Papa recorda mártires da guerra civil beatificados na Espanha


Cidade do Vaticano (RV) – Ao saudar os presentes na Praça São Pedro, após rezar o Angelus, o Papa Francisco recordou a beatificação realizada no sábado, em Almería, Espanha, do Padre Álvares Benavides y de la Torre e de 114 mártires da Guerra Civil espanhola, mortos perdoando seus assassinos:

“Ontem, em Almería, Espanha, foram proclamados beatos José Álvarez-Benavides y de la Torre e 114 companheiros mártires. Estes sacerdotes, religiosos e leigos foram testemunhos heroicos de Cristo e de seu Evangelho de paz e de reconciliação fraterna. Que o seu exemplo e a sua intercessão sustentem o esforço da Igreja em edificar a civilização do amor”.

A Missa de beatificação em Almería foi presidida pelo Prefeito da Congregação da Causa dos Santos, Cardeal Angelo Amato. Eis o que declarou à Rádio Vaticano:

“Naqueles anos, na Espanha, se desencadeou contra a Igreja, os seus ministros e os seus fiéis, a grande perseguição, que custou a vida de milhares de pessoas, homens e mulheres, leigos e consagrados, assassinados somente por serem católicos. Todas as dioceses deram a sua contribuição martirial. Hoje o Papa Francisco eleva à honra dos altares 115 mártires da Diocese de Almería, mortos por ódio à fé. Os recordemos, porque a nós cabe o dever da memória, para não perder este patrimônio incomparável de obediência ao Deus da vida e à sua palavra de caridade. Os recordamos, porque queremos reafirmar que o cristianismo é a religião da caridade e da vida e se opõe a toda forma de prevaricação e de violência”.

RV: É difícil falar de todos. Mas, quem era, por exemplo, o Padre José Álvarez-Benavides de la Torre, decano da Catedral de Almería, o primeiro da fila deste grupo de mártires?

“Os testemunhos afirmam que era um pastor de grande personalidade, de excepcional prestígio e de grande virtude. Pego nos últimos dias de julho de 1936, a sua prisão era uma barca para o transporte de ferro. Suas roupas, assim como dos outros prisioneiros, tornaram-se pretas como o carvão, e o clima, devido ao verão, era asfixiante. Não obstante isto, o Padre José conseguiu criar entre os prisioneiros um clima de recolhimento e de oração. Foi-lhe pedido, sob inumeráveis e cruéis formas de tortura, para renegar a fé e blasfemar o nome de Cristo. Mas ele se opôs até o final. Morreu fuzilado, confessando Cristo Rei e perdoando os seus algozes”.

RV: Também leigos estão presentes neste grupo de mártires...

“Além dos sacerdotes havia também leigos. Entre os leigos, por exemplo, posso mencionar o senhor Luis Belda y Soriano de Montoya, de 34 anos, pertencente à Ação Católica e advogado de estado. Era uma pessoa piedosa, preocupada em ajudar os necessitados que se dirigiam a ele. Era de missão e comunhão diária. Tinha um grande espírito apostólico: visitava os doentes, proferia conferências sobre a família, sobre a educação dos filhos, sobre a defesa dos não-nascidos. Educava todos ao respeito pelo próximo. Devoto da Bem-aventurada Virgem, rezava o terço diariamente. Amava a Igreja, era fiel ao Papa e obediente ao Bispo. Entregou-se voluntariamente aos milicianos, para não comprometer a sua família. O único motivo de sua prisão era o fato de ser católico. As suas últimas palavras, gritadas para a mulher da barca, antes do fuzilamento, foram: “Perdoo de coração todos aqueles que me ofenderam e aqueles que podem me fazer mal”. Os seus restos mortais foram encontrados boiando nas ondas, próximo à praia”.

RV: Uma última pergunta: no grupo dos novos Beatos também estão algumas mulheres?

“Sim. Entre as mulheres mortas por ódio à fé está, por exemplo, a senhora Carmen Godoy Calvache, de 49 anos. Era uma pessoa muito caridosa, que utilizava o dinheiro em obras de caridade e o fazia com generosidade. A quem tinha problemas de saúde com os filhos, enviava ao médico e pagava as despesas. No início da perseguição, foi privada de todos os seus bens. Os milicianos se apossaram do dinheiro, das contas bancárias, das propriedades. Ocuparam também a sua casa. Aprisionada, foi submetida a toda espécie de maus-tratos, sobretudo por parte das milicianas, que se divertiam em torturá-la, condenando-a à fome e à sede. Foi ferida com golpes de punhal, foi submetida à simulação de afogamento no mar, e na última noite do ano de 1936, depois de ter sido maltratada e mutilada no peito, foi enterrada ainda viva. Na taverna do  porto, seus algozes embriagavam-se, gloriando-se das violências cometidas contra a pobre vítima”.

RV: O senhor gostaria de acrescentar alguma coisa?

“Citamos somente três exemplos. Mas todos os mártires eram pessoas boas, indefesas e totalmente inocentes, que como cordeiros tiveram que se submeter aos abusos perversos de homens e mulheres que, na realidade, desonraram a natureza humana com suas ações malévolas. Estamos diante, por um lado, da dignidade do bem, e de outro, da estupidez irracional do mal. Hoje somos agradecidos aos novos Beatos pelo seu testemunho de fidelidade a Cristo e de coerência às promessas batismais. Os admiramos e honramos como exemplos de perdão e inspiradores do bem”. (GA/JE)

 

 

 








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