Editorial: lutar ao lado dos pobres


Cidade do Vaticano (RV) – Estamos celebrando no Brasil os 300 anos do encontro da imagem de Nossa Senhora da Conceição nas águas do Rio Paraíba, em Aparecida, São Paulo. Um evento milagroso que viu envolvido três pescadores pobres. Entre os dias 9 e 12 deste mês de maio bispos de 22 países da América Latina estiveram reunidos em El Salvador para a Assembleia do CELAM, Conselho Episcopal Latino-americano. O tema do encontro foi “Uma Igreja pobre para os pobres”. Para a ocasião, o Papa Francisco enviou uma mensagem inspirada na Padroeira do Brasil e no tema da pobreza. Tema que Francisco se diz fortemente preocupado pela corrupção que atinge o continente americano.

Três séculos depois, o encontro da imagem de Nossa Senhora nas águas do Paraíba, - escreveu o Papa -, “nos faz crescer na fé e a nos imergir em um caminho de apostolado”. Antes de tudo, os três pescadores, homens pobres com famílias que viviam na insegurança do viver cotidiano, contando com a generosidade e a inclemência do rio. Uma imagem que nos traz às dificuldades de vida de muitos de nossos irmãos nos dias de hoje.

O que mais doe – denuncia Francisco – é como seja quase normal ver o nosso irmão de hoje enfrentar “um dos pecados mais graves que aflige o nosso continente: a corrupção, a corrupção que nivela as vidas submergindo-as na extrema pobreza”. Corrupção que destrói populações inteiras submetendo-as à precariedade. Corrupção, que, como um câncer, vai corroendo a vida cotidiana do povo.

Falando em seguida de Maria, Francisco afirma que Ela é uma Mãe atenta, que acompanha a vida de seus filhos. E ela vai aonde não se espera. Na história de Aparecida ela é encontrada no rio em meio ao barro. Ali ela esperava os seus filhos, ali Ela estava com os seus filhos em meio às lutas e buscas, estava onde os homens tentam ganhar suas vidas.

Depois do encontro da imagem, depois de restaurá-la, limpá-la, o que fazem os pescadores? Levam-na para casa, uma casa aonde os moradores da região iam para encontrá-la. Essa presença se fez comunidade, Igreja, disse Francisco. 

De fato, as redes não se encheram de peixe mas de uma presença que encheu suas vidas e deu a eles a certeza de que nos seus propósitos e lutas não estariam mais sozinhos. Redes que se transformaram em comunidade, a de um povo que crê, que se confessa pecador e salvado, um povo forte e obstinado, consciente de que as suas redes, suas vidas, “estão cheias de uma presença que os encoraja a não perder a esperança”.

Hoje, 300 anos depois, como filhos, somos chamados a escutar e aprender o que aquele acontecimento continua a nos dizer: “Aparecida não traz receitas mas chaves, critérios, pequenas grandes certezas para iluminar e sobretudo, acender o desejo de nos despojar de todo o desnecessário e voltar às raízes, ao essencial, à atitude que fez de nosso continente a terra da esperança. Aparecida renova nossa esperança em meio a tantas inclemências”.

Francisco na sua mensagem convida ainda os bispos latino-americanos a aprenderem a escutar e conhecer o Povo de Deus, dando-lhe a importância e o lugar merecidos. Isto significa se despojar dos preconceitos, racionalismos e esquemas funcionalistas para conhecer como o Espírito atua no coração destes homens e mulheres. O Papa diz aos bispos para aprenderem da fé dos latino-americanos; “a fé de mães e avós que não têm medo de se sujar, pois sabem que o mundo está cheio de injustiças, onde a impunidade da corrupção continua cobrando vidas e desestabilizando cidades”.

Francisco volta a dizer que prefere uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças.

Quanto devemos aprender com a fé do nosso povo? Não devemos temer de nos sujar pela causa do nosso povo. Não devemos temer o barro da história para resgatar e renovar a esperança. (Silvonei José)








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