Muhammad Yunus, no Vaticano: a pobreza é um mal assim como as armas nucleares


Cidade do Vaticano (RV) - Teve início nesta sexta-feira (10/11), na Sala Nova do Sínodo, no Vaticano, o congresso internacional sobre “Perspectivas por um mundo livre de armas nucleares e por um desarmamento integral”, promovido pelo Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral. 

O simpósio conta com a participação de grandes personalidades como o economista bengalês Muhammad Yunus, fundador do Grameen Bank, primeiro banco do mundo especializado em microcrédito. Yunus é conhecido como “o banqueiro dos pobres” e recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 2006.

O Grameen Bank foi criado pelo professor Yunus, em 1976, a fim de eliminar a pobreza no mundo. Adquiriu o status de banco em 1983 e espalhou pelo mundo o conceito de microcrédito. As pessoas pobres, que nunca tiveram acesso ao sistema bancário, fazem empréstimos, sem garantias ou papéis. 

Mariângela Jaguraba foi ao local do simpósio e conversou com o economista Yunus.

Qual é a relação entre armas nucleares e pobreza?

Yunus: “O que elas têm em comum é um distúrbio mental. Quem produz armas nucleares para matar as pessoas ou ameaçar o mundo, tem um problema mental. Não é justo que alguém produza armas nucleares para matar as pessoas em massa e ameaçar a paz no mundo. Isso deve ser combatido. É normal que as pessoas no mundo não concordem umas com as outras, mas quando isso acontece as coisas devem ser resolvidas de forma racional. A pobreza é um mal assim como as armas nucleares são um mal. Os pobres são as pessoas que foram rejeitadas pela sociedade e para combater a pobreza é necessário redesenhar os sistemas sociais a fim de incluir todos. Serve um desenho social inclusivo. Os pobres são seres humanos assim como os outros, assim como os ricos, e possuem os mesmos direitos humanos. O sistema inclusivo é o que tira as barreiras para incluir todas as pessoas. Foi o que fizemos e funcionou.”

Muhammad Yunus prosseguiu dizendo: 

Yunus: “Se queremos pobreza zero, se não queremos que haja desemprego, então o que devemos fazer é redesenhar o atual sistema capitalista que foi criado de forma errada e gerou de um lado a pobreza e do outro uma riqueza enorme. Toda a riqueza do mundo agora se encontra nas mãos de poucas pessoas. Por exemplo: hoje, 8 pessoas no mundo são proprietárias de mais de 50% das riquezas do mundo. A situação piora a cada ano que passa. Os ricos ficam cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres. As pessoas comuns não veem essas coisas, mas a realidade é que os ricos se tornam mais ricos e os pobres mais pobres. Não sabemos, mas talvez no próximo ano haverá 1% da população que será proprietária de quase toda a riqueza do mundo. A solução é que se deve agir, e uma maneira é a redistribuição das riquezas. Dessa forma os 99% deixados de lado terão alguma coisa para sobreviver.”

(MJ)








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