Dom Nykiel: remissão dos pecados, missão precípua da Igreja no mundo


Cidade do Vaticano (RV) - Teve início na tarde desta terça-feira (14/03), no Palácio da Chancelaria, no Vaticano, com a Lectio magistralis do Penitencieiro-mor, Cardeal Mauro Piacenza, o Curso sobre Foro interno que há 28 anos a Penitenciaria Apostólica organiza durante o tempo quaresmal.

Concluída a Lectio magistralis do purpurado, o regente do tribunal, Mons. Krzysztof Nykiel fez uma ampla exposição sobre a estrutura, competências e praxes da Penitenciaria Apostólica.

Após ter esclarecido a noção de “Foro interno” – que é “o complexo das relações entre o fiel e Deus, nos quais intervém a mediação da Igreja não para regular diretamente as consequências sociais de tais relações, mas para prover ao bem sobrenatural do fiel” –, o regente explicou as características peculiares, a ordem e o funcionamento da Penitenciaria, ilustrando as matérias sobre as quais se estende a competência daquele que é “o mais antigo dicastério da Cúria Romana”.

Na conclusão do curso, na manhã desta sexta-feira, 17 de março, os participantes serão recebidos pelo Santo Padre, que, na parte da tarde, presidirá a uma celebração penitencial na Basílica de São Pedro.

Para nos falar sobre o assunto, a Rádio Vaticano entrevistou o regente da Penitenciaria Apostólica, Mons. Nykiel, que nos explica os motivos pelos quais o Papa Francisco considera fundamental a formação dos sacerdotes para uma reta administração do Sacramento da Confissão:

Mons. Krzysztof Nykiel:- “Porque o Papa Francisco considera que a misericórdia é o coração do Evangelho. A remissão dos pecados é a missão principal da Igreja no mundo. A Igreja deve recordar, em primeiro lugar a si mesma e aos homens do nosso tempo, que na origem da sua missão de reconciliação se encontra a vontade de Deus de que todos se salvem e alcancem a felicidade eterna. Um canal privilegiado mediante o qual a Igreja anuncia a misericórdia de Deus maior do que o mal e o pecado é, justamente, o Sacramento da Reconciliação. Por conseguinte, é necessário que os sacerdotes – os ministros deste Sacramento – sejam adequadamente formados a fim de que qualquer um que se aproxime do confessionário possa fazer uma autêntica experiência do amor misericordioso de Deus.”

RV: De que modo um sacerdote pode ajudar o penitente que se aproxima do confessionário a sentir na própria vida a presença da misericórdia de Deus?

Mons. Krzysztof Nykiel:- “Em primeiro lugar, acolhendo benevolente o penitente como o Pai misericordioso, no Evangelho de Lucas, acolhe o filho menor que voltava para casa. Um pai que espera, vai ao encontro, abraça, perdoa, esquece e restabelece; um pai que sabe interceptar, do coração do outro, o pedido de ajuda e de perdão. No contexto dos desafios que o Sacramento da Penitência propõe hoje, o ministério sacerdotal da Confissão se apresenta como um serviço árduo, difícil, mas exultante, em que o acolhimento, como primeiro momento, envolve confessor e penitente num único movimento de fé e amor: o outro, por mim acolhido e respeitado, é outro do meu ser e é portador de um mistério que vai além do meu ser. Nesse espírito, tornar visível o amor misericordioso de Deus Pai, no confessionário, é um dos aspectos mais entusiasmantes do ministério sacerdotal, mas é também uma responsabilidade. No exercício do ministério da Reconciliação, os sacerdotes devem buscar realizar a sua missão em sintonia com a doutrina do magistério eclesiástico, procedendo com prudência, discrição, paciência, discernimento e bondade. O que precisa evitar é o perigo de criar a ‘angústia’ pelo pecado, ou o ‘complexo de culpa’ no penitente, o qual, ao invés, precisa ser encorajado a recolocar toda a sua confiança na infinita misericórdia de Deus.”

RV: Que conselho o senhor poderia dar aos sacerdotes que se deparam, no confessionário, com penitentes em condições particulares?

Mons. Krzysztof Nykiel:- “No confessionário podem apresentar-se casos particulares que requerem um adequado conhecimento da bioética ou da teologia moral e o sacerdote pode encontrar-se em dificuldade. Em tal caso, pode solicitar um pouco de tempo para expressar um parecer sobre a questão e consultar a Penitenciaria Apostólica. Mas a preparação doutrinal do confessor deve ser tal de modo a permitir-lhe perceber a possível existência de um problema. Nesse caso a prudência pastoral, unida à humildade, o levará a escolher ou enviar o penitente a outro confessor, ou fixar uma data para um novo encontro. Nenhum confessor jamais deve considerar-se dono do Sacramento que administra porque o sacerdote bem sabe ser ele mesmo um pecador perdoado. O Papa Francisco reiterou isso recentemente no discurso feito aos párocos da Diocese de Roma. ‘Um sacerdote ou um bispo que não se sente pecador, que não se confessa, que se fecha em si, não progride na fé.’ O ofício da confissão requer muita humildade, grande equilíbrio, maturidade humana e profundidade de vida espiritual.” (RL)








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