2005-04-08 12:28:55

"João Paulo II ofereceu a sua vida por toda a familia humana"-disse o cardeal José Ratzinger na homilia das exéquias do Pontifice.


Écom o coração cheio de tristeza, mas também de jubilosa esperança e de profunda gratidão” que “hoje depomos na terra, como semente de imortalidade, os restos mortais” do “nosso saudoso e amado Papa João Paulo II”: palavras do cardeal Joseph Ratzinger, que presidiu nesta sexta-feira de manhã, na Praça de São Pedro, às solenes exéquias do pontífice, perante uma multidão incontável e 200 delegações oficiais do mais alto nível, provenientes de todo o mundo. O decano do Colégio Cardinalício sublinhou que “foi o amor de Cristo a força dominante do nosso amado Santo Padre”. Foi “graças a este profundo enraízamento em Cristo” que ele pôde carregar um peso que vai para além das forças puramente humanas: ser pastor do rebanho de Cristo, da Igreja universal”.
A homilia desta solene celebração exequial integrou uma leitura evocativa de alguns passos salientes da vida do Papa defunto a partir das palavras evangélicas que mais a inspiraram e marcaram, a começar por aquele “Segue-me!” que o Senhor ressuscitado dirigiu a Pedro, confiando-lhe as suas ovelhas. “Segue-me: esta palavra lapidar de Cristo – observou o cardeal Ratzinger – pode ser considerada a chave para compreender a mensagem que vem da vida do nosso saudoso e amado João Paulo II”.
Em variados escritos autobiográficos em que ele evocou a sua vocação ao ministério, interpretando o seu sacerdócio a partir de três palavras do Senhor. Antes de mais: “Não fostes vós que me escolhestes. Fui eu que vos escolhi a vós para irdes e dardes fruto e para que o vosso fruto permaneça”. A segunda palavra é: “O bom pastor oferece a vida pelas ovelhas”. E finalmente: “Como o Pai me amou, assim também eu vos amei. Permanecei no meu amor”.
“Nestas três palavras vemos toda a alma do nosso Santo Padre. Ele foi realmente por toda a parte e incansavelmente para produzir fruto, um fruto que permanece. Levantai-vos, vamos! É o título do seu penúltimo livro. Levantai-vos. Vamos! – foi com estas palavras que ele nos despertou de uma fé adormecida, do sono dos discípulos de ontem e de hoje. Levantai-vos. Vamos! Nos diz também hoje a nós”.
“O Santo Padre foi profundamente sacerdote até ao fim, porque ofereceu a sua vida a Deus pelas suas ovelhas, pelas ovelhas de todo o mundo, numa doação quotidiana ao serviço da Igreja e sobretudo nas difíceis provações dos últimos meses. Foi assim que ele se tornou uma só coisa com Cristo, o bom pastor que ama as suas ovelhas”.
“Finalmente - Permanecei no meu amor! O Papa que procurou o encontro com todos que teve uma capacidade de perdão e de abertura de coração para todos, diz-nos, também hoje, com estas palavras do Senhor, que é permanecendo no amor de Cristo que nós aprendemos, na escola de Cristo, a arte do verdadeiro amor”.
O cardeal Ratzinger sublinhou também as sucessivas renúncias que a chamada ao episcopado, num primeiro momento, e depois ao ministério petrino, impuseram ao jovem padre Karol, em 1958, e, vinte anos depois, em 1978, ao arcebispo de Cracóvia. Renúncias generosamente aceites em obediência a Cristo Pastor, tendo bem consciência da palavra Quem procura salvar a sua vida, perdê-la-á, mas quem perder a sua vida, salvá-la-á:
“O nosso Papa – bem o sabemos todos nós – nunca quis salvar a própria vida, mantê-la para si; ele quis dar-se a si mesmo sem reservas, até ao último momento, por Cristo e por nós. E foi precisamente deste modo que ele pôde fazer a experiência de que tudo o que tinha entregue nas mãos do Senhor lhe era devolvido de um novo modo: o amor à palavra, à poesia, às letras, foi uma parte essencial da sua missão pastoral e deu nova frescura, nova actualidade, nova atracção ao anúncio do Evangelho, precisamente mesmo quando este é sinal de contradição”.
Na parte conclusiva da homilia, repetidamente interrompida por aplausos, o cardeal Ratzinger quis ainda evocar as duas primeiras leituras proclamadas nesta Missa. “Na primeira leitura, São Pedro diz-nos (e com São Pedro, o Papa): “Em verdade estou dando-me conta de que Deus não faz preferências de pessoas, mas quem o teme e pratica a justiça, a qualquer povo pertença, é por Ele aceite. Esta é a palavra que enviou aos filhos de Israel, levando a boa-nova de paz, por meio de Jesus Cristo, que é Senhor de todos”. E na segunda leitura, São Paulo ( e com São Paulo o nosso Papa defunto) nos exorta a alta voz: ”Irmãos caríssimos, minha alegria e minha coroa, permanecei firmes no Senhor, tal como aprendestes, caríssimos”.
E a concluir, regressando de novo ao Evangelho escolhido para esta Missa exequial (final de S.João), o cardeal Ratzinger evocou aquelas as palavras de Jesus a Pedro Quando eras jovem... ias aonde querias, mas quando serás velho estenderás as mãos e um outro te cingirá a veste e te levará aonde tu não queres”.
“No primeiro período do seu pontificado o Santo Padre, ainda jovem e cheio de forças, guiado por Cristo, ia até aos confins do mundo. Mas depois foi entrando cada vez mais na comunhão dos sofrimentos de Cristo, e compreendeu cada vez mais a verdade das palavras Um outro te cingirá... E foi precisamente nesta comunhão com o Senhor sofredor que ele anunciou incansavelmente e com renovada intensidade o Evangelho, o mistério do amor que vai até ao fim”
Finalmente, uma referência a dois aspectos centrais na espiritualidade pessoal de João Paulo II: a divina misericórdia e o amor a Maria. “Ele (observou o cardeal Ratzinger) interpretou para nós o mistério pascal como mistério da misericórdia divina, como escreveu no seu último livro: O limite imposto ao mal é, em última análise, a misericórdia divina.
“O reflexo mais puro da misericórdia divina, encontrou-o o Santo Padre na Mãe de Deus... Ele, que tinha perdido em tenra idade a sua própria mãe, sentiu como dirigidas pessoalmente a si próprio as palavras do Senhor crucificado: Eis a tua Mãe. E fez como o discípulo predilecto: acolheu-a no íntimo do seu ser. “Totus tuus”. E da Mãe aprendeu a conformar-se a Cristo”.
Recordando o inesquecível gesto do Papa no domingo de Páscoa, marcado pelo sofrimento, assomando ainda uma vez à janele e dando pela última vez a bênção “Urbi et Orbi”, o cardeal Ratzinger concluiu a sua homilia numa alusão directa ao Papa defunto, no que constituiu ao mesmo tempo uma encomendação a Deus e uma invocação da sua bênção, dos céus:
“Podemos ter a certeza de que o nosso amado Papa está agora à janela da casa do Pai, nos vê e nos abençoa. Sim, abençoe-nos. Sim, dê-nos a sua bênção, Santo Padre. Confiamos a tua cara alma à Mãe de Dus, tua Mãe, que te guiou em cada dia e ti guiará agora à glória eterna do Seu Filho, Jesus Cristo nosso Senhor. Amen”













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