Voltar à autenticidade dos textos conciliares


Cidade do Vaticano (RV) -  No nosso espaço Memória histórica - 50 anos do Concílio Vaticano II, vamos tratar no programa de hoje sobre a importância de voltar à autenticidade dos textos conciliares.

As mudanças sociais e culturais no século XX e XXI, assim como a velocidade com que acontecem, apresentam um desafio para a Igreja e sua Missão no mundo. Se por um lado surgem vozes que defendem a realização de um novo Concílio, por outro, a maioria defende a total concretização das decisões do Concílio Vaticano II, ainda não implementadas.

Neste sentido, retornar aos Documentos conciliares é de particular atualidade: eles nos proporcionam instrumentos exatos para enfrentar os problemas de hoje. Somos chamados a reconstruir a Igreja, não apesar do, mas graças ao Concilio Vaticano II. Padre Gerson Schmidt:

"Quando havia passado 10 nos do Concilio Vaticano II, o Cardeal Ratzinger fazia a seguinte declaração: “Em primeiro lugar, é impossível para um católico tomar posição a favor do Concílio Vaticano II contra Trento e o Vaticano I. Quem aceita o Vaticano II, assim como ele se expressou claramente na letra, e entendeu-lhe o espírito, afirma ao mesmo tempo a ininterrupta tradição da Igreja, em particular os dois Concílios precedentes. E isso deve valer para o chamado ‘progressismo’, pelo menos em suas formas extremas.

Segundo: do mesmo modo é impossível decidir-se por Trento e do Vaticano I contra o Vaticano II. Quem nega o Vaticano II nega a autoridade que sustenta os dois Concílios, e, dessa forma, os separa de seu fundamento. E isso deve valer para o chamado ‘tradicionalismo’, também em suas formas extremas. Perante o Concílio Vaticano II, qualquer opção parcial destrói o todo, a própria história da Igreja, que só pode subsistir como uma unidade indivisível”.

No resgate histórico que aqui fazemos é importante termos presente o Sínodo de 1985, que teve também por objetivo a revisão do Concilio Vaticano II, passados então 20 anos. Esse sínodo fez um balanço do Concílio. João Paulo II teve três objetivos em 85, quando realizou o Sínodo dos bispos: queria, reviver, de alguma maneira a atmosfera de comunhão eclesial do Concilio; em segundo lugar, de troca de experiências sobre a aplicação do Concilio; e em terceiro lugar, favorecer um posterior aprofundamento do Concílio na vida da Igreja.

Segundo o Papa Bento XVI, enquanto ainda Cardeal, nos 20 anos pós-Concílio houve mais mudanças na Igreja do que dois séculos. Fez uma crítica de que devido a algumas más interpretações do Concílio se passou de uma atitude autocrítica para autodestruição, usando também palavras de Paulo VI.

Nesse contexto, o Cardeal Julius Döfner dizia que a Igreja pós-conciliar é uma grande obra de construção. Mas o espírito crítico acrescentou que é uma obra de construção onde se perdeu o projeto e cada um continua a fabricar de acordo com o seu próprio gosto¹ .

Por isso esses teólogos fazem um apelo a voltar aos autênticos textos do Concílio, o que aqui nesse espaço estamos procurando fazer para não deturpar a autêntica inspiração dos Padres conciliares. O Cardeal Ratzinger chegou a afirmar anos atrás, ainda antes de ser Papa: “é ao hoje da Igreja que devemos permanecer fiéis, não ao ontem, nem ao amanhã. E esse hoje da Igreja são os Documentos do Vaticano II em sua autenticidade. Sem reservas que os amputem. E sem arbítrios que os desfigurem”² .

Disse ainda mais, fazendo um diagnóstico pós-conciliar que estamos hoje descobrindo a função profética do Concílio. Palavras literais do Cardeal Ratzinger: “Alguns textos do Vaticano II pareciam adiantar-se aos tempos então vividos. Vieram a seguir revoluções culturais e terremotos sociais que os Padres conciliares nem podiam prever, mas que demonstravam como aquelas respostas – então antecipadas – eram as que, a seguir, se fariam necessárias. Portanto, retornar aos documentos é de particular atualidade: eles nos proporcionam instrumentos exatos para enfrentar os problemas de hoje. Somos chamados a reconstruir a Igreja, não apesar do, mas graças ao Concilio Vaticano II”³ .

Como Papa Bento XVI, em 10 de outubro de 2012, na tradicional Audiência Geral das quartas-feiras ,afirmou que os documentos do Concílio Vaticano II são "uma bússola que permitem que a nave da Igreja navegue em mar aberto, em meio a tempestades ou na calma com a certeza de chegar à meta". E ainda recordou que ele também participou como perito no Concílio, quando era professor de teologia fundamental da universidade de Bonn (Alemanha).  Ali, recordou assim: "pude ver uma Igreja viva – quase três mil Padres conciliares de todas as partes do mundo reunidos sob a orientação do Sucessor do Apóstolo Pedro – que se coloca na escola do Espírito Santo, o verdadeiro motor do Concílio".Recordou que a intenção da assembleia conciliar iniciada a 11 de outubro de 1962 era, para o Papa, “delinear de um modo novo a relação da Igreja com a idade moderna” (4) .

Bento repetia a mesma expressão utiliza já por João Paulo II ao término do Grande Jubileu do ano 2000, quando disse assim a respeito do Concílio: "À medida que passam os anos, aqueles textos não perdem o seu valor nem a sua beleza. É necessário fazê-los ler de forma tal que possam ser conhecidos e assimilados como textos qualificados e normativos do Magistério, no âmbito da tradição da Igreja. Concluído o Jubileu, sinto ainda mais intensamente o dever de indicar o Concílio como a grande graça de que se beneficiou a Igreja no século XX: nele se encontra uma bússola segura para nos orientar no caminho do século que começa" (Novo millennio ineunte, 57).

________________

1 RATZINGER, J. / v.MESSORI. A fé em crise? O Cardeal Ratzinger se interroga, E.P.U., SP, 1985, p.17.

2 Idem, 18.

3 Idem,21.

4 http://www.agencia.ecclesia.pt/noticias/vaticano/vaticano-ii-concilio-e-bussola-da-igreja/

 

 








All the contents on this site are copyrighted ©.