2017-10-06 15:54:00

Cáritas-África comprometida com o desenvolvimento integral dos africanos


Ainda nas pegadas do 2º Encontro da Cáritas-África que teve lugar em Dakar de 18 a 20 do mês de Setembro findo, sobre o papel dos bispos na organização dos serviços caritativos no continente, continuamos, nesta rubrica, a aprofundar alguns aspectos aí tratados, mediante entrevistas com alguns dos participantes. Um deles foi Jacques Dinan Secretário Executivo da Cáritas-África de 2007 a 2015 e actualmente responsável por Cáritas-África Info, a revista electrónica trimestral desta organização caritativa da Igreja em África. No encontro de Dakar Jacques Dinan fez um historial dos encontros da Cáritas-África na sequência do Sínodo dos Bispos para a África. Isto é, do encontro de Mumemo, em Moçambique, em Maio de 2010, passando pelo de Kinshasa em 2012, ao de Dakar, este ano. Na sua alocução, Dinan incluiu as duas Exortações pós-sinodais, “Eclesea in África” publicada pelo Papa João Paulo II, depois do primeiro Sínodo para a África em 1994, e “Africae Munus” do Papa Bento XVI em conclusão do Segundo Sínodo de 2009 e que se tinha debruçado sobre a Igreja e as questões da paz e justiça em África. Aos nossos microfones, Jacques Dinan explicou o porquê da referencia a esses documentos:

Dei-me conta de que tudo isto está ligado ao Sínodo dos Bispos para a África. Não saiu do nada. É porque houve essa dinâmica a nível da Igreja no mundo no sentido de ver como é que a Igreja em África está, como evangelizar a África. Então dei-me conta de que era preciso ligar tudo isso também com a “Ecclesiae in Africa”,  com “Africae Munus”, que são os resultados dos Sínodos dos Bispos para a África. E nós, a nível da Cáritas, viemos procurar as particularidades porque, é claro, o Sínodo falava da Igreja em geral em África. Então nos encontros de Mumemo e Kinshasa procurou-se ver como pôr em prática toda essa evangelização, tendo em conta a questão da ajuda aos pobres; como fazer face à pobreza, como desenvolver a população de todos esses países. Creio, portanto, que era extremamente importante. E se nós estamos aqui hoje em Dakar, é sinal de que há continuidade. É uma acção que iniciou há muito, em finais do século passado, [o primeiro Sínodo dos Bispos para a África é de 1994) e que continuamos em 2017, isto, acho, porque houve toda uma acção positiva que foi feita há mais de 20 anos e que é muito positiva e que mostra essa presença e essa acção para com as populações da África. Como se costuma dizer, a África é um continente rico com pessoas pobres. A África tem muitos recursos, humanos e materiais mas, infelizmente, o seu desenvolvimento continua ainda a arrastar-se e há muito a fazer. Para nós na Cáritas é importante ter em conta tudo isso e ver como fazer para que a Africa possa emergir.”

O Encontro de Dakar foi considerado o 2º Encontro dos Bispos sobre a Cáritas, mas antes, em Maio de 2010, houve o encontro da Cáritas-África em Mumemo (Moçambique) na sequencia do II Sínodo dos Bispos para a África, realizado no Vaticano em 2009. Depois, em 2012 houve o encontro de Kinshasa. Porque é que é considerado o primeiro, o que foi ali decidido ao ponto de passar a marcar o início?

Penso que é um pouco como um livro. É preciso o prefácio; ou uma peça de teatro em que é preciso uma introdução à matéria. Acho que Mumemo foi uma entrada na matéria, foi a ocasião para fazer com que todos os bispos que são responsáveis das Cáritas nas dioceses e países tomassem consciência de que era necessário quê se encontrassem para harmonizar as suas acções, para se entreajudarem, para se deixarem motivar um pelo outro. Estava-se no ano de 2010 e, na altura, sentia-se essa necessidade porque se se está só a fazer uma acção, uma pessoa pode-se sentir sem apoio, sem saber bem o que fazer. Mas quando se é muitos, a união faz a força. Mumemo era, portanto, essa ocasião para fazer com que os bispos estivessem juntos para compreenderem, para trabalharem juntos pela acção da Cáritas. Era um prólogo (riso…). E é partir dali que se disse que era preciso realmente um Encontro ehn!, para ver como fazer para que se compreenda esta mensagem que a Igreja tem em acto em relação aos pobres e esse Encontro deu-se em 2012, em Kinshasa, e pouco depois foi publicado o Motu Próprio [Intima Ecclesiae Natura]” que vem falar da Caritas como um dos pilares da Igreja. Mas, ainda hoje muitas pessoas não se dão conta disto. Era, por isso, importante recordar e ver, cinco anos depois do encontro de Kinshasa, o que se passou. Então, é por isso que se fala de 2º Encontro, mas na realidade é talvez o terceiro encontro…”

Um dos objectivos do chamado 2º Encontro da Cáritas-Africa, o de Dakar, era fazer uma avaliação do caminho percorrido nos cinco anos que se passaram depois do de Kinshasa, no sentido da tomada de consciência dos Bispos do seu papel na assunção do serviço da Cáritas como um dos pilares da missão da Igreja no mundo, e, portanto ligado à natureza íntima da Igreja como frisa o Motu Próprio de Bento XVI “Intima Ecclesiae Natura”. Em Dakar considerou-se que os progressos foram positivos e, na Declaração final, os Bispos empenharam-se em continuar com afinco essa caminhada. Mas que progressos se fizeram exactamente? – Perguntamos ao actual Secretário Executivo da Cáritas-Africa, o congolês Albert Mashika

Houve muitos progressos em termos de actuação dos empenhos assumidos pelos bispos no encontro de Kinshasa; houve, por exemplo, todas as questões ligadas à coordenação da acção das Cáritas a nível de cada país; houve a actualização dos Estatutos das Caritas para as alinhar com as directrizes da Santa Sé; houve também todas essas questões ligadas ao melhoramento das relações de cooperação entre as Cáritas irmãs que acompanham as Cáritas da África na realização da missão que os bispos lhes confiaram.”

Como é praxe, nessas circunstâncias, também o encontro de Dakar se concluiu com uma Declaração final em que, com base em quanto foi ilustrado e debatido, os bispos assumem alguns compromissos a pôr em prática para o bom funcionamento das Cáritas. Perguntamos a Albert Mashika o que reteve e em que, enquanto Secretário vai fazer com que os bispos não deixem para trás…

 “Há um certo número de compromissos que vamos traduzir em acções concretas e vejo desde já algumas perspectivas que dizem respeito, por exemplo, ao reforço da sinergia entre as estruturas da Igreja em África, por um lado, e por outro entre estas estruturas e as Cáritas parceiras, assim como também com outras organizações que participam no processo de desenvolvimento em África, naturalmente no respeito da nossa identidade. Compreendi também que os bispos dão uma importância fundamental à questão dos jovens, porque são eles que são o futuro do nosso continente – ouvimos nas comunicações que foram feitas que mais de 60% da população da África é composta por jovens - e vai ser, portanto, necessário investir nos jovens para que, como disseram os bispos, se sintam em casa na Igreja e para que possam participar nas obras da Igreja, obras que visam a promoção integral da pessoa humana; houve também um empenho dos bispos em relação à actuação progressiva das estruturas que foram apresentadas pelo Cardeal Turkson, Presidente do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral. É claro que há também a grande questão dos migrantes e refugiados que vai ser objecto da Campanha da Cáritas Internacional ao longo de dois anos e isso vai requerer que o conjunto das Cáritas da África se empenhem de forma significativa na problemática das migrações e dos refugiados. E nisto vamos abrir um grande campo de colaboração com estruturas da Igreja, mas também com as estruturas que têm a ver com esta problemática e teremos sempre em conta as directrizes pastorais relativas ao respeito da identidade eclesial da Cáritas.”

África Global, aqui na Rádio Vaticano às terças, quartas e sextas. Ouvimos hoje Jacques Dinan, ex-secretário da Cáritas-Africa, natural das Ilhas Maurícias, e Albert Mashika, da RDC, desde há dois anos Secretário Executivo da Cáritas-África. Proximamente nos falará do Plano estratégico que a Cáritas-Africa tem pela frente. 

(DA)








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