"Na vida e na morte pertencemos ao Senhor"-Testamento espiritual de João Paulo II
“Desejo mais uma vez confiar-me totalmente à graça do Senhor. Ele próprio decidirá
quando e como deve concluir a minha vida terrena e o ministério pastoral. Na vida
e na morte “totus tuus”, mediante a Imaculada” – escrevia João Paulo II em 1982, numa
das páginas do seu testamento espiritual, publicado nesta quinta-feira, 7 de Abril.
“Aceitando desde já a morte, espero que Cristo me dê a graça da última passagem, isto
é, a Páscoa. Espero também que a torne útil para a mais importante causa que procuro
servir: a salvação dos homens, a salvaguarda da família humana - de todas as nações
e povos... a bem da Igreja e para glória de Deus”.
Noutra passagem, em folha não datada, escrevia o Papa Woytjla: “Exprimo a mais profunda
confiança em que, apesar de toda a minha debilidade, o Senhor me concederá todas
as graças necessárias para enfrentar, segunda a Sua vontade, toda e qualquer tarefa,
provação e sofrimento que Ele queira exigir ao seu servo, no decurso da vida”.
A parte inicial do Testamento de João Paulo II remonta ao primeiro retiro como Papa,
em Março de 1979, seis meses após o início do pontificado. O pontífice refere “não
deixar nenhuma propriedade de que seja preciso dispor”. Quanto às coisas de uso quotidiano
de que se servia, pede que sejam distribuídas como se ache mais oportuno. Os apontamentos
pessoais devem ser queimados, tarefa que confia ao secretário, padre Estanislau, ao
qual agradece expressamente pela fiel colaboração ao longo de tantos anos. Quanto
ao funeral, João Paulo II faz suas as disposições adoptadas por Paulo VI. Em nota
à margem (1992), o Pontífice exprime o desejo de ser sepultado, como o Papa Montini,
“na terra, não num sarcófago”.
Na última parte do Testamento espiritual de João Paulo II, redigida no Ano 2000, o
Papa exprimia a questão de consciência que se lhe colocava, nesse momento, em razão
do precário estado de saúde. Chegado aos oitenta anos, perguntava-se se não seria
tempo de repetir com o bíblico Simeão “Nunc dimitis”. Recordando o atentado de 13
de Maio de 1981, o Papa Woytyla declarava a sua convicção de ter sido miraculosamente
salvo da morte, observando: “Aquele que é o único senhor da vida e da morte, Ele próprio
me prolongou esta vida, num certo sentido, deu-me-la de novo... Espero que que Ele
me ajudará a reconhecer até quando devo continuar este serviço, ao qual me chamou
no dia 16 de Outubro de 1978. Peço-Lhe que se digne chamar-me quando Ele próprio quiser.
“Na vida e na morte, pertencemos ao Senhor... somos do Senhor”. Espero que, enquanto
me for concedido realizar o serviço petrino na Igreja, a Misericórdia de Deus queira
dar-me as forças necessárias para este serviço”.