Encontro discute papel dos bispos no serviço da caridade na África


Dacar (RV) - “Nos últimos anos, todas as Caritas africanas enfrentaram o que definimos um problema de ‘visão’, porque até então a Caritas foi concebida somente como a instituição que em caso de dificuldade ou desastres naturais distribui fundos provenientes do exterior. A Caritas não foi percebida principalmente como uma organização de uma Igreja que identifica suas necessidades, mobiliza fundos das próprias estruturas e se desenvolve e cria assim instituições que possam intervir em tempo.”

O bispo de Atakpamé e presidente da Caritas Togo, Dom Anani Nicodème Yves Barrigaha-Bénissan, explica desse modo a necessidade de uma nítida mudança na gestão das atividades caritativas da comunidade eclesial no continente africano. Uma mudança de “visão” que emergiu durante os trabalhos do encontro dos bispos africanos sobre a atuação da Caritas.

“Organizar o serviço da Caritas na África: o papel dos bispos” foi o tema do Encontro continental – o segundo após o que se realizou em novembro de 2012 na República Democrática do Congo – que de 18 a 21 do corrente reuniu em Dacar, no Senegal, cerca de 200 delegados, entre os quais 100 cardeais, arcebispos e bispos.

Entre estes encontravam-se o prefeito do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, Cardeal Peter Turkson; o arcebispo de Manila e presidente da Caritas Internacional, Cardeal Luis Antonio Tagle; o presidente do Simpósio das Conferências episcopais da África e Madagáscar, Dom Gabriel Mbilingi; e o presidente da Caritas África, Dom Gabriel Justice Yaw Anokye.

Os trabalhos foram norteados pela dimensão social da evangelização num campo de ação tão vasto como o da África. As organizações que têm ligação com a Caritas África empregam em sua obra mais de 38 mil pessoas, auxiliadas pelo trabalho de quase meio milhão de voluntários.

Somente na África subsaariana, mediante ações de socorro e de desenvolvimento, são beneficiadas mais de 73 milhões de pessoas, com uma despesa econômica equivalente a mais de 182 milhões de euros.

Trata-se, portanto, de um esforço relevante que, todavia, precisa ser profundamente repensado, ressaltou-se. “Quando confiamos exclusivamente nas ajudas externas, e aqueles que fazem parceria conosco não estão mais dispostos a financiar-nos, então as estruturas criadas ao invés de ajudar tornam-se um peso, explicou Dom Barrigaha-Bénissan.

Essa é uma dificuldade encontrada por todas as Caritas. Eis o motivo pelo qual estou falando de uma nova visão. Em que consiste essa mudança? Em primeiro lugar é preciso “sensibilizar os fiéis de modo que saibam desde já que a Caritas não parte de outros países, mas se baseia em nós mesmos. Isso significa que a Caritas deve ser instituída a nível de todas as paróquias de modo que todos os fiéis saibam que devem participar”, explicou.

“Portanto, continuou, é uma questão de sensibilização, mudança da nossa visão, mobilização de fundos, identificação das exigências específicas e reforço dessa instituição”, acrescentou. Nesse sentido, “permanece sendo fundamental o papel do bispo, que é o primeiro responsável pela Igreja local e pelas atividades da Caritas”, completou o prelado.

“A Caritas pode funcionar somente se o próprio bispo tiver a convicção desta nova visão, se for investido, circundado por pessoas competentes e mobilizar a base para mudar a visão”, ressaltou ainda.

Nessa perspectiva, em seu pronunciamento o arcebispo de Dacar e presidente da Conferência Episcopal Senegalesa, Dom Benjamim Ndiaye, recordou o laço estreito e forte entre o Evangelho e a promoção humana mediante o serviço aos mais pobres.

O arcebispo senegalês ressaltou que em contextos multiconfessionais, e muitas vezes de maioria islâmica, a presença da Caritas não somente contribui para o desenvolvimento socioeconômico da população, mas oferece também, como parte do desenvolvimento humano, grandes oportunidades de experimentar o diálogo entre fiéis, em particular entre cristãos e muçulmanos.

Tratou-se de um aspecto amplamente partilhado pelo núncio apostólico no Senegal, Dom Michael Banach. O representante vaticano destacou que “a caridade é uma dimensão à qual a Igreja não pode renunciar”.

Renovando o apelo à unidade e à reflexão por uma caridade africana ativa, Dom Banach evidenciou que “a caridade é a única força que une os povos e reforça seu laço com Deus neste mundo marcado por atrocidades”. (RL/L’Osservatore Romano)








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