Unidade entre cristãos e muçumanos no Egito é um bem irrenunciável


Cidade do Vaticano (RV) – Continua a subir o número de vítimas das explosões em duas igrejas coptas no último domingo. O último balanço oficial, e ainda provisório, fala de 46 vítimas: 29 em Tanta e 17 em Alexandria, além de quase uma centena de feridos. O autoproclamado Estado Islâmico assumiu a autoria dos dois ataques.

A viagem do Papa ao país, no entanto, foi confirmada pelo Substituto da Secretaria de Estado, Dom Angelo Becciu. “O que aconteceu – afirmou o Arcebispo ao Corriere dela Sera – provoca uma perturbação e um grande sofrimento, mas não pode impedir o desenvolvimento da missão de paz do Papa”. O lema da viagem é  “O Papa de paz no Egito de paz”.

Para Dom Becciu, o Santo Padre sempre recusou-se a associar o islã com tal terrorismo. Postura esta que favoreceu as relações com os muçulmanos. 

Ouçamos o que diz a este respeito o Presidente do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso, Cardeal Jean-Louis Tauran:

“Quando li as primeiras notícias, a palavra que me veio logo em mente foi “infâmia”, porque estamos realmente dentro de um abismo e não existe nenhuma filosofia ou religião que possa justificar coisas assim terríveis. Não obstante isto, o Papa irá ao Egito, porque o diálogo islâmico-cristão tem necessidade desta normalização das relações entre a Santa Sé e a Universidade de Al-Azhar e também para visitar a comunidade cristã que está atravessando momentos difíceis. E acredito que a sua mensagem seja esta: “É possível viver juntos”. Não existem cristãos e muçulmanos: eles podem viver juntos na medida em que todos os crentes são cidadãos – se é crentes e cidadãos, não se é crentes ou cidadãos – e na medida em que se é crentes e cidadãos, devem levar para a sociedade na qual vivem valores que fazem com que a sociedade torne-se um local onde possa florescer a igualdade”.

“Os atentados são contra os cristãos e a unidade do país”, declarou Dom Antonios Azziz Mina, Bispo Copta-católico emérito de Gizé. E sobre a unidade, também insiste o Patriarca Católico de Alexandria, Dom Ibrahim Sedrak:

“É evidente, manter a unidade do país, e não somente hoje, não somente no futuro. Mas é sempre, desde sempre. Nós como país devemos estar unidos e depois nos respeitar uns aos outros. E sobre isto não há nada a ser discutido, não existe um debate sobre esta finalidade de estar unidos, sendo diferentes”.

RV: Como cristãos e muçulmanos convivem no dia-a-dia no Egito?

“Como o Egito tem uma população muito numerosa demograficamente, mas também muito dispersa no país, esta realidade varia, depende. Nas grandes cidades, tudo vai bem, não há nada de particular; em alguns locais, porém, sobretudo nos bairros populares, nos povoados, tudo depende da presença dos salafitas ou da Irmandade Muçulmana que governa o vilarejo, pois assim controlam a mentalidade das pessoas...lá, então, nascem estes problemas que são quase cotidianos”.

RV: Mas do ponto de vista das leis – das leis nacionais – existe uma equiparação entre cristãos e muçulmanos, ou existem direitos e deveres diferentes?

“Não. Oficialmente, não existem diferenças. Porém, o problema está na mentalidade de quem aplica a lei. Aqui existem fanáticos que aplicam a lei e portanto bloqueiam tudo: se existe um muçulmano e um cristão, então procuram favorecer a parte muçulmana e assim por diante. Porém, por exemplo, para a permissão de qualquer coisa, para o trabalho, nas vagas de trabalho, os jovens cristão não são colocados nos locais justos”

RV: Ou seja, na prática existem algumas diferenças, algumas discriminações...?

“Discriminações sim...”

RV: A já próxima visita do Papa, certamente será um apoio à Igreja Copta. Mas antes da visita do Papa, será celebrada a Páscoa, teremos o Tríduo Pascal. Depois dos atentados de domingo, os fiéis irão às igrejas, conseguirão viver de forma especial estes momentos?

“Todos os coptas, os cristãos do Egito, dão muito valor a sua fé e à Igreja. Portanto, logo após o atentado, as pessoas vieram à Igreja, as igrejas estão ainda lotadas! Porque eles levam muito em consideração o fato de que estas vítimas inocentes são reconhecidas como mártires, como testemunhas do Cristo Ressuscitado. Temos esta grande fé, forte, segundo a qual a morte não nos separa de Cristo. Por isto continuam  rezar, a vir à Igreja...são eles, os leigos, que encorajam a nós, o clero. Esperemos que passe este período e depois chegue um tempo de maior bem para o povo egípcio, que merece ser tratado bem”. (AM/JE)








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