A iniciativa de debate do Departamento para a Cultura e a Universidade da arquidiocese
de Génova sobre “O Código Da Vinci”, best-seller de Dan Brown, não é uma cruzada do
Vaticano contra a obra. A posição é assumida pelos responsáveis do debate realizado
esta quarta feira, em especial o Cardeal Tarcisio Bertone, e desmente o que foi avançado
por jornais e agências de todo o mundo nestes dois últimos dias.
“A Santa Sé não deu nenhuma indicação nem tomou nenhuma iniciativa excepcional”, referem
os organizadores. O debate intitulado “O Código Da Vinci... histórias sem História”
acabou, porém, por ter uma repercussão inesperada.
Nesse sentido, o cardeal Bertone concedeu uma entrevista à “Rádio Vaticano”, na qual
explica que a iniciativa nasceu depois de a Arquidiocese de Genovaa “se ter dado conta
da difusão deste livro nas escolas”. “Por isso, tomámos medidas de reflexão e de confrontação
pública também, aberta e decidida”, assinala.
As teses de fundo do livro de Brown não são novas e algumas remontam aos Evangelhos
gnósticos. Segundo o arcebispo de Génova, que no passado foi secretário da Congregação
para a Doutrina da Fé, um dos erros mais evidentes do livro “é a chamada ‘obliteração’
do aspecto feminino na narração evangélica e na vida da Igreja”.
“Não há nada mais falso que a necessidade de inventar uma Maria Madalena ‘amazona’,
ou algo assim, na história da Igreja primitiva, como se as mulheres não estivessem
já presentes”, aponta.
O cardeal Bertone cita o sociólogo americano Philip Jenkins, segundo o qual o êxito
do livro é só outra prova de que o anti-catolicismo “é a última discriminação aceitável”.
“Pergunto-me o que se passaria se Brown tivesse escrito um livro assim, cheio de mentiras,
sobre Buda e Maomé, ou inclusive, por exemplo, se tivesse publicado uma novela que
tivesse manipulado a história do Holocausto ou da Shoá”, assinala.
“Não se pode fazer uma novela mistificando os dados históricos, ou maldizendo ou difamando
uma pessoa histórica que tem o seu prestígio e a sua fama justamente na história da
Igreja, na história da humanidade”, conclui.