Lituânia: Cardeal Amato vai beatificar bispo mártir da era soviética


Cidade do Vaticano (RV) - No próximo domingo, 25 de junho, será beatificado na Lituânia, o Arcebispo de Kaisliadorys, Dom Teofilius Matulionis, em concomitância com a celebração da Jornada da Juventude em nível diocesano. A cerimônia será presidida pelo Cardeal Angelo Amato, Prefeito da Congregação das Causas dos Santos.

Nascido em 22 de junho de 1873, entrou para o Seminário de São Petersburgo, na Rússia, em 1892, sendo ordenado sacerdote em 7 de março de 1900. Em 1943 foi nomeado Bispo de Kaigiadorys e em fevereiro de 1962 Arcebispo. Poucos meses mais tarde, aos 89 anos, faleceu em Seduva, em 20 de agosto de 1962.

Quem explica o significado de sua morte - considerada como Martirium propter aerumnas carceris - é o Prefeito da Congregação das Causas dos Santos, Cardeal Angelo Amato:

"Martirium propter aerumnas carceris significa que a sua morte foi provocada pelos sofrimentos do cárcere. Os longos e penosos períodos nas prisões, nos campos de concentração, domicílios forçados, debilitaram a vida do Beato, desgastando pouco a pouco a sua forte fibra de sacerdote e de pastor. Mas as privações e as torturas, não dobraram a sua vontade pelo bem. Naquele período de escuridão da reta consciência, a hostilidade dos nazistas e dos comunistas não tinha nenhuma justificativa racional. Era somente fruto do ódio pelo Evangelho de Jesus e pela Igreja".

RV: Hoje se fala muito de mártires e martírio, algumas vezes talvez mesmo de forma inapropriada, visto ser uma expressão claramente de origem cristã. O que seria então o martírio cristão?

"Pela tradição cristã, o martírio constitui a imitação por excelência de Jesus, morto inocente sobre a cruz. Cristo está presente no mártir de forma toda especial, infundindo nele força e coragem. Os mártires são conscientes das palavras que Jesus dirigiu aos seus discípulos: "Não temais aqueles que matam o corpo, mas não tem o poder de matar a alma (...). Quem der testemunho de mim diante dos homens, também eu darei testemunho dele diante de meu Pai que está nos céus (Mt 10, 28.32). Como já dissemos, em nosso Beato o martírio se arrastou por anos e anos, sob ditaduras cruéis, como a nazista e a comunista, que se propunham a aniquilar a Igreja. Foram reduzidos e fechados os seminários, se tentou criar uma Igreja nacionalista, foram dispersas as Ordens religiosas masculinas e femininas, se proibiu todo contato com Roma, foi sufocada a imprensa católica. A Igreja foi reduzida ao silêncio. A Igreja do silêncio".

RV: Onde Teofilius Matulionis encontrou força para suportar as humilhações e o desconforto de uma longa prisão, injusta e desumana?

"Foi graças a Cristo que lhe deu a força e a coragem de perseverar firme na fé. Esta lealdade ao Evangelho é testemunhada por muitos que viram nele um "verdadeiro homem de Deus" e um "santo". No Campo de Concentração se comportava como sacerdote pio e sereno, totalmente entregue à Divina Providência. Os perseguidores deram-se conta de seu heroísmo. Por exemplo, quando o comandante russo soube da notícia de sua morte, exclamou: "Era realmente um homem!". Também o responsável pelo sistema repressivo soviético disse preocupado: "Não se exclui que no futuro o Vaticano o declare "santo" e neste caso o seu túmulo se transformará num local de peregrinação". Uma previsão totalmente verdadeira".

RV: Por que um homem, que passou a maior parte da sua vida na prisão e nos campos de concentração, nunca alimentou rancor pelos inimigos?

"A resposta está toda na realidade de seu "ser cristão", que enobrecia a sua alma. Como Jesus, o mártir Matulionis conseguia ver a bondade de Deus e a sua Providência, também naquelas pessoas nas quais os outros viam somente mal e maldade. Ele procurava honrar o selo divino de cada pessoa, mesmo a mais malvada, e era compassivo em relação ao ser humano, frágil mas precioso, porque criado à imagem e semelhança de Deus".

RV: O que o mártir Teofilius Matulionis ensina hoje à Igreja e qual a sua mensagem?

"Ainda hoje na Igreja existem mártires. Ainda hoje eles são os nossos mestres cotidianos de ressurreição. Em abril passado, diante da tragédia dos inocentes cristãos egípcios, a Igreja, olhando para o rosto de Cristo ressuscitado, respondeu manifestando em alta voz o seu perdão e a sua oração pela conversão dos assassinos. Para um cristão, odiar seria trair o sangue dos mártires. O Mártir Teofilius Matulionis ensinava a todos como é preciso viver, rezar, sofrer e trabalhar para a maior glória de Deus e a salvação das almas. Não existiam muros de divisões na sua alma. O seu coração era habitado por uma caridade sem limites, por uma serenidade contagiosa, por uma bondade misericordiosa. O novo mártir nos convida, enfim, a imitá-lo". (JE/GA)

 








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