Tanger (RV) - “A sociedade europeia precisa urgentemente tomar consciência das repercussões da crise de refugiados: manter as pessoas fora das fronteiras não pode ser solução”. É o que afirma Dom Santiago Agrelo, arcebispo de Tanger, em Marrocos, entrevistado pela agência Ecclesia.
Pela proximidade geográfica de sua diocese ao problema, o arcebispo lida diariamente com migrantes e refugiados subsaarianos que atravessam o deserto em busca de uma entrada na Europa.
A denúncia
“No deserto morre muita gente e não se fala nem dos perigos, nem das humilhações, nem das mortes que os migrantes sofrem na travessia. A Europa sabe o que acontece com os migrantes e refugiados no Mediterrâneo, e no Estreito de Gibraltar, mas não parece que se incomoda muito com isso”, lamenta.
O arcebispo espanhol, que dirige a Arquidiocese de Tanger há 10 anos, realça o desespero que marca hoje a vida de muitas pessoas:
“Mesmo que entrem de forma legal num país, rapidamente entram na ilegalidade. Aí, multiplicam-se os problemas no acesso a alojamento, alimentação, vestuário... são obstáculos que a maior parte dos europeus não imaginam porque não passaram por isso”, aponta, acrescentando:
“A ilegalidade não escorre nas veias dos refugiados. As nações europeias é que os levam à ilegalidade, quando não lhes deixam nenhuma alternativa de buscar o futuro, futuro a que têm todo o direito de buscar onde lhes pareça melhor. É um direito reconhecido por todas as nações que assinaram a Carta dos Direitos Fundamentais do Homem: o direito de migrar, o direito à integridade física, direitos que se violam constantemente”, salienta.
Em relação ao trabalho da Igreja Católica, Dom Santiago Agrelo frisa que deve passar sobretudo pela percepção das necessidades das pessoas e ajudá-las a vencer os problemas”.
“Respostas políticas cabem aos políticos, o que neste momento não estão fazendo. Não vemos respostas políticas para esta crise, eles estão simplesmente ignorando o problema e tentando manter os pobres fora de suas fronteiras”, conclui.
(cm)
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