Patriarca caldeu: presença cristã estrangeira traria confiança e esperança


Bagdá (RV) - O Patriarcado caldeu "condena com firmeza" a destruição da Mesquita Al-Nouri e do minarete pendente, porque estes atos "não devastam somente a história" de uma cidade e de um país, mas também "a memória das pessoas, a sua cultura".

Foi o que declarou à Agência Asianews o Patriarca da Igreja Caldeia Louis Raphael Sako, ao comentar a destruição de um dos mais importantes locais de culto de Mosul, por obra dos jihadistas do autoproclamado Estado Islâmico.

"O Daesh (acrônimo árabe para o EI) é como a besta do Apocalipse", denuncia o Primaz da Igreja Caldeia, ao deplorar o desaparecimento "de um local de culto antigo", convidando "o mundo inteiro a se mexer e agir" para derrotar esta cultura de morte.

Volta à normalidade e retorno dos refugiados

Depois das graves e sistemáticas violências realizadas pelo EI, a área oriental de Mosul e os vilarejos da Planície do Nínive libertados graças à ofensiva árabe-curda, começaram lentamente a voltar à normalidade.

Mas para ocorrer o retorno dos refugiados, é necessário reconstruir as casas e colocar em segurança o terreno, visto a quantidade de minas enterradas pelos jihadistas.

O objetivo é apoiar a reconstrução em uma perspectiva de unidade e pluralismo entre as diversas religiões, etnias e culturas, com o desejo de que Mosul e Nínive possam se tornar no futuro um verdadeiro modelo de vivência comum e liberdade religiosa.

Nova cultura de confiança entre cristãos e muçulmanos

Interpelado pela Asianews, o Patriarca Sako fala de um "clima diferente entre os refugiados em relação há um ano". Hoje - observa - ganha força "uma nova cultura de convivência, da confiança entre cristãos e muçulmanos".

Nos dias passados o Patriarca visitou o setor oriental de Mosul, onde encontrou liderança militar e civil, mas também a população libertada há pouco das mãos do EI.

Sem a presença cristã Mosul não será a mesma

"Todos, também os muçulmanos - conta - dizem que os cristãos devem retornar, que sem eles a cidade não será a mesma. E encontrei uma vida quase normal, não obstante os sofrimentos".

Em Mosul, o Primaz da Igreja Caldeia visitou também a Igreja Espírito Santo, onde há 10 anos foi assassinado o Padre Ragheed Ganni, junto a três dáconos, todos mortos por causa de sua fé.

"Rezamos pelos nossos mártires, contou. Quis visitar também a minha casa paterna, que esteve por longo tempo nas mãos do Isis. Agora acolhe duas famílias muçulmanas. Eu disse a eles que poderiam ficar. E ainda as igrejas, todas danificadas, uma realidade transformada, ou melhor, profanada. O Daesh quis apagar a memória cristã. Agora temo pela Cidade Antiga, onde estão os locais de culto mais antigos da história cristã da região".

Deixar para trás a cultura de morte

É preciso ajudar o Iraque - diz o Patriarca, a sua gente, para "deixar para trás a cultura de morte do Isis". "Sofremos muito, todos, cristãos, muçulmanos, curdos, árabes, turcomanos e não deve permanecer nada desta ideologia. É um trabalho enorme a ser feito e todos devem colaborar juntos, para abrir um novo capítulo".

"Não é preciso derrotar as pessoas - enfatiza o Patriarca - mas a ideologia, porque ainda está presente. E trabalhar pela unidade do país, reconstruindo as relações de amizade e as ligações entre as pessoas".

Patriarca convida ocidentais a levarem pessoalmente seu apoio

"Por isto, aproveitando o período de verão de férias - prossegue - convido os cristãos na Europa e no Ocidente a virem até nós, no Curdistão iraquiano, para fornecer uma ajuda que não seja somente material, mas também e sobretudo humana e espiritual".

No momento - explica - "estão aqui alguns grupos de franceses" que responderam ao convite, mas é fundamental que um número maior de pessoas "acompanhem estas pessoas", ensinando a eles "a ter mais confiança no futuro".

"A presença estrangeira aqui - sublinha o Patriarca Sako - pode criar uma outra atmosfera, de confiança e de esperança", após um longo período de "medo e desespero".

"Não temos necessidade somente de dinheiro - ressalta - mas também de relações humanas, de troca e de conhecimento. E também de uma contribuição na reconstrução, em um renascimento que passa por casas limpas, igrejas restituídas à sua função original, de obras manuais a serem completadas".

A presença de cristãos ocidentais pode ajudar a nos sentir menos sozinhos e se torna um estímulo para que as pessoas arrisquem, tornando-se elas próprias protagonistas da reconstrução. "Não se pode esperar uma ajuda, em dinheiro ou obras do exterior e permanecer inertes".

Retorno à Planície de Nínive

Uma pequena parte da população já conseguiu retornar para suas casas na Planície de Nínive. Em Teleskuk, vivem 635 famílias, em Baqofa 30, das 70 originalmente, em Qaraqosh retornaram 126 famílias, num universo de 40 mil pessoas que viviam na cidade.

Muitas pessoas vão até estes locais somente para ajudar na reconstrução, retornando para dormir em suas próprias cidades. Mas além dos trabalhos de reconstrução - vistos também em Batnaya, Bartella e Karamles - foram retomados também os trabalhos na agricultura.

Mas ainda falta eletricidade, faltam escolas, falta concluir o ano escolar e os exames, sem falar que muitos refugiados só conseguem pagar mais dois meses de aluguel em Irbil e no Curdistão iraquiano.

(JE/Asianews)

 

 

 








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