2004-06-03 19:49:13

Católico morre no Paquistão, vítima da lei sobre a blasfêmia


Islamabad, 03 jun (RV)- Um católico de 32 anos de idade, Samuel Masih, detido supostamente por blasfêmia, desde agosto do ano passado, morreu em 28 de maio último, em conseqüência da violência sofrida nas mãos de um carcereiro muçulmano fundamentalista.

Ao presidir o funeral do jovem no sábado, o Arcebispo de Lahore e Presidente da Conferência Episcopal do Paquistão, Dom Lawrence Saldanha, condenou os responsáveis pelo crime, e exigiu que o governo garanta a vida e a segurança das minorias religiosas.

“Samuel estava fazendo seu trabalho, limpando o jardim. Amontoou os restos de plantas fora do muro da mesquita. Pensava em recolhê-los depois e queimá-los. Esse ato foi considerado uma blasfêmia” _ explicou o prelado, divulga a AsiaNews.

Esse foi o motivo pelo qual o muezim de Lahore espancou o jovem e o entregou à polícia. Em 23 de agosto do ano passado, ele foi detido, sob a acusação de blasfêmia contra o Islã, e permaneceu na prisão central de Lahore até 22 de maio, quando teve de ingressar no hospital por tuberculose. Um policial vigiava, mas dois dias depois, outro policial o atacou, e declarou que sua fé o obrigava a matar Samuel.

Ocorre com freqüência que, nos casos de blasfêmia, quando a acusação ainda está pendente de verificação perante um tribunal, o acusado sofra, durante sua detenção, violências e torturas, inclusive até a morte.

“O número de vítimas não pára de crescer… Essa lei aumenta as injustiças contra o povo paquistanês” _ denunciou Dom Saldanha. “A perigosa direção em que nos movemos, mostra que os pobres e os fracos se convertem em vítimas do ódio fanático” _acrescentou.

O prelado exortou os fiéis a fazerem frente à lei sobre a blasfêmia, introduzida em 1986. O parágrafo 295-b se refere às ofensas ao Corão, castigadas inclusive com prisão perpétua, enquanto o parágrafo 295-c prevê pena de morte ou prisão perpétua por calúnias contra o profeta Maomé.

A norma estabelece que para encarcerar um suposto transgressor, bastam declarações de qualquer cidadão. Com a denúncia baseada em simples declarações orais, a lei sobre a blasfêmia favorece o uso da mesma como meio de vingança pessoal. Da mesma forma, a norma é manipulada pelos militares islâmicos, para perseguir os cristãos ou todos que não estejam de acordo com eles.

A Comissão “Justiça e Paz” da Conferência Episcopal do Paquistão deu a conhecer que, desde 1987 até o momento, pelo menos 148 muçulmanos, 208 ahmadi, 75 cristãos e 8 hindus foram acusados injustamente de blasfêmia. (MZ)








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