Dom Erwin: "Novo decreto é versão 'light' do primeiro"


"Cidade do Vaticano (RV) - Diante da repercussão negativa causada pelo decreto que extinguiu a Reserva Nacional de Cobre e seus Associados (Renca), localizada entre o Pará e o Amapá, na Amazônia, o governo Michel Temer revogou o texto e editou um novo decreto na noite desta segunda-feira (28/08), em edição extra do Diário Oficial da União.

A nova redação mantém, contudo, a extinção da Renca, abrindo o território a empresas mineradoras interessadas na exploração de ouro, ferro, manganês e tântalo, o que aumenta a pressão sobre as nove unidades de proteção que se sobrepõem à reserva, incluindo duas terras indígenas.

Dentro da Renca, uma área de 46.450 quilômetros quadrados do tamanho do Estado do Espírito Santo, estão nove áreas de conservação ambiental e reservas indígenas. Até então, somente a Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM), uma empresa pública pertencente ao Ministério de Minas e Energia, podia fazer pesquisa geológica para avaliar as ocorrências de minérios neste território com alto potencial de ouro e outros metais preciosos.

O caso continua repercutindo, justamente na semana em que se celebra o Dia Mundial de Oração pela Criação, uma data instituída pelo Papa há 3 anos.

Conosco, o Presidente da REPAM-Brasil e Secretário da Comissão Episcopal para a Amazônia, o bispo emérito de Xingu, Dom Erwin Krautler: 

“É uma afronta à Amazônia. Agora, pela pressão por parte da Igreja, de outras entidades, ambientalistas e celebridades brasileiras, ele recuou. Mas recuou só parcialmente. O amago da questão continua em vigor e o cerne deste decreto continua firme". 

                                   "Esta é, por assim dizer, uma edição ‘light’ do decreto, mas não muda o contexto da agressão à Amazônia".

"Praticamente acontece que a Amazônia, mais uma vez, está sendo degradada a uma ‘província mineral’ sem respeito às populações que aqui se encontram, indígenas ou não. Simplesmente se decreta: uma canetada do Presidente da República, simplesmente decidem sobre a Amazônia. Os povos locais não são consultados, não têm direito de opinar, são colocados diante de um fato consumado; é um absurdo numa democracia, afinal de contas, nós fazemos parte deste Brasil grande, somos povos que vivem desta terra e lutam pelo futuro das gerações vindouras. Não podemos admitir que o Presidente sem mais nem menos decida, acatando interesses e ambições destas mineradoras”.

“Olhe, onde isso acontece – eu tenho experiência nisso, eu vi lá no Xingu – onde mineradores estão passando, o que sobra é uma paisagem lunática, de crateras: não tem mais condição de uma vida normal, nem para animais nem para seres humanos”.

“Vão agredir a selva, vão agredir o meio ambiente, e muito! As consequências são irreversíveis. Não tem fiscalização coisa nenhuma, eles fazem o que bem entendem, e não há poder que possa se opor ou fiscalizar estas empresas. Depois, fala-se que o Brasil vai ganhar ‘royalties’... sabem aonde ficam?    

      "Nós ganhamos umas migalhas, mas o grosso mesmo, o ouro puro, estão levando para o exterior. E o Brasil está sendo fraudado”

Ouça a reportagem completa aqui.

(CM)








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