Em risco a qualidade da vida sobre a terra:um relatorio de avaliação dos ecosistemas
aponta também para o aumento da pobreza e dos conflitos sociais.
Dois terços dos ecossistemas que suportam a vida na Terra estão degradados e podem
levar ao aumento do surgimento e prevalência de várias doenças, alertaram especialistas
internacionais, num relatório e síntese da Avaliação dos Ecossistemas do Milénio,
divulgado esta quarta feira em vários países. Produzido por 1.300 cientistas, de 95
países, é o primeiro documento de uma série que pretende avaliar a situação dos ecossistemas
a nível global e o seu impacto no bem-estar da espécie humana. À luz do texto, as
consequências da degradação ou má utilização de dois terços dos serviços dos ecossistemas
(água doce, ar puro ou regulação climática) já se sentem, e poderão piorar significativamente
nos próximos 50 anos.
O aumento da prevalência de doenças como a malária e a cólera, o aparecimento de novas
enfermidades e a incapacidade de alcançar os objectivos de desenvolvimento do milénio
propostos pela Organização das Nações Unidas, como a redução da pobreza e da fome,
são alguns dos efeitos detectados (em África, por exemplo, 11 por cento dos doentes
sofrem de malária, enfermidade que poderia ter sido erradicada há 35 anos, permitindo
que a economia daquele continente tivesse crescido 150 mil milhões de euros, mais
25 por cento do que aconteceu). O texto aponta, como problema associado à má gestão
dos ecossistemas globais, o facto de 15 das 24 áreas observadas se encontrarem degradadas
ou não estarem a ser usadas de forma sustentável.
Outra vertente da degradação apontada no relatório é a desproporcionalidade, pela
forma como ela incide sobre os mais pobres, contribuindo para acentuar as desigualdades
e aumentar a pobreza e os conflitos sociais.
Os cientistas afirmam que nunca como nos últimos 50 anos foi tão rápida a acção humana
exercida sobre os ecossistemas, e que as alterações daí decorrentes, que contribuíram
para ganhos substanciais a nível do bem-estar, da qualidade de vida e do desenvolvimento
económico, têm como custo a degradação dos serviços fornecidos pelos ecossistemas
e resultaram numa perda irreversível para a vida na Terra, numa tendência que pode
acentuar-se durante a primeira metade deste século, sendo parcialmente reversível
se forem acolhidos cenários que envolvam mudanças significativas nas políticas, instituições
e práticas, o que, segundo o estudo, não estão a acontecer.