2017-01-24 16:56:00

Gâmbia: Yahya Jammeh anuncia saída da cena política


O Presidente cessante da Gâmbia, Yahya Jammeh concordou em deixar o poder e o país – anunciaram fontes da Mauritânia e da Guiné que conduziram as negociações em Banjul e que deixam entender que Jammeh poderá transferir-se em breve para a Mauritânia ou no Qatar.

"Não é necessário que seja derramada nem mesmo uma gota de sangue". Com estas palavras, num discurso televisivo, Yahya Jammeh anunciou que deixava o poder e escolhia o exílio no exterior. No entanto, decorreram quase 23 anos desde o golpe de Estado que, em 1994, o levou ao poder:  mais de duas décadas, certamente não  fáceis  para a população que, neste período, denunciou desaparecimentos, assassinatos, detenções sem julgamento, perseguições. Tinha expirado o ultimato imposto a Jammeh pela Comunidade Económica dos dos Estados da África Ocidental, a CEDEAO, cujas tropas haviam feito a sua entrada na Gâmbia na quinta-feira, depois do juramento em Dakar, Senegal, de Adama Barrow, eleito nas eleições de dezembro passado. A ONU anunciou que cerca de 45 mil  pessoas fugiram para o Senegal no temor do início de um conflito armado num país - o menor da África - já assolado pela pobreza e pela crise económica, que ao longo dos anos tem levado principalmente os jovens a migrar em condições dramáticas. O africanista Vincenzo Giardina

"Um caso que comoveu o mundo, em novembro, foi o da morte no mar no Mediterrâneo, de uma menina de 19 anos, guarda-redes da equipa nacional feminina de futebol na Gâmbia: um facto que fala de um país onde uma pessoa em cada três vive abaixo da linha de pobreza definida pelas Nações Unidas e onde o desemprego é endémico. A Gâmbia é um País com menos de dois milhões de habitantes e com uma área inferior à da Campania (Itália), rodeado e totalmente abraçado pelo Senegal, e que quase inteiramente dependente, para a sua economia, das exportações de produtos agrícolas”.

Jammeh não deu detalhes sobre a forma como tenciona prosseguir com a transição. Depois da votação de dezembro, tinha feito saber que aceitava a vitória eleitoral de Barrow para, em seguida, voltar atrás. Ainda estão a trabalhar os mediadores da África Ocidental, num continente onde não raras vezes se assiste ao prolongamento de presidências e mandatos:

"Em África, se tem falado muito nos últimos meses de situações de crise importantes, ligadas à realização ou não realização de eleições. Penso antes de tudo no Gabão, onde Ali Bongo permaneceu no poder apesar de eleições contestadas, inclusive a nível internacional; e penso sobretudo na República Democrática do Congo, onde - apesar de ter expirado o próprio mandato - o presidente Joseph Kabila não deixou o poder e as eleições foram adiadas para um futuro ainda por definir. A Gâmbia, do ponto de vista do seu peso demográfico e geopolítico, é um caso um pouco diferente: é um País pequeno e portanto a hipótese de uma intervenção como a que estamos a assistir é dificilmente replicável em contextos como o do Gabão ou a República Democrática do Congo. Obviamente põe-se e retorna um problema: ou seja, o problema dos Presidentes agarrados ao poder, os Presidentes que não respeitam as normas constitucionais e, portanto, de um sistema de alternância do tipo liberal-democrático que em África encontra dificuldades de se estabelecer”.

Na Gâmbia, pouco antes do Natal de 2015, Jammeh declarou a República Islâmica:

"Alguns dias atrás me calhou entrevistar, para a agência de notícias 'Dire', o Padre Benedict Mbah, um missionário da Congregação dos Missionários de São Paulo, que se encontra na Gâmbia. Ele falava da crise económica e falava também desta passagem controversa da proclamação de uma República islâmica na Gâmbia, um País que é predominantemente muçulmano, mas onde existe também uma importante, significativa e preciosa tradição de convivência entre cristãos e muçulmanos. A leitura que o Padre Benedict deu é de uma tentativa, nos últimos anos, para desviar a atenção das condições económicas muito, muito difíceis; para além da tentativa de reposicionar a Gâmbia de tal modo a obter ajudas e alianças das monarquias do Golfo, afastando-se em contrapartida - como testemunha a decisão de deixar a Commonwealth, tomada em 2013 - da União Europeia e os ex-colonizadores britânicos. Aliás, houve uma suspensão de ajudas significativa por parte da Europa, que teve também um impacto sobre a economia e a sociedade da Gâmbia”.

A população, sobretudo aquela que está em fuga em canoas improvisadas ao longo do rio Gâmbia, espera que o novo chefe de Estado Barrow tome as rédeas de um País que a imprensa internacional tem muitas vezes chamado "em ruínas”.








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