Dom Tomasi: não do Papa a armas nucleares cria uma nova mentalidade


Cidade do Vaticano (RV) - O Dia Internacional para a Eliminação Total das Armas Nucleares, celebrado pela Onu na terça-feira (26/09), foi ressaltado também pelo Papa Francisco com o tuíte “Comprometamo-nos por um mundo sem armas nucleares, aplicando o Tratado de não-proliferação para abolir estes instrumentos de morte”.

O Santo Padre sempre expressou-se com veemência, desde o início de seu Pontificado, em favor da proibição das armas nucleares devido a seu forte impacto humanitário e também a despesa que dilapida a riqueza das nações. Dois anos atrás tratou desse tema também na sede da Onu.

Mas a voz de Francisco foi ouvida ao longo destes anos? De algum modo influenciou sobre essa questão? Eis o que responde o secretário delegado do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, Dom Silvano Maria Tomasi, que durante 13 anos foi observador permanente da Santa Sé no escritório da Onu em Genebra, na Suíça:

Dom Tomasi:- “Parece-me que sim, porque, efetivamente, no final de 2014 houve uma grande Conferência promovida pelas Nações Unidas sobre os efeitos humanitários das bombas atômicas. Naquela ocasião o Papa Francisco enviou uma mensagem muito importante aos participantes, na qual pela primeira vez ressaltava o fato que não era aceitável que se pudesse, não somente usar, mas também possuir bombas atômicas. O debate que se seguiu foi muito acalorado, mas no final os cerca de 160 países que estavam presentes, de fato, aceitaram começar a refletir para encontrar um caminho a fim de banir completamente não apenas o uso, mas também a posse das armas atômicas. Depois disso, numa carta ao presidente da Comissão que preparou o texto de uma Convenção sobre a proibição das armas nucleares, o Papa foi muito claro e os pontos concretos por ele propostos foram substancialmente incorporados  na nova Convenção que foi assinada em julho passado.”

RV: De fato, no Dia Internacional para a Eliminação Total das Armas Nucleares, celebrado pela Onu na terça-feira, o Papa pediu em seu tuíte a aplicação do Tratado de não-proliferação, mas, como sabemos, a Coreia do Norte, que o havia ratificado, depois voltou atrás. Qual a validade que essas leis podem ter? Falta, a seu ver, um alicerce jurídico aplicável a uma matéria dessa natureza?

Dom Tomasi:- “A Nova Convenção não é, certamente, a resposta completa ao artigo VI do Tratado de não-proliferação que solicita que seja sistematicamente discutido e aplicado um desarmamento geral no que diz respeito às armas nucleares. Porém, é também um grande passo avante do ponto de vista global, porque deslegitima as armas nucleares, como fora feito precedentemente nos Tratados para banir as minas antipessoais, as bombas de fragmentação e assim por diante. O que faltava era um documento, um acordo explícito da comunidade internacional para proibir também esta outra fonte de possível destruição em massa representada pelas armas nucleares. Portanto, agora podemos dizer que se pode dar o passo definitivo também de um ponto de vista jurídico, esperando o envolvimento dos países que possuem armas atômicas.”

RV: A Coreia do Norte voltou a ser ameaçadora e em 15 de outubro próximo se negocia o Tratado sobre o nuclear iraniano...

Dom Tomasi:- “É claro que a situação é muito complexa, porém, em primeiro lugar, se deve criar uma cultura e uma mentalidade que reforcem a rejeição completa às armas atômicas. De fato, há quase uma democratização – diria – da discussão sobre armas atômicas que vai além dos países importantes que têm essas armas, e que é expressa por uma vasta maioria dos países do mundo. No que tange à Coreia do Norte, é necessário que o problema seja abordado, sobretudo, no diálogo; não me parece muito sábio criar um muro e criar dificuldade para a possibilidade de dialogar. Porém, é preciso também colocar o problema da resposta no caso da Coreia do Norte e de outros casos análogos num contexto mais vasto: a segurança, o bem-estar e a paz, são assegurados não tanto mediante a ameaça de uma destruição recíproca, mas uma solidariedade que responde às exigências primárias dos países mais pobres, países menores que buscam afirmar sua existência também mediante posições que não são aceitáveis, como o desenvolvimento das armas atômicas. Portanto, é verdade que há dificuldades, porém existem as premissas políticas e jurídicas para buscar encontrar um novo caminho que posa influenciar também a Coreia do Norte, porque é um caminho aberto a reconhecer as outras exigências que este país pode ter.” (RL/AM)








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