Dom Fisichella: para o Papa a pena de morte é contrária ao Evangelho


Cidade do Vaticano (RV) - “Guardar” e “prosseguir”: é o caminho que o Papa indica à Igreja no discurso desta quarta-feira (11/10) dirigido aos participantes do encontro promovido pelo Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização por ocasião dos 25 anos do Catecismo da Igreja Católica (CIC).

De fato, o encontro recordou o 25º aniversário de assinatura da Constituição apostólica Fidei depositum, com a qual São João Paulo II promulgava o CIC. Retomando o próprio Catecismo, o Papa ressaltou que “a finalidade da doutrina” e do ensino deve “fixar-se toda no amor”, que não acaba.

O grande desafio que a Igreja tem hoje diante de si é manter viva a Tradição, ressalta o Arcebispo Rino Fisichella – presidente do dicastério que organizou o encontro – na entrevista concedida à Rádio Vaticano:

Arcebispo Rino Fisichella:- “Fiquei particularmente impressionado com a profundidade e com a clarividência com a qual o Papa Francisco quis comemorar os 25 anos do Catecismo da Igreja Católica, dizendo que o Catecismo, mesmo conservando o patrimônio da doutrina da Igreja destes dois mil anos, deve, porém, olhar para frente. Por conseguinte, deve olhar também para os grandes desafios hoje presentes na cultura e na sociedade.”

RV: Uma das passagens fortes do discurso do Papa foi justamente o convite a não conservar a doutrina sem fazê-la progredir nem prendê-la a uma leitura rígida e imutável. “A Palavra de Deus é uma realidade dinâmica”, disse. Como se pode traduzir concretamente essa exortação?

Arcebispo Rino Fisichella:- “Diria que o Papa usou – como é próprio de sua linguagem de certo modo ilustrativa – uma expressão muito eficaz, porque disse que o depósito da fé – ou seja, aquilo em que nós acreditamos, o conteúdo da nossa fé – não é como uma velha coberta que precisa ser conservada em naftalina. E, portanto, acrescentou sobre isso que deve ser, ao invés, uma realidade sempre viva, dinâmica. Diria que concretamente existem muitos aspectos. Sobretudo na mente do Papa Francisco, penso naquilo que é seu ensinamento proveniente da Laudato si: como devemos ser capazes de uma atenção particular com a Criação. E penso de modo particular ainda naquilo que é seu ensinamento fruto dos dois Sínodos sobre a família – Amoris laetitia – e, portanto, a capacidade de verificar também os desafios que estão presentes em nossa cultura e em nossa sociedade em relação ao matrimônio; a capacidade de dar-se conta e de acompanhar também aquelas situações de dificuldade que parecem multiplicar-se cada vez mais. Pessoalmente, creio que manter a Tradição viva seja o grande desafio que hoje a Igreja tem diante de si, no momento em que deve transmitir a fé às novas gerações. Portanto, tudo aquilo que é mudança de cultura, de modelos culturais, que nos fazem encontrar com as gerações de hoje.”

RV: Outro ponto forte de seu discurso foi a firme condenação à pena de morte: um tema que, segundo o Papa Francisco, deveria encontrar um espaço mais adequado e coerente no Catecismo da Igreja Católica. Houve uma evolução nesse sentido?

Arcebispo Rino Fisichella:- “Com certeza. Já no momento da publicação do Catecismo da Igreja Católica João Paulo II sentiu o dever de se pronunciar imediatamente com a Encíclica Evangelium Vitae, na qual dizia explicitamente o seu pensamento a propósito, e que foi retomado cinco anos mais tarde. Na redação oficial – em latim – aquele texto sobre a pena de morte foi mudado, mostrando o progresso que o Magistério teve e os limites que a Igreja apresentava da pena de morte. Depois tivemos pronunciamentos sucessivos muito significativos de Bento XVI, que foram mais além. Devo dizer que também o Papa Francisco, desde os primeiros anos de seu Pontificado, pronunciou-se sobre esse aspecto, dizendo que também o homicida jamais perde a sua dignidade pessoal. Creio que no discurso desta quarta-feira o Papa tenha dado um passo ulterior, afirmando que a pena de morte em si mesma é contrária ao Evangelho. Creio que esse é um ponto fundamental, porque explicita que o ensinamento, no respeito pela dignidade da pessoa humana, não pode ter nenhum limite.” (RL/DD)








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