Renovação litúrgica: Vinde Senhor Jesus!


Cidade do Vaticano (RV) – No nosso espaço Memória Histórica, 50 anos do Concílio Vaticano II, vamos  continuar a falar no programa de hoje sobre a renovação litúrgica trazida pelo Concílio.

Temos refletido neste nosso espaço sobre a renovação da liturgia eucarística a partir da aclamação pós-conciliar introduzida na liturgia depois da consagração. Nos programas anteriores, comentamos as frases: “Eis o mistério de nossa fé!”, “ Anunciamos, Senhor, a vossa morte!”,  e “Proclamamos a vossa ressurreição!”. No programa de hoje, o sacerdote incardinado na Arquidiocese de Porto Alegre, Padre Gerson Schmidt  - que tem nos acompanhado neste percurso - nos traz uma reflexão sobre o quarto e último ponto: “Vinde Senhor Jesus!”:

“Estamos aqui refletindo a renovação da liturgia eucarística, a partir da aclamação pós-conciliar que foi introduzida na liturgia depois da consagração: “Eis o mistério de nossa fé! Anunciamos, Senhor, a vossa morte e proclamamos a vossa ressurreição. Vinde, Senhor Jesus”. Comentamos cada frase dessa aclamação, faltando ainda a última frase: Vinde, Senhor Jesus.

Há um termo que é utilizado na Escritura para esse apelo litúrgico que fazemos: Maranatha (do original em hebraico מרנא תא, maranâ tâ, "vem, Senhor!"). O termo é a composição de duas palavras, que transliteradas dão origem à palavra Maranatha e que significa "O Senhor vem!" ou ainda "Nosso Senhor vem!".

Maranatha é uma expressão aramaica que ocorre duas vezes na Bíblia. Primeiramente empregada pelo apóstolo Paulo na Primeira Epístola aos Coríntios capítulo 16 versículo 22 : “Se alguém não ama ao Senhor, seja anátema. Maranatha”. A palavra parece ter sido usada como uma "senha" entre os cristãos da igreja primitiva, e provavelmente foi neste sentido usada pelo Apóstolo Paulo. 

No desfecho do livro do Apocalipse, a mesma expressão é utilizada como uma oração ou pedido, na língua grega, e traduzida por: “Vem, Senhor”. Maranatha, - Vem, Senhor, Jesus – aqui é incluído na liturgia nessa aclamação que estamos comentando aqui nesse espaço. É nesse sentido de súplica, de um pedido ardente, que é utilizado na liturgia – manifestando a presença do Senhor na Ceia e suplicando o seu retorno na Parusia.

Na época do Velho Testamento, o Rei viajava para fazer justiça. Um arauto (Mensageiro do Rei) ia adiante dele tocando a trombeta e advertindo o povo: O Rei está vindo, Maranatha!. Aqueles que esperavam por justiça desejavam a vinda do Rei. O povo da terra a ser visitada preparava-se para sua chegada limpava e reparava os caminhos, demonstrando assim obediência e desejo de agradar ao Rei. 

A palavra Maranatha era também utilizada nos cultos, na Igreja primitiva, para invocar a presença do Senhor na Ceia. Era usada ainda para expressar o desejo de seu retorno para estabelecer seu Reino. Equivale ao pedido feito pela Igreja na oração dominical: “Venha o teu Reino”. Com relação à volta do Senhor Jesus, “Maranatha” tinha um duplo sentido: era uma oração — “Vem, Senhor” — e uma expressão de fé — “O Senhor está voltando!”. A frase pode ter sido usado como saudação entre os primeiros cristãos, e é possivelmente desta maneira que ele foi usado pelo apóstolo Paulo.

Apontamos já na última oportunidade que na frase anterior “proclamamos a vossa ressurreição” está implícito, nessa resposta da assembleia, um dever do kerigma, do anúncio do Cristo Ressuscitado dos mortos. Não podemos pedir, em seguida, que Ele volte sem a nossa pronta atitude de levar essa notícia a todos os povos, proclamando a Ressurreição a toda a criatura. É como um imperativo - O Senhor não virá antes do que o Evangelho seja proclamado, a toda a criatura.

A Eucaristia é sacramento do Reino o qual ainda não se realizou plenamente e que ultrapassa toda imaginação e expectativa. Não é um reino simplesmente humano, social e político. Mas é um reino universal, transcendental, não pura obra humana, embora perpasse por ela. Deus em tudo e em todos (1 Cor 15,28). O Reino que pedimos que aconteça não é deste mundo. Por isso, em cada liturgia, antecipamos a eucaristia celeste, que é celebrada no céu. Aqui, em figuras, já prefiguramos a ação de graças escatológica que será celebrada eternamente no Reino vindouro. Como diz a Constituição Sacrossanctum Concilium, n.08: “Na liturgia da terra nós participamos, saboreando-a já, da liturgia celeste, que se celebra na cidade santa de Jerusalém, para a qual nos encaminhamos como peregrinos”(SC,08)”. 








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