Editorial: Vulneráveis e sem voz


Cidade do Vaticano (RV) – “Migrantes de menor idade, vulneráveis e sem voz”: esse o título da Mensagem do Papa Francisco para o 103º Dia Mundial do Migrante e do Refugiado 2017, que nós celebramos no último dia 15 de janeiro. O Papa Francisco nos chama mais uma vez a atenção para o destino das crianças e adolescentes migrantes que estão entre os mais vulneráveis. Os pequenos padecem hoje as novas formas de escravidão como a prostituição, a chaga da pornografia, a exploração no trabalho e o tráfico de droga.

Diante da contínua violação dos direitos das crianças, Francisco opõe um ponto de vista ético muito claro: “encontramos Jesus Cristo nos pequenos e vulneráveis”, e devemos fazer de tudo para proteger a sua dignidade.

Os bispos europeus nos dias passados recordaram que em 2015 mais de 65 milhões de pessoas deixaram suas casas por causa de guerras, perseguições e violências. A metade deste povo de refugiados é constituída de menores. Em particular, o número elevado na Europa de menores refugiados não acompanhados apresenta desafios imensos, especialmente porque muitas crianças e jovens não fazem pedido de asilo. O número real, portanto, é muito mais alto em relação ao indicado pelos dados oficiais. Em 2015 eram mais de 100 mil.

Diante do drama dos refugiados, que já quase estamos acostumados a ver nos telejornais, não podemos permanecer indiferentes. Por traz das pessoas que de barco cruzam o Mediterrâneo, ou a pé pelas fronteiras do leste europeu tentando chegar a Europa, temos histórias de imenso sofrimento: famílias que são separadas, menores que sofreram violências e várias formas de exploração que causam graves feridas no corpo e na alma. Essa realidade não pode deixar o homem moderno, as chamadas sociedades civilizadas, estáticas. É mais do que nunca necessário adotar ações concretas para defender seus direitos e dignidade e ser voz daqueles que não tem voz.

O Pontífice pede que cuidemos das crianças, pois elas são três vezes mais vulneráveis – menores de idade, estrangeiras e indefesas – quando, por vários motivos, são forçadas a viver longe da sua terra natal e separadas do carinho familiar. As crianças migrantes, vulneráveis, invisíveis e sem voz, ressalva Francisco, “acabam facilmente nos níveis mais baixos da degradação humana, onde a ilegalidade e a violência queimam o seu futuro”. Como responder a esta realidade?

O Papa responde: “Com a certeza de que ninguém é estrangeiro na comunidade cristã. A Igreja deve reconhecer o desígnio de Deus também neste fenômeno, que faz parte da história da salvação”. Mas como?   

Em primeiro lugar, garantindo proteção e defesa aos menores migrantes; evitando que as crianças se tornem objeto de violência física, moral e sexual, porque “a linha divisória entre migração e tráfico pode tornar-se às vezes muito sutil”. Por outro lado, há de se combater também a demanda, intervindo com maior rigor e eficácia contra os exploradores.  

Em segundo lugar, é preciso trabalhar pela integração das crianças e adolescentes migrantes. O Papa recorda que a condição dos migrantes menores de idade é ainda mais grave quando ficam em situação irregular ou ao serviço da criminalidade organizada e são destinados a centros de detenção. 

Em terceiro lugar, o Papa apela para que se busquem e adotem soluções duradouras e neste sentido, é necessário o esforço de toda a comunidade internacional para extinguir os conflitos e as violências que constringem as pessoas a fugir.  

Uma questão fundamental, do ponto de vista do Papa, é a adoção de procedimentos nacionais adequados e de planos de cooperação concordados entre os países de origem e de acolhimento, tendo em vista a eliminação das causas da emigração forçada dos menores.

É também indispensável que a opinião pública seja informada de modo correto, para que se previnam medos injustificados e especulações sobre a pele daqueles que emigram, principalmente dos menores. É preciso tomar consciência de que a migração está presente na história do homem, e apostar na proteção, na integração e em soluções duradouras.

Devemos garantir um futuro a quem é obrigado a deixar suas terras em busca de uma vida mais digna. Devemos dar novamente a eles a dignidade perdida. (Silvonei José)








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