição bem actual”, advertiu...

“Quantos ventos de doutrina fomos conhecendo nestas últimas décadas, quantas correntes ideológicas, quantas modas de pensamento... A pequena barca do pensamento de muitos cristãos foi frequentemente agitadas por estas ondas, atirada dum extremo ao outro: do marxismo ao liberalismo, até ao libertinismo; di colectivismo ao individualismo radical; do ateísmo a um vago misticismo religioso; do agnosticismo ao sincretismo e assim por diante.”

“Ter uma fé clara, segundo o Credo da Igreja, é muitas vezes etiquetado de fundamentalismo. Ao passo que o relativismo (isto é, o deixar-se levar “de cá para lá por qualquer vento de doutrina”) aparece como a única atitude à altura dos tempos modernos. Vai-se constituindo uma ditadura do relativismo que não reconhece nada como definitivo e que deixa como última medida só o próprio eu e o que lhe apetece”.

Ora, sublinhou o cardeal Ratzinger, a nossa medida é outra: é “o Filho de Deus, o verdadeiro homem”. “É Ele a medida do verdadeiro humanismo”. Uma fé adulta é “uma fé profundamente radicada na amizade com Cristo, que nos abre a tudo o que é bom e nos dá o critério para discernir entre verdadeiro e falso, entre engano e verdade. É esta fé adulta que devemos maturar, é a esta fé que devemos guiar o rebanho de Cristo “. Só esta fé – só a fé – cria unidade e ser realiza na caridade.

O decano do colégio cardinalício recordou, neste contexto, a bela expressão paulina, “fórmula fundamental da existência cristã”: “fazer a verdade na caridade”. “Em Cristo, a verdade e a caridade coincidem. Na medida em que nos aproximamos de Cristo, na nossa vida, fundem-se a verdade e a caridade”.

Comentando, na parte inicial da homilia desta Missa “pela eleição do Romano Pontífice”, a primeira leitura, do capítulo 61 do Livro de Isaías, o cardeal Ratzinger comentou especialmente o “dia de vingança para o nosso Deus” que o Profeta associa ao “anúncio do ano de misericórdia”. Duas expressões aparentemente contraditórias. E de facto, Jesus omitiu a primeira delas, na sua leitura do texto profético, na sinagoga de Nazaré. Como nos recordou o Santo Padre (João Paulo II), a misericórdia divina põe um limite ao mal”. “Jesus Cristo é a misericórdia divina em pessoa: encontrar Cristo significa encontrar a misericórdia de Deus”. É esse o mandato recebido através da unção sacerdotal.

Contudo, advertiu o decano dos cardeais, “a misericórdia de Cristo não é uma graça barata, não supõe a banalização do mal. Cristo leva no seu corpo e alma o peso do mal, toda a sua força destrutiva. Ele queima e transforma o mal no sofrimento, no fogo do seu amor sofredor”. É “esta a vingança de Deus: ele próprio, na pessoa do Filho, sofre por nós. Quanto mais somos tocados pela misericórdia do Senhor, tanto mais entramos em solidariedade com o seu sofrimento – disponibilizando-nos a completar na nossa carne “o que falta aos sofrimentos de Cristo”.

Finalmente, comentando o Evangelho da Missa, do capítulo 15 de S. João – com as palavras de Jesus “amai-vos uns aos outros como Eu vos amei” e “não fostes vós que me escolhestes, fui Eu que vos escolhi e vos enviei para dardes fruto” – o cardeal Ratzinger observou: “Quanto mais amamos Jesus, quanto mais O conhecemos, tanto mais cresce em nós a verdadeira liberdade, a alegria de sermos redimidos”. “Devemos ser animados por uma santa inquietação: a inquietação de levar a todos o dom da fé, da amizade com Cristo. Na verdade o amor, a amizade de Deus é-nos dada para que chegue também aos outros”. “O nosso ministério é um dom de Cristo aos homens, para construir o seu corpo – o mundo novo.” “Nesta hora de grande responsabilidade”, “rezemos com insistência ao Senhor para que, depois do grande dom do Papa João Paulo II, nos dê de novo um pastor segundo o seu coração, um pastor que nos guia ao conhecimento de Cristo, ao seu amor, à verdadeira alegria. Amen!”








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