Pe Samir: pouco se faz para proteger cristãos coptas em fuga do Sinai


Cairo (RV) - No Egito continua o êxodo das famílias cristãs da Península do Sinai, após o assassinato de sete coptas nas últimas três semanas por jihadistas ligados ao autoproclamado Estado Islâmico.

Sobre estes últimos acontecimentos, a Rádio Vaticano conversou com o jesuíta egípcio Padre Samir Khalil Samir, docente de islamismo no Pontifício Instituto Oriental de Roma.

"Aumentaram nos últimos meses os ataques de grupos de fanáticos contra os cristãos, sob qualquer pretexto. Estes jihadistas querem libertar toda a Península do Sinai para fazer dela uma nova terra de conquista. Como estão perdendo terreno na Síria e no Iraque, então buscam um refúgio no Sinai para continua a luta. E como ali existe uma pequena concentração de cristãos egípcios, era uma "bela ocasião" para dar dois golpes com um só tiro: recuperar todo o Sinai e combater os cristãos. No pensamento de alguns dos fanáticos, em teoria o cristão tem pleno direito de viver junto aos muçulmanos, mas não tendo os mesmos direitos, além de ter que aceitar ser submetido ao sistema islâmico, com o pagamento de um tributo. Mas os jihadistas vão além destas normas e consideram os cristãos como inimigos".

RV: Na sua opinião, o governo egípcio faz o bastante para tutelar os cristãos coptas na Península do Sinai?

"Não pensou em fazer nada de especial, porque o governo já passa por dificuldades com os terroristas do Sinai, buscando proteger seus militares que regularmente sofrem perdas. Algo bonito a ser destacado, é que os refugiados foram acolhidos em Ismailia, no Canal de Suez, não somente por cristãos evangélicos, mas também por muçulmanos, e o governo procura ajudá-los. No entanto, perderam tudo aquilo que haviam construído ao longo dos anos".

RV: No Cairo, durante uma recente conferência organizada pela Universidade de Al-Azhar sobre "Liberdade e cidadania", o Grão Imame Al-Tayyeb condenou esta nova espiral de violência contra os cristãos no Sinai. Quanto contam estas palavras?

"São palavras que ele deve dizer e penso que sejam sinceras. Mas isto não significa que no terreno poderá fazer ou fará alguma coisa. Ele organizou este grande evento sobre "Liberdade e cidadania", convidando muitas pessoas, cristãos, em particular. Estavam presentes os Patriarcas do Oriente Médio. O princípio que emergiu é muito importante: não fazer distinção entre cidadãos por causa da religião. Ou somos todos cidadãos ou não existe mais um país. Este é um grande passo em frente, que deve ser levado a sério e concretizado até as últimas consequências. É isto que nós pedimos. "Cidadão" significa também reconhecimento da Declaração Universal dos Direitos Humanos, onde não existe diferença segundo a religião, ou segundo o sexo ou segundo qualquer outro critério. Atualmente existe esta distinção, por exemplo no caso da herança; no sistema muçulmano aplicado no Egito, a mulher recebe a metade em relação ao que recebe o homem, os seus irmãos. Também a questão do divórcio: o homem tem sempre o direito de mandar embora a mulher com uma simples decisão. O Presidente al-Sissi, há duas semanas, pediu oficialmente que seja cancelada esta norma. Infelizmente, Al-Azhar recusou dizendo: "Esta norma já existia no tempo do Profeta, não podemos tocá-la".

(FC/JE)








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