O mistério pascal revele o segredo da vida: Mensagem de Páscoa do bispo de Santarém
A Páscoa cristã é um convite à alegria, à paz, à esperança de uma vida renovada. É
a aurora feliz de um mundo novo, como proclama a liturgia. A mensagem pascal não pode
ficar confinada no interior da Igreja mas deve ser comunicada ao mundo inteiro, como
reza uma hino litúrgico: "Desça sobre a Igreja e sobre o mundo, como penhor de paz
e de esperança, a luz da tua Páscoa esplendorosa". De facto, desde o início do cristianismo,
a Páscoa deu origem ao testemunho e ao compromisso. As primeiras testemunhas da Ressurreição
não puderam guardar só para elas a experiência revolucionária do encontro com o Ressuscitado.
Partiram pelo mundo inteiro a levar a Boa Nova a toda a gente, convencidas que estavam
no limiar de um mundo novo.
Páscoa significa passagem. A "passagem" é uma lei da vida humana. Estamos continuamente
a passar de uma situação para outra, a partir de um lado para outro. A vida pede-nos
que aprendamos a partir, a desprendermo-nos das nossas seguranças e a acolher os novos
desafios com disponibilidade e confiança. Na Páscoa, Cristo passa da morte à vida,
das trevas à luz, como os discípulos passam da tristeza à alegria, do desânimo à esperança,
da descrença à fé. Mas a Páscoa pede-nos uma passagem mais profunda, uma conversão
interior: a passagem do pecado à santidade, do homem terreno ao homem espiritual,
do egocentrismo ao amor: "Se alguém está em Cristo é uma nova criatura", afirma São
Paulo. Aqueles que se encontram com Jesus tornam-se diferentes. Apreciam as realidades,
interpretam os acontecimentos e orientam a vida pela luz de Deus e não pelas suas
conveniências. "Em Vós, Senhor, está a fonte da vida e é na Vossa luz que vemos a
luz"(Sl 35).
Páscoa é a celebração da vida plena, da vida que vence o mal e a morte. Mas a plenitude
da vida só se alcança com a entrega, com o sacrifício de cada um. Só alcançamos a
vida se dermos a vida. Como o grão de trigo, explica o Evangelho. Não é por acaso
que a Páscoa se celebra na primavera quando a nova vida brota do seio da terra e a
natureza se reveste de festa. Após a gestação da vida no silêncio do inverno, tudo,
na estação das flores, canta e grita de alegria. A Páscoa é uma primavera espiritual,
é o canto do "Aleluia" que germina ao longo da Quaresma em que preparamos o terreno
espiritual do nosso coração pelo desapego, pela oração e pela partilha fraterna.
Pode parecer uma linguagem estranha à nossa cultura. Mas a Páscoa é isso mesmo. É
o mistério central da fé cristã, é a intervenção de Deus por excelência na história
humana, intervenção tão diferente dos nossos critérios e pontos de vista. Mas quem
pode afirmar com verdade que a vida se rege pela lógica ou se explica pelo raciocínio?
O mistério envolve a nossa condição humana. O mistério pascal revela-nos o segredo
profundo da vida, segredo cheio de encanto e de beleza.
Desejo a todos os caros leitores que a Páscoa traga alegria e luz, desperte encanto
e gosto pela vida e gere também compromisso de a defender e dar-lhe dignidade e qualidade.
Porque é a vida plena que celebramos na Páscoa, a vida em todo o seu esplendor e encanto,
que constitui a aurora de um mundo novo.