2017-10-26 13:42:00

Papa: Comunidade da Universidade Católica Portuguesa


Cidade do Vaticano (RV) O Papa Francisco recebeu hoje, quinta-feira, dia 26 de Outubro de 2017, às 12horas locais de Roma, em audiência na Sala Clementina do Vaticano, os cerca de 150 membros da Comunidade da Universidade Católica Portuguesa, acompanhados pelo Cardeal Manuel Clemente, Patriarca de Lisboa.

 Sabendo da minha impossibilidade de visitar a sede central da Universidade por ocasião da peregrinação ao Santuário de Fátima em maio passado, disse Francisco, uma sua qualificada representação prontificou-se a visitar-me aqui na Sé de Pedro. Com alegria vos acolho e, de coração, vos saúdo.

 Agradeço ao meu irmão cardeal Manuel Clemente a saudação que me dirigiu, apresentando-me as esperanças e lutas de quantos hoje – como ontem – amam, fazem e são esta comunidade universitária. Congratulo-me com a Igreja em Portugal que a quis, promove e apoia, e que pode contar com uma leitura aprofundada dos tempos que correm e sobretudo com a formação superior dos guias do povo de Deus e dos líderes que a sociedade precisa.

Congratulando-se então por estes cinquenta anos de serviço ao crescimento da pessoa e da comunidade humana e olhando para os desafios do futuro, o Papa acrescentou: Longa vida, pois, à Universidade Católica Portuguesa!

Por natureza e missão, recordou o Santo Padre, sois universidade, isto é, abraçais o universo do saber no seu significado humano e divino, para garantir aquele olhar de universalidade sem o qual a razão, resignada com modelos parciais, renuncia à sua aspiração mais alta: a de buscar a verdade. À vista da grandeza do seu saber e do seu poder, a razão cede perante a pressão dos interesses e a atracção da utilidade, acabando por a reconhecer como seu último critério.

Mas, advertiu o Pontífice, quando o ser humano se entrega às forças cegas do inconsciente, das necessidades imediatas, do egoísmo, a sua liberdade adoece. «Neste sentido, disse, ele está nu e exposto frente ao seu próprio poder que continua a crescer, sem ter os instrumentos para o controlar. Neste caso, observou o Papa, talvez disponha até de mecanismos superficiais, mas podemos afirmar que carece de uma ética sólida, uma cultura e uma espiritualidade que lhe ponham realmente um limite e o contenham dentro dum lúcido domínio de si» (Francisco, Laudato si’, 105). Com efeito, acrescentou Francisco, a verdade significa mais do que saber: o conhecimento da verdade, disse, tem como finalidade o conhecimento do bem. A verdade torna-nos bons, e a bondade é verdadeira.

É justo que nos interroguemos: Como ajudamos os nossos alunos a não olhar um grau universitário como sinónimo de maior posição, sinónimo de mais dinheiro ou maior prestígio social? Não são sinónimos. Ajudamos a ver esta preparação como sinal de maior responsabilidade perante os problemas de hoje, perante o cuidado do mais pobre, perante o cuidado do meio ambiente? Não basta realizar análises, descrições da realidade; é necessário gerar espaços de verdadeira pesquisa, debates que gerem alternativas para as problemáticas de hoje. Como é necessário descer ao concreto!

Por desígnio e graça de Deus, salientou o Santo Padre, sois católica, uma qualificação que em nada mortifica a universidade, antes valoriza-a ao máximo; pois, acrescentou, se a missão fundamental de toda universidade é «a investigação contínua da verdade mediante a pesquisa, a preservação e a comunicação do saber para o bem da sociedade» (João Paulo II, Cons. ap. Ex corde Ecclesiae, 30), uma instituição académica católica distingue-se pela inspiração cristã dos indivíduos e das próprias comunidades, consentindo-lhes incluir a dimensão moral, espiritual e religiosa na sua investigação e avaliar as conquistas da ciência e da técnica na perspectiva da totalidade da pessoa humana. Isso porque, como afirma João Paulo II, «as ciências humanas, apesar do grande valor dos conhecimentos que oferecem, não podem ser assumidas como indicadores decisivos das normas morais deste caminho» (Enc. Veritatis splendor, 112).

E neste sentido citando a Encíclica Veritatis Splendor, do Papa Jão Paulo II, Francisco recorda que «é o Evangelho que descobre a verdade integral sobre o homem e sobre o seu caminho moral, e assim ilumina e adverte os pecadores anunciando-lhes a misericórdia de Deus, (…) lembra-lhes a alegria do perdão, o único capaz de conceder a força para reconhecer na lei moral uma verdade libertadora, uma graça de esperança, um caminho de vida» (ibid., 112).

Ora, reconhece o Santo Padre, poderia alguém, contudo objectar que uma tal docência universitária tiraria as suas conclusões da fé e, por isso, não poderia pretender a validade das mesmas para quantos não partilham desta fé.

O Pontífice reconhece que, citamos “é verdade que não partilham a fé, mas serve-lhes a razão ética proposta. Por outras palavras, para o Papa, por detrás do docente católico fala uma comunidade crente, na qual, durante os séculos da sua existência, amadureceu uma determinada sabedoria da vida; uma comunidade que guarda em si um tesouro de conhecimento e de experiência ética, que se revela importante para toda a humanidade. Neste sentido, recordou Francisco o docente fala não tanto como representante duma crença, como sobretudo testemunha da validade duma razão ética.

Por fisionomia e presença, sois portuguesa, constituindo mais um sinal de esperança, que a Igreja oferece ao País, ao colocar à disposição da nação uma instituição cultural que, tendo como objectivo o aperfeiçoamento cristão do homem, é chamada precisamente a servir a causa do homem, na certeza de que – como ensina o Concílio Vaticano II – «aquele que segue Cristo, o homem perfeito, torna-se mais homem» (Gaudium et spes, 41).

Finalmente, referindo-se mais uma vez à necessidade de se descer ao concreto, Francisco recordou aos presentes a necessidade de considerar, disse e citamos, “o princípio da encarnação na pele do nosso povo. As suas perguntas, prosseguiu, ajudam-nos a questionar-nos; as suas batalhas, sonhos e preocupações possuem um valor hermenêutico que não podemos ignorar, se quisermos deveras levar a cabo o princípio da encarnação.

O nosso Deus escolheu este caminho: encarnou-Se neste mundo, atravessado por conflitos, injustiças e violências, atravessado por esperanças e sonhos. Por conseguinte não temos outro lugar onde O procurar a não ser no nosso mundo concreto, no vosso Portugal concreto, nas vossas cidades e aldeias, no vosso povo. Lá Ele está a salvar.

E Francisco concluiu o seu discurso com o habitual empenho: Acompanho-vos, disse com as minhas preces e, por favor, também vós não vos esqueçais de rezar por mim. Obrigado! 








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