CV II e a reforma litúrgica: Anunciamos Senhor a vossa morte!


Cidade do Vaticano (RV) - No nosso espaço Memória Histórica - 50 anos do Concílio Vaticano II, vamos continuar  a tratar na edição de hoje sobre a reforma litúrgica trazida pelo Concílio.

As mudanças na liturgia introduzidas pelo Concilio Vaticano II são muito significativas. Visando um melhor entendimento delas, temos trazidos neste nosso espaço algumas reflexões sobre esta renovação. No programa passado, falamos sobre o significado da expressão "Eis o mistério da Fé". Na edição de hoje, o Padre Gerson Schmidt, que tem nos acompanhado neste percurso, nos trás a reflexão de um segundo ponto: a resposta da assembleia após a consagração "Anunciamos Senhor a vossa morte":

"Os liturgistas brasileiros Ione Buyst e Dom Manoel João Francisco, apontam alguns grandes traços teológicos de mudança implícitos na renovação da liturgia eucarística, a partir da aclamação pós-conciliar, proclamada depois da consagração: “Eis o mistério de nossa fé! Anunciamos, Senhor, a vossa morte e proclamamos a vossa ressurreição. Vinde, Senhor Jesus”. Essa aclamação está baseada na primeira Carta aos Coríntios: 1Cor 11,26. Na oportunidade anterior falamos da aclamação do sacerdote: eis o mistério de nossa fé. Apontamos que se refere ao mistério pascal atualizado em cada Eucaristia.

Hoje começamos a refletir a resposta da assembleia litúrgica: Anunciamos, Senhor, a vossa morte. Nós não podemos dissociar o Senhor ressuscitado e glorioso do servo sofredor. Não há glorificação, sem passar pelo caminho da crucificação. Cristo entrou na morte, livremente, para destruir nossa morte. Ele mesmo diz em João 10,18: “Ninguém a tira (a vida) de mim, mas eu a dou livremente; tenho poder para a dar, e poder para tornar a tomá-la. Este mandamento recebi de meu Pai”.

O documento de renovação litúrgica Sacrossanctum Concilium, no número 05, afirma essa kênosis, esse esvaziamento de Cristo na morte. Diz o documento conciliar que Cristo completou a obra da redenção humana. No mistério pascal, Cristo “morrendo, destruiu a nossa morte e, ressurgindo, deu-nos a vida” (frase tirada do prefácio da Páscoa do Missal Romano). Pois, do lado de Cristo agonizante sobre a cruz nasceu “o admirável sacramento de toda a Igreja” (Santo Agostinho). Como do lado aberto de Adão que dorme, nasce Eva, é do lado aberto de Cristo, na cruz, que dormita em sua morte, que nasce a Igreja, nova Eva, sem ruga e sem mancha.

Ione Buyst e Dom Manoel João Francisco dizem que “o caminho da superação não passa pela eliminação do sofrimento ou pela alienação do sofrimento, mas passa por dentro dele, na esperança de vencer”[1]. O amor sempre supõe um sacrifício, uma morte. Na liturgia, por excelência, nós anunciamos fundamentalmente a morte de Cristo, o mistério de sua entrega total na cruz por amor à humanidade.

A Constituição Sacrossanctum Concilium, no número 06, também afirma que a Igreja pelos séculos, desde a Igreja primitiva, jamais deixou de reunir-se para celebrar o mistério pascal: lendo “tudo quanto nas Escrituras a ele se referia” (Lc 24,27), celebrando a Eucaristia na qual “se representa a vitória e o triunfo de sua morte” e, ao mesmo tempo, dando graças “a Deus pelo seu dom inefável” (2Cor 9,15) em Cristo Jesus, “para louvor de sua glória” (Ef 1,12) por virtude do Espírito Santo. O Concílio, nesse número 06, diz que a Eucaristia, que além de Eucaristós= Ação de Graças, é celebração na qual se “representa a vitória e o triunfo de sua morte”. Aqui entendemos que esse representa não apenas uma representação qualquer, como num teatro. Mas é uma memória viva, atualizada, onde anunciamos a morte e a vitória de Cristo sobre ela, até que Ele venha no Reino definitivo".

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[1] Livro desses autores citados – Mistério Celebrado Memória e compromisso II,Paulinas, SP, 2004, p. 36.








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