Bolívia: Jesuítas desaprovam exumação do corpo de Pe. Espinal


La Paz (RV) – A Companhia de Jesus na Bolívia expressou seu desacordo com a exumação do cadáver do sacerdote Luis Espinal, assassinado há mais de 36 anos em La Paz. Os jesuitas temem que a sua memoria seja usada para fins que não condizem com a investigação.

"Salvaguadando a memória histórica do Padre Espinal, em virtude do respeito com que se deve tratar o corpo, tanto na vida como depois da morte, a Companhia de Jesus expressa o seu desacordo  com a exumação dos restos mortais do Padre Luis Espinal", indica um comunicado enviado aos jesuítas e às Obras da Companhia na Bolívia pelo Padre Ignacio Suñol SJ, Secretário da Ordem no país.

Na mensagem, a Companhia revela os pontos centrais do memorial enviado à Procuradoria e indica não ter sido comunicada oficialmente sobre a decisão do Promotor Gerardo Quenta, que determinou a exumação para a última segunda-feira (09/01), no Cemitério Geral de La Paz.

Os jesuítas temem que a memória do sacerdote “seja usada para fins que não condizem com a investigação do crime, nem com o respeito e o carinho que a sociedade boliviana têm pelo Padre Espinal”.

Ademais, expressam que “o assassinato do Padre Espinal é de público conhecimento há mais de 36 anos e a causa médica de sua morte foi estabelecida em seu momento”.

Por fim, “a Companhia de Jesus expressa sua plena vontade de que sejam esclarecidos os fatos que tão injustamente provocaram a morte de nosso irmão Padre Luis Espinal Camps”.

A exumação foi disposta por Quenta dentro do caso seguido pelo Ministério Público à pedido de Roberto Meleán Rendón contra Jaime Niño de Guzmán Quiroz.

Entenda o caso

A investigação sobre o assassinato do Padre Espinal, cometido em 22 de março de 1980, foi reaberta em novembro passado por solicitação do denunciante, o Coronel Roberto Melean (condenado por crimes durante a ditadura), que por meio de seu advogado, Frank Campero, indica como responsável pelo crime o então Comandante da Força Aérea Boliviana (FAB), General Jaime Niño de Guzmán.

Segundo o jurista, que também representa o ex-ditador, Luis García Meza, a importância desta perícia se deve ao fato que, com ela, se obterá, após 36 anos, um ceritificado médico forense que servirá para fundamentar uma futura imputação e acusação para um julgamento.

O Padre Luis Espinal foi sequestrado em 21 de março de 1980 e seu corpo encontrado no dia seguinte na perferia de La Paz, com evidentes sinais de tortura e com disparos de arma de fogo. Quatro meses após o assassinato, tomou o poder na Bolívia o ditador  Luiz García Meza.

Jesuíta, cinesta, jornalista e poeta, nasceu em San Fruitó de Bages, próximo à Manresa, Espanha, em 1932. Ingressou ainda adolescente na Companhia de Jesus. Estudou Humanidades e Literatura clásica, Filosofia, Jornalismo e Teologia. Seis anos após ser ordenado sacerdote, foi à Bolívia como missionário. Era 1968. Sentiu-se profundamente atraído por um país marcado por profundas diferenças sociais e fortes injustiças. No epitafio de seu túmulo está escrito: “Assassinado por ajudar o povo”.

(je/reflexión y liberación)

 

 








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