Editorial: Momento de conversão


Cidade do Vaticano (RV) – Todos os dias somos bombardeados com notícias e imagens, através dos meios de comunicação, de guerras fratricidas, de morte e desespero de homens, mulheres e crianças. Vivemos o cotidiano de conflitos com a “ilusão” de que tudo faz parte da imaginação, e não da realidade, e que ao desligarmos a televisão ou rádio, tudo desaparece. O Papa Francisco não se cansa de chamar a atenção para essa dor causada pelo próprio homem, para a dor do irmão que cai sob a violência de outro irmão; e tudo pela busca efêmera de poder, de dinheiro, de querer ser mais do que o outro, de querer ter mais direitos.

Apelos para que se coloquem fim a essas violências são uma constante nas palavras de Francisco, que olha para além das fronteiras erguidas pelos países, para além das raças e religiões a que pertencem as pessoas, e de sua condição social. Um dos últimos apelos foi na quarta-feira passada durante a Audiência Geral na Sala Paulo VI. Antes de saudar os peregrinos italianos já no final do encontro, o Papa recordou os atos de violência contra os cristãos na Nigéria e na República Centro-Africana. Ele disse estar profundamente entristecido pela tragédia ocorrida no último domingo na Nigéria, dentro de uma igreja, onde foram mortas pessoas inocentes. E infelizmente na manhã de quarta tinha chegado notícias de violências homicidas na República Centro Africana também contra a comunidade cristã. “Faço votos  - disse Francisco - que cesse toda a forma de ódio e de violência e não se repitam mais crimes assim vergonhosos, perpetrados em locais de culto, onde os fiéis se reúnem para rezar”.

O que o Papa diz a essas nações, sacudidas por episódios de violências inúteis, serve para todas aquelas realidades onde a paz ainda é uma quimera, onde a violência é o tom dos discursos e conversas. “Sem paz não existe desenvolvimento”, afirmou várias vezes Francisco. A guerra ceifa a vida de pessoas inocentes, provoca divisões e causa pobreza, fome, doenças e morte. “Não podemos permanecer indiferentes diante dessas realidades”, afirma Francisco constantemente, ele que não se esquece também da dramática situação dos refugiados, migrantes e deslocados obrigados a se exilarem, em condições contrárias à sua dignidade; a grande parcela deles não é considerada gente, mas sim estatística sem nome.

Os apelos do Papa em prol do fim dos conflitos em todo o mundo, como o da Síria, Sudão, Iraque, Nigéria, República Centro-Africana, visam tocar as partes envolvidas, mas também a comunidade internacional, para que essas espirais de violência tenham um fim e que as ajudas humanitárias, que permitem a sobrevivência de povos inteiros, cheguem sem obstáculos aos verdadeiros necessitados. A morte e o sofrimento de tantos inocentes devem impulsionar a busca, sem medidas, de soluções pacíficas, onde o respeito pela dignidade de cada homem e de cada mulher esteja no centro de todos os interesses.

Cresce nestes dias a tensão entre Estados Unidos e Coreia do Norte, novo foco de atenção da diplomacia mundial, situação que o Papa Francisco está seguindo. Inúteis até o momento os convites à moderação nas palavras e nas ações por parte da Europa e da China. O presidente dos EUA Trump ameaça “fogo e chamas” contra Pyongyang, que por sua vez se disse capaz de atingir os EUA, com mísseis nucleares que continua a testar com essa finalidade.

Hoje vivemos um momento particular da história da humanidade, com o desenvolvimento de tantas opções tecnológicas, de tantas oportunidades de vencer doenças antes incuráveis, de correr o mundo em segundos com as redes telemáticas, de poder acabar com o sofrimento imane de multidões de deserdados, e não conseguimos – apesar das possibilidades – sentarmos ao redor da mesma mesa para resolver questões que alimentam violências, e desenvolver uma “cultura do encontro”. Sim para desenvolver essa cultura do encontro – tão pedida pelo Papa Francisco - devemos, antes de tudo, rejeitar o egoísmo, a centralidade de pensamento, - só eu sei, só eu posso -, rejeitar o pensamento de ver no outro somente um inimigo, e não um irmão com quem trabalhar junto.

Hoje é difícil encontrar o outro e respeitá-lo na sua totalidade, deixando de lado o desejo pessoal. A arte do encontro que tanto o Papa pede, somente será uma realidade quando todos nós, cada um de nós, nos descobrirmos limitados, necessitados do outro. Descobrirmos que não podemos viver sozinhos e que não somos o centro de tudo, existe o outro.

É o momento da conversão para o outro, da conversão do coração, da consciência para um mundo mais justo, mais fraterno, de partilha. Mente e coração em um novo momento de crescimento, de reconciliação, de diálogo. Somente assim a paz poderá ser uma realidade para todos os homens e mulheres deste mundo. (Silvonei José)

 








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