Viagem ao Egito foi um gesto corajoso de Francisco, diz Pe. Rafic Greiche


Cairo (RV) - "O Papa Francisco é um homem corajoso". Ao fazer esta afirmação, o sacerdote melquita, Padre Antoine Rafic Greiche, não referia-se ao fato de o Pontífice não usar um carro blindado em seus deslocamentos no Cairo, mas sim à própria decisão de visitar o país.

"Toda a viagem, de forte conteúdo ecumênico e inter-religioso, foi um ato de coragem, afirmou. O Pontífice veio como peregrino em um lugar ferido, também recentemente, pela violência terrorista. Sinal de que não teve medo de mergulhar na realidade de nosso tempo, mesmo quando ela é dolorosa".

Ao receber na sede do Patriarcado de Heliopolis o jornal dos bispos italianos "Avvenire", o porta-voz da Igreja Copta Católica enfatizou que a visita  "foi um belo momento". "Esta viagem foi crucial para a Igreja do Egito, para o resto do país e para o mundo. Francisco veio para confirmar os seus irmãos na fé. Cuidou deles, assumiu os seus sofrimentos, demonstrando assim uma atenção preciosa pela Igreja egípcia".

"A sua presença - prosseguiu Padre Rafic - foi também importante para toda a nação, que pode demonstrar uma nova estabilidade após um período turbulento. Sobre questões importantes, além disto, como o fim do conflito entre israelenses e palestinos e a resposta ao terrorismo, entre Santa Sé e Governo pode haver um terreno comum de colaboração".

O Papa não falou somente ao Egito, mas para todo o mundo. Em um gesto profético, participou da Conferência sobre a Paz em Al-Azhar, a principal instituição do Islã sunita. Foi a primeira vez que um Pontífice participa de um encontro muçulmano desta envergadura, no signo da reconciliação de todos os filhos de Abraão.

"O de Al-Azhar - observa Padre Rafic - foi um dos quatro momentos fortes da viagem. Os outros foram o encontro com o Presidente Abdel Fattah  al-Sisi, a reunião com o Patriarca Tawadros e a Missa com as Igrejas Católicas do Egito. Falo ao plural - explica - porque existem sete: Copta, com o maior número de fiéis, Melquita, Maronita, Siríaca, Caldeia, Armênia e latina. Uma presença reduzida, em termos numéricos, mas extremamente viva. Como demonstram as 171 escolas construídas, os numerosos hospitais, seminários, centros de acolhida, até mesmo cinema".

Um "pequeno rebanho" de 300 mil católicos inseridos na maior comunidade cristã do norte da África e do Oriente Médio. Entre os cerca de oito a dez milhões de habitantes do Egito, eles representam cerca de 10% da população, a maior parte ortodoxos.

Entre as duas Confissões, o diálogo é cotidiano e quase natural, dado que a maior parte das famílias "é mixta". "No Egito, outrossim, fazemos experiência constante do ecumenismo de sangue, explica o sacerdote. O terrorismo ataca ambas as comunidades com a mesma ferocidade".

"Graças a Francisco - explica - foi iluminada no contexto internacional a presença, discreta mas fundamental, dos cristãos no Oriente. Eles são parte integrante do tecido social do Oriente Médio e Próximo. Um universo - o último - muito mais plural do quanto se possa imaginar, e onde duas grandes religiões - cristianismo e islamismo - tiveram e devem aprender a viver juntas".

"Um desafio que é possível, não obstante as dificuldades, considera o porta-voz da Igreja Copra Católica. Quando um kamikaze disseminou a morte na Igreja de São Pedro e Paulo, em dezembro, os primeiros a entrar para socorrer os feridos foram os islâmicos. Também agora, depois dos atentados no Domingo de Ramos, os nossos vizinhos muçulmanos foram os primeiros a vir para apresentar as condolências, e participaram com comoção dos funerais. São sinais concretos de esperança, para o presente e para o futuro".

(JE com Avvenire)








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