Foi João Paulo II a chamar a Igreja de hoje a ser a casa da misericórdia-sublinhou
o cardeal Sodano na homilia da Missa de sufrágio pelo Papa João Paulo II na Praça
de S. Pedro
Viver com serenidade este momento de luto e separação, “com o olhar centrado em Cristo,
única razão da nossa esperança”, como João Paulo II sempre testemunhou, foi o convite
dirigido, na homilia, pelo cardeal Angelo Sodano, visivelmente comovido, à assembleia
que enchia completamente a vasta Praça de S. Pedro:
“Ao longo de um quarto de século, João Paulo II levou a todas as praças do mundo
o Evangelho da esperança cristã, a todos ensinando que a nossa morte não é senão uma
passagem para a pátria do céu. Lá se encontra o nosso destino eterno, onde nos aguarda
Deus nosso Pai”. E é assim que “o sofrimento do cristão logo se transforma numa atitude
de profunda serenidade”.
Perante uma assembleia que sublinhava estas palavras com um aplauso comovido, o cardeal
Sodano abriu um parêntesis de testemunho pessoal, referindo ter podido constatar,
da parte do Santo Padre, nos seus últimos momentos, esta mesma serenidade, “a serenidade
dos santos”.
Uma atitude que provém da fé naquele que disse “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem
crê em mim, não morrerá para sempre”. É a fé que “nos convida a levantar a cabeça
para olhar ao longe, para olhar para o alto. E é assim que se explica a alegria do
cristão em cada momento da sua vida”.
O cristão sabe que, não obstante seja pecador, não lhe falta a misericórdia de Deus
Pai que o aguarda – como recorda a festa da Misericórdia Divina, instituída precisamente
por João Paulo II (neste domingo), para sublinhar este aspecto tão consolador do mistério
cristão.
Recordada a Encíclica “Dives in misericordia”, publicada pelo Papa defunto, logo no
terceiro ano do seu pontificado, em 1980, convidando a dirigir o olhar para o Pai
... misericordioso e Deus de toda a consolação, para Maria, Mãe de misericórdia.
E “foi o mesmo nosso amado Papa – sublinhou o cardeal Sodano - a chamar a Igreja de
hoje a ser a casa da misericórdia para acolher todos os que têm necessidade de ajuda,
de perdão e de amor”
“Quantas vezes, nestes 26 anos, o Papa repetiu que as relações mútuas entre os homens
e entre os povos não se podem basear apenas na justiça, mas devem ser aperfeiçoados
pelo amor misericordioso que é típico da mensagem cristã”.
“A todos, João Paulo II repete mais uma vez as palavras de Cristo: ‘O Filho do Homem
veio ao mundo não para o julgar, mas para o salvar’. Ele difundiu no mundo este Evangelho
de salvação, convidando toda a Igreja a inclinar-se sobre o homem de hoje para o
abraçar e o elevar com amor redentor. É nossa tarefa acolher a mensagem que ele nos
deixou e fazê-la frutificar para a salvaçáo do mundo”.
No final da celebração eucarística, antes do canto da antífona mariana “Regina Coeli”,
o arcebispo Leonardo Sandri pronunciou uma alocução escrita por João Paulo II para
o II domingo da Páscoa, em circunstância anterior.
Recordando “o mistério de amor que está no centro da liturgia deste domingo, dedicada
ao culto da Misericórdia Divina”, observava o Papa (nas palavras evocadas no final
desta Missa):
“À humanidade, que por vezes parece extraviada e dominada pelo poder do mal, do egoísmo
e do medo, o Senhor ressuscitado oferece em dom o seu amor que perdoa, reconcilia
e reabre o espírito à esperança. É o amor que converte os corações e dá a paz. Quanta
necessidade tem o mundo de compreender e de acolher a Misericórdia Divina.
Senhor, que com a tua morte e ressurreição revelas o amor do Pai, nós acreditamos
em Ti e com confiança te repetimos, neste dia de hoje: Jesus, confio em Ti, tem misericórdia
de nós e do mundo inteiro! ”