Primeiro o gesto, depois a palavra: eis o pontificado de Francisco


Cidade do Vaticano (RV) – O Pontificado de Papa Francisco recupera a força da mensagem evangélica através de um binômio vencedor: primeiro o gesto, depois a palavra. Segundo Pe. Rocco d’Ambrosio, professor italiano da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Pontifícia Gregoriana, de Roma, é muito importante ligar as palavras de Francisco ao seu testemunho quotidiano:

“Um homem que deixa o Palácio Apostólico para morar numa pequena pensão junto aos outros é um testemunho. Como aquele lindo testemunho na Ilha de Lesbos, junto ao Patriarca Bartolomeu e aos bispos católico e ortodoxo, quando saudou durante três horas e meia, pessoa por pessoa, os quatro mil refugiados. São os sinais de quem consegue dizer, concretamente: podemos viver das pobrezas. Os pequenos sinais constróem, então, as grandes escolhas deste Pontificado. Mas, se esse testemunho consegue chegar nas igrejas locais, essa é uma coisa mais difícil.”

O Pe. Rocco lançou um livro, disponível também em português, que questiona esse modelo de Igreja proposto pelo Papa Francisco, através de uma análise institucional. “Francisco vai conseguir?” é o título da obra que estuda os movimentos atuais para tentar entender se a reforma do Pontífice terá ou não sucesso.

“O Papa Francisco é conhecido não somente dentro da Igreja, mas consegue falar inclusive para fora dela. E como aborda temas muito importantes, que são aqueles do Concílio Vaticano II, a pergunta do livro é sobre isso: se conseguirá trabalhar nesse tipo de reforma, que naturalmente é uma continuidade aos pontificados anteriores.”

A reforma tem origem nos encontros das Congregações, feitos antes mesmo do conclave que elegeu Francisco, e é direcionada em dois importantes pontos: a referência ao Concílio Vaticano II (novo estilo de presença da Igreja no mundo, a missão, a opção preferencial pelos pobres, novo movimento ecumênico e a reforma da Cúria) e o problema dos escândalos (desde aquele pior para a Igreja, como a pedofilia, àquele da administração econômica da Santa Sé – mas também das dioceses e das Ordens Religiosas; e do “carreirismo”, a relação com o poder).

O Pe. Rocco comenta que, apesar da reforma dentro da Igreja ser evangélica, isto é, tentar nos tornar “mais fiéis ao Evangelho”, ainda existe muita resistência à inovação – como acontece em todas as instituições: de um lado por causa do tempo natural e necessário para a adaptação à mudança, do outro pelo discurso de poder, porque “quem comanda acaba colocando o dedo na ferida”.

No entanto, o coração da reforma de Papa Francisco não enaltece as resistências, mas as perspetivas e aquelas que vêm de baixo, intrínsecas inclusive nas diversas expressões usadas pelo Pontífice como “Igreja em saída”.

“Acredito que isso seja o ponto fundamental. É como se o Papa dissesse: tentemos enfrentar um problema, colocando de lado a perspetiva, isto é, os problemas econômicos, de poder, de desenvolvimento. A gente sempre viu do lado de quem comanda e tem responsabilidade. Tentemos ver esses problemas do lado de quem não há responsabilidade, lá de baixo. Gosto sempre de citar uma passagem da Encíclia Laudato Si’, em que o Papa diz: ‘quem é mais atingido pelos desastres ecológicos?’. São as pessoas pobres. E ele dá um exemplo simples: se no meu bairro a água não é boa e tenho problemas com o ambiente ao meu redor, se eu tiver condições financeiras, eu mudo de casa. Se não puder, ao contrário, vivo no bairro degradado. E do ponto de vista de quem está por baixo, dá pra se compreender muita coisa.”

Como poder agir, então? Segundo Pe. Rocco é importante começar no dia a dia, de passo em passo, e o professor nos dá o exemplo de um pároco da diocese de Roma pra entender melhor:

“Ele disse que, no início, o Papa dava um certo tipo de desconforto. Depois, acabou se questionando: ‘mas é o meu bispo, é o Papa, devo entender porque me causa desconforto’. O padre deu esse testemunho publicamente e disse que chegou a compreender esse incômodo porque colocava em cheque um modelo de Igreja que lhe era muito confortável. E o modelo de Igreja de Francisco incomoda. Então, os outros padres lhe disseram: ‘depois desse discernimento, o que o senhor fez?’. Ele disse: ‘fiz uma coisa muito simples. Convoquei o conselho econômico e pedi o que estávamos fazendo para os pobres e o que poderíamos fazer a mais por eles. Era o modo mais concreto para dizer que estava compreendendo o que o Papa dizia para mim’.”

O livro “Francisco vai conseguir? O desafio da reforma da Igreja”, de Rocco d’Ambrosio, pode ser adquirido através da Editora católica das Livrarias Paulinas (www.paulinas.org.br).

(SP/AC)








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