Meditações da Via Sacra: era preciso que Cristo "entrasse nesta impotência"


Cidade do Vaticano (RV) – A Via Sacra da Sexta-feira Santa a ser presidida pelo Papa Francisco no Coliseu, terá em 2017 as meditações das XIV Estações escritas pela biblista francesa Anne-Marie Pelletier. 

Ao longo do percurso, a teóloga procura explicar o extremo amor de Deus que morre na Cruz para derrotar o mal e descreve os gestos de alguns personagens que aparecem na Paixão.

Nos temas tratados, ecoam as vozes, entre outros, de Santa Catarina de Sena e da hebreia  Etty Hillesum, do teólogo ortodoxo Christos Yannaras e de Dietrich Bonhoerffer.

Anne-Maria Pelletier escreve: “O caminho de Jesus nas estradas poeirentas da Galileia e da Judéia ....encontro aos corpos e aos corações sofredores (...) para (...) na colina do Gólgota”. E é lá que “o amor de Deus recebe (...) a sua plena medida, sem medida” e nós “não temos mais palavras (...). estamos desorientados, a nossa religiosidade é ultrapassada pelo excesso dos pensamentos de Deus”.

A chave de leitura das meditações da biblista francesa para a Via Sacra no Coliseu é esta. Em seus textos, estão contidas profundas reflexões teológicas, mas sob a cruz “trata-se de nosso mundo, com todas as suas quedas e as suas dores, os seus apelos e as suas revoltas, tudo aquilo que grita a Deus, hoje, das terra de miséria ou de guerra, nas famílias dilaceradas, nas prisões, nas embarcações superlotadas de migrantes”.

Na paixão de Cristo, homens mulheres e crianças violentadas, humilhadas, torturadas, assassinadas

As 14 estações não são as tradicionais, mas descrevem momentos da Paixão onde se encontra a maldade do mundo, o mal que “deixa sem voz” os homens, as mulheres e as crianças violentadas, humilhadas, torturadas, assassinadas.

No desconcerto destas realidades está o amor de Cristo para a vontade do Pai e o seu desejo de salvação para todos, há o Deus que desce “no profundo da nossa noite”, humilhando-se para nos oferecer a sua misericórdia. Mas há também a vocação dos monges assassinados em Tibhirine, que conscientes da crueldade humana, rezavam “Desarma-os!” e “Desarma-nos!”.

Era preciso que Cristo “entrasse nesta obediência e nesta impotência”

Jesus morre na Cruz e deixa consternação e perplexidade, mas “era necessário que (…) Cristo trouxesse a infinita ternura de Deus no coração do pecado do mundo”, porque “era preciso” que (…) entrasse nesta obediência e nesta impotência, para alcançar-nos na impotência em que nos colocou a nossa desobediência”.

A doçura de Deus, de José de Arimatéia

No final de tudo, com a morte de Jesus, resta sim o silêncio, mas se abre espaço para a doçura da ternura e da compaixão: é a “doçura de Deus e daqueles que pertencem a ele”, de José de Arimatéia, que cuida do corpo de Jesus, e das mulheres que Anne-Marie Pelletier descreve na última Estação, intencionadas a preparar os perfumes e os aromas para prestar a Ele a última homenagem. Confiantes que, no alvorecer de domingo, encontrariam o sepulcro vazio e que a elas teria sido confiado o anúncio da Ressurreição de Jesus. (TC/JE)








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