Primeiro purpurado do Laos fala sobre sua criação cardinalícia


Vientiane (RV) - “Nossa pobreza, o sofrimento e a perseguição são as três colunas que reforçam a Igreja.” Citando as palavras do Papa Francisco, o vigário apostólico de Paksé, no Laos, Cardeal Louis-Marie Ling Mangkhanekhoun, explica as razões do Pontífice para sua nomeação a primeiro purpurado laosiano na história da Igreja.

Em 21 de maio passado, ao término da recitação do Regina Caeli, o Santo Padre anunciara surpreendentemente a designação de cinco novos cardeais, entre os quais o Cardeal Ling, criados no Consistório da última quarta-feira, 28 de junho.

A memória dos mártires

Nos dias 16 e 17 de junho passado, cerca de 350 católicos de etnia Hmong, Kmhmu, Lao e Karen se reuniram em Belleville, Illinois, nos EUA, para reviver e celebrar a vida de 17 mártires do Laos, seu país natal, com gratidão e agradecimento pelo exemplo de vida de fé que estes deixaram.

Participou do evento também o vigário apostólico de Paksé, que concedeu uma entrevista ao National Catholic Reporter falando sobre sua criação cardinalícia e sobre a vida da Igreja católica no Laos.

Pobreza, sofrimento e perseguição

Durante a conversação, o purpurado falou de sua grande surpresa e da onda de felicitações que se seguiu ao anúncio de sua nomeação cardinalícia. Interpelado sobre as motivações que levaram a Santa Sé a tal escolha, o Cardeal Ling recordou a visita ‘ad Limina’ dos bispos do Laos e o encontro com o Papa Francisco realizado em 26 de janeiro passado:

“Durante a visita o Papa nos disse que ‘a força da Igreja reside na Igreja local e, de modo particular, na Igreja pequena, frágil e perseguida. Essa é a espinha dorsal da Igreja universal’. No dia seguinte celebramos a missa com o Santo Padre e mais uma vez ele reiterou esse tema em sua homilia. Isso me impressionou.”

Dessas afirmações, acrescentou, “cheguei à conclusão de que a força da Igreja vem da paciência, da perseverança e da vontade de aceitar a realidade da fé. Isso me levou a pensar que a nossa pobreza, o sofrimento e a perseguição são as três colunas que reforçam a Igreja”.

Católicos são menos de 1% no país do sudeste asiático

No Laos vivem cerca de 45 mil católicos – menos de 1% de uma população de seis milhões e quatrocentas mil pessoas – assistidos por 20 sacerdotes e 98 religiosos em 218 paróquias.

Numa entrevista de 2015 à agências AsiaNews, o vigário apostólico havia definido a Igreja laosiana uma “Igreja criança, que vive o primeiro anúncio, voltada sobretudo para os tribais e os animistas”.

Uma Igreja que testemunha sua fé em meio a mil e uma adversidades: após a tomada do poder por parte dos comunistas do Pathet Lao em 1975, os missionários estrangeiros foram expulsos e os católicos perseguidos. Monges e sacerdotes foram detidos ou enviados aos campos de reeducação. O próprio cardeal passou por isso: “Estive no cárcere durante três anos”, disse ele.

A evangelização do país

Hoje, a República Popular Democrática do Laos se abriu ao mundo externo. Todavia, apesar das reformas econômicas, o país do sudeste asiático permanece pobre e dependente da ajuda externa. Ademais, o governo exerce um rigoroso controle sobre as religiões e sobre a mídia.

Laos não tem relações diplomáticas com a Santa Sé

A criação do primeiro cardeal do Laos é, para a comunidade local, motivo de esperança num progresso das relações entre o Vaticano e o governo laosiano:

“Entre os países do sudeste asiático somente o Laos não tem relações diplomáticas com a Santa Sé. Há um ponto interrogativo sobre essa relação e estou trabalhando nisso. Podemos mudar o modo de pensar do governo, convencendo-o de que não somos seus inimigos. Somos amigos. Devemos construir essa amizade. Se ambas as partes trabalharem juntas, as coisas no futuro melhorarão”, ponderou o Cardeal Ling. (RL/AsiaNews)








All the contents on this site are copyrighted ©.