"Fica connosco Senhor":Mensagem do Arcebispo de Braga para a Páscoa
A Igreja Católica encontra-se a viver um Ano Eucarístico. Para orientar a caminhada,
o Santo Padre publicou uma Carta Apostólica a que atribuiu o título de “Fica connosco,
Senhor, porque se faz tarde”.
Trata-se dum convite formulado por dois discípulos que, conscientes da morte de Cristo,
caminhavam, pesarosos e tristes, em direcção a Emaús. Cristo “intromete-se” na caminhada
e na conversa. Ao aproximar da noite, considerando as trevas densas que pairavam no
seu íntimo, convidam Jesus Cristo a entrar e ficar com eles (cfr. Lucas 24, 29).
Como cristãos acreditamos que Cristo ressuscitou e que, realmente, continua vivo e
operante na história. As dúvidas e as perplexidades podem surgir. É missão da Igreja
fazer com que a Sua pessoa não entre só nos registos de personalidades recordadas
pelos feitos ou doutrina mas que exerça uma actualidade como presença reveladora do
sentido para a vida.
Nesta Páscoa quero, talvez com alguma ousadia e identificando-me com a tradição do
compasso, ser “campainha” que solicita às pessoas e instituições — eclesiásticas ou
civis — que, dum modo consciente e sem complexo, “convidem” Cristo vivo a entrar.
Poderá parecer que a Sua actualidade já passou. Ele, como Ressuscitado, continua vivo.
Compete aos crentes e às comunidades “demonstrar” de modo que se veja e sinta a Sua
presença.
Ao formular votos de Santa Páscoa para todos os residentes no território da Arquidiocese,
peço que O deixem entrar. Que fique em cada homem e mulher e nos mundos e ambientes
de trabalho. Esperam-se soluções para o conjunto de problemas que desafiam o quotidiano
dos portugueses.
Necessitamos dum clima de maior tranquilidade social que permita uma convivência harmoniosa
entre todos duma aurora na justiça que defenda os direitos de todos e promova os deveres
de cada um, de contornos programáticos e metodológicos que expressem uma educação
sólida e consistente como alicerce duma sociedade humana, de níveis de confiança que
garantam qualidade nos cuidados de saúde para uma vida feliz, de espaços de diálogo
e acolhimento do diferente nas arenas da política para o bem de todos e não só de
alguns, de coragem na qualidade de trabalho para todos e um índice de produtividade
sem opressão de ninguém.
Poderia continuar a percorrer os caminhos da sociedade actual e entrar nas “casas”
dos cidadãos. Fica a ideia que não deve ser uma voz no deserto. Cristo, com tudo o
que significa em Si e na cultura portuguesa, ficando e permanecendo nas mentalidades
e atitudes, permitirá uma Páscoa perene onde os sinais de morte são abolidos e germina
a esperança que provoca luta e empenho para um mundo melhor.
Fica connosco Senhor, e não permitas que “anoiteça” a esperança duma sociedade justa
e humana.
Páscoa 2005 - Jorge Ortiga, Arcebispo Primaz de Braga