Segurança e reconstrução: desafios para o retorno dos cristãos à Planície de Nínive


Bagdá (RV) -  Segurança e reconstrução são os principais desafios para os cristãos que lentamente retornam para suas casas na Planície de Nínive, de onde foram obrigados a sair às pressas há três anos, a maioria somente com a roupa do corpo, fugindo da fúria dos combatentes do autoproclamado Estado Islâmico.

“Para os cristãos iraquianos, retornar aos seus povoados significa voltar à vida, voltar à praticar a nossa fé nas terras de nossos avós. Voltar para reconstruir aquilo que o Estado Islâmico destruiu dentro de cada um de nós, a liberdade, a segurança, a alegria”, sublinha a Irmã Silvia, religiosa dominicana que em uma noite de agosto de 2014, junto a cerca de outras trinta irmãs e outros cristãos, foi obrigada a buscar refúgio em Irbil, capital do Curdistão iraquiano.

A fuga

A religiosa, originária de Alqosh, recorda em um testemunho à Agência Sir a dramaticidade daquela fuga: “Foi uma fuga em massa, porque sabíamos o que havia acontecido nos dias precedentes aos yazidis, 400 jovens mortos e 5.000 jovens vendidas como escravas”.

Os primeiros sinais do que estavam para acontecer já eram perceptíveis no mês de junho, quando os milicianos do Estado Islâmico começaram a se espalhar pela Planície do Nínive: “Sem água e luz, ouvíamos os disparos entre os milicianos e o exército, relata a Irmã. Os cristãos eram intimados a abandonar os povoados ou a converterem-se ao islã ou a morte.

A solidariedade da Igreja Católica

Nestes anos a vida em Irbil não foi fácil: “Quem pode, pediu ajuda aos familiares. Nos primeiros tempos muitos dormiram nos jardins, nas ruas e nas igrejas. Nós permanecemos com a nossa gente – contou a Irmã Silvia – levando a eles apoio espiritual e material. Tantíssimas as ajudas que chegaram nestes anos graças à Igreja Católica e a seus organismos, como a Ajuda à Igreja que Sofre, a Caritas, a Missio, que doaram kits higiênicos, vestuário, remédios, montando casas pré-fabricadas e contribuindo para pagar também a metade do aluguel para aqueles que tiveram que alugar um local para morar”. Assim, surgiram escolas, pequenas clínicas para atender os doentes. E ninguém mais dorme pelas ruas.

Soldados muçulmanos

O reconhecimento da religiosa vai também “aos nossos soldados muçulmanos que sacrificaram as suas vidas, pois acreditam que os cristãos fazem parte do Iraque, são iraquianos”.

Palavras que adquirem um significado ainda mais profundo quando a religiosa revela que “uma vez libertados os povoados da Planície, os militares quiseram recolocar os crucifixos em seus devidos  lugares. Quando viram os sacerdotes retornar para o que restou de suas igrejas, fizeram festa e onde era possível, tocaram os sinos. Alguns dos soldados pediram para rezar com os nossos padres”.

Obstáculos para o retorno

Hoje, porém, muitos dos cristãos que encontraram abrigo em Irbil, pensam em voltar para seus povoados. Todavia, não faltam obstáculos para o retorno deles.

“os principais – afirma a religiosa – são a segurança e a destruição. Verdadeiras emergências. Os escombros estão por tudo. Existem povoados onde não ficou uma casa em pé. Igrejas e conventos profanados e devastados. Também o nosso em Qaraqosh, dedicado a Maria Imaculada, e que agora queremos reconstruir com o apoio da Ajuda à Igreja que Sofre”.

Lentamente as famílias cristãs começam a voltar. Em Tellesakof são mais de 700, em Qaraqosh cerca de 500. Aqui está recomeçando a vida nos pequenos negócios, uma escola e um pequeno centro clínico”.

Projeto de reconstrução será apresentado em Roma

Nesta direção, vai o projeto da AIS a ser apresentado dentro e poucos dias em Roma, e que visa a reconstrução de 13.000 casas destruídas na Planície de Nínive, um verdadeiro “Plano Marshall” cujo custo estimado é de cerca 250 milhões de dólares.

“Apoiar a esperança do povo iraquiano é difícil – admite Irmã Silvia – porque não há esperança onde há guerra. Por isto temos necessidade da presença de Deus, a única que pode nos dar esperança”.








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