As democracias da América Latina numa crise profunda de confiança.
Nos últimos tempos milhões de latino-americanos, com o seu voto mostraram-se contra
o modelo liberal, que aprofundou as desigualdades e lançou dúvidas quanto à participação
política. Uma boa parte da população tem a sensação que a liberdade é uma coisa que
só beneficia alguns.E tudo isto num momento em que vários relatórios receiam que a
penúria que se abateu sobre a região ponha em causa a própria democracia.
"A insatisfação e as frustrações pela persistência da pobreza, a desigualdade e os
altos níveis de crime, o empobrecimento e a exclusão social, juntamente com os fenómenos
de corrupção nas democracias mais débeis, encontram-se entre os principais problemas
que ameaçam os direitos humanos dos povos" da zona, segundo o Conselho Episcopal Latino-Americano
(Celam).
Dez em cada cem pessoas na região não têm emprego. Números avançados em Fevereiro
pelas Nações Unidas dão conta que, em 2003, e em termos absolutos, havia na região
214 milhões de pobres mais 14 milhões do que no princípio da década passada.
O problema é "um modelo de desenvolvimento que gera uma injusta distribuição das riquezas,
um aumento da dependência que exige o pagamento de uma onerosa dívida externa e que
cria uma brecha cada vez maior entre ricos e pobres", diz o Celam, que denuncia ainda
os frequentes atentados aos direitos humanos, o narcotráfico e os seus "efeitos perversos",
as "limitações para aceder ao sistema de justiça", a impunidade.
"As democracias da região estão a sofrer uma profunda crise de confiança depois de
25 anos de avanços para governos civis eleitos", segundo um estudo intitulado Democracia
na América Latina, publicado em Abril do ano passado pelo Programa das Nações Unidas
para o Desenvolvimento. "Só 50 por cento dos latino-americanos preferem a democracia
a um regime autoritário", diz o estudo, assente num inquérito público a 20 mil pessoas
em 18 países da zona e entrevistas pessoais a 230 líderes, incluindo ex-Presidentes.