Questão Mapuche no Chile: a palavra da Igreja


Araucanía (RV) - As terras habitadas no Chile pelos povos indígenas Mapuches têm vivido há anos numa espiral de violência. Desde a abertura à democracia no país, em 1990, diversas organizações Mapuches no Chile recomeçaram a se mobilizar e a reivindicar o acesso e a perpetuidade às suas terras ancestrais. Hoje, o movimento luta também por mudanças constitucionais em prol dos direitos indígenas e reconhecimento por parte dos Estados de suas especificidades culturais.

Em uma população de pouco mais de 18 milhões de pessoas, 604 mil se definem como Mapuches. Um terço deste povo vive ainda na região administrativa da Araucanía, considerada o coração de seu território ancestral, mas a maioria, depois da  desestruturação de seu território, no século XIX, migrou e hoje se encontra socialmente marginalizada na região metropolitana de Santiago.  

Questões a resolver

Uma Comissão presidencial instituída em julho de 2016 está trabalhando na questão do reconhecimento constitucional dos indígenas e sua representação no Parlamento. Entre as propostas da Comissão, estão também a criação de um registro nacional das vítimas da violência, a garantia de um ressarcimento, o financiamento para o desenvolvimento econômico Mapuche e a resolução do problema da aquisição de suas terras para restituí-las aos indígenas.

O pacote de propostas foi feito depois que nas semanas passadas, nas áreas rurais da região, se verificaram mais de uma dezena de atentados incendiários contra caminhões de empresas florestais e armazéns por parte de desconhecidos que, em alguns casos, deixaram manifestos com reivindicações do movimento Mapuche.

“Não se trata de falta do estado de direito, mas de falta de respeito e de violação dos direitos humanos de uma população. É o próprio Estado que viola os direitos indígenas”, declara à Agência Fides Padre Bresciani, missionário jesuíta que vive no vilarejo de Tirúa, região do conflito. “Aqui tudo funciona, as pessoas vivem normalmente, semeiam, colhem, trabalham”, continua o jesuíta. “Os que falam de ausência do estado de direito jamais viveram aqui. Não estamos em guerra”.

O Conselho permanente da Conferência Episcopal Chilena (Cech) emitiu nos últimos dias uma nota do Presidente, Dom Santiago Silva Retamales, fazendo votos que o trabalho da Comissão presidencial “se traduza em propostas e decisões públicas com a urgência necessária, pois a região, dominada há anos por conflitos e violências, e com ela, o povo Mapuche, não podem sofrer “novos atrasos no caminho do encontro, da justiça, da reparação e da paz”.

O Conselho agradece especialmente ao bispo de Temuco, Dom Héctor Vargas, coordenador da Comissão e redator do relatório com as propostas, entregue à Presidente da República, Michelle Bachelet.

Segundo Dom Héctor Vargas, “a região está ferida e fragmentada, e vive uma gradual deterioração da problemática”. O bispo exorta a colocar fim à violência “antes que o ódio nos consume….se quisermos desarmar as mãos, devemos antes desarmar os corações”.

(CM)








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