2017-01-05 15:35:00

Francisco, 2016: três momentos para recordar em 2017


Neste início de 2017 é ainda o ano de 2016 a lançar pontes para o futuro da Igreja, nas atitudes e mensagens do Pontífice Francisco. Neste “Sal da Terra, Luz do Mundo”, sublinhamos três momentos do pontificado do Papa em 2016 para recordar durante o ano de 2017.

O abraço entre Francisco e Kirill

2016, foi o ano que viu um acontecimento absolutamente histórico para o futuro dos cristãos: a 12 de fevereiro, em Cuba, no Aeroporto José Marti, Francisco de Roma e Kirill de Moscovo abraçaram-se.

Ortodoxos e católicos encontram-se divididos desde o Cisma de 1054 e procuram agora com este encontro dar um histórico passo que possa abrir caminhos de unidade.

Somos irmãos é muito claro que esta é a vontade de Deus” – disse o Papa Francisco num caloroso abraço ao Patriarca Kirill que afirmou: “Mesmo que as nossas dificuldades não estão resolvidas há a possibilidade de encontrarmo-nos e isto é belo”.

No encontro em privado foram trocadas lembranças significativas: o Papa ofereceu um relicário com uma relíquia de S. Cirilo e um cálice; o Patriarca fez a oferta de uma imagem da Nossa Senhora de Kazan.

Depois foi assinada uma declaração conjunta que aborda âmbitos de colaboração e de diálogo com um particular enfoque para a situação dos cristãos no Médio Oriente.

O nosso olhar dirige-se, em primeiro lugar, para as regiões do mundo onde os cristãos são vítimas de perseguição. Em muitos países do Médio Oriente e do Norte de África, os nossos irmãos e irmãs em Cristo veem exterminadas as suas famílias, aldeias e cidades inteiras” – pode ler-se no texto da declaração conjunta.

Francisco e Kirill no texto da declaração exortam a comunidade internacional à união para porem termo “à violência e ao terrorismo”. Apelam para a paz, para a “ajuda humanitária” aos refugiados e referem o martírio dos cristãos.

Após a assinatura da declaração conjunta o Papa Francisco e o Patriarca Kirill proferiram breves declarações:

Temos o mesmo Batismo, somos bispos. Falamos das nossas Igrejas e concordamos que a unidade se faz a caminhar” – afirmou o Papa Francisco que sublinhou ter sentido a “consolação do Espírito” no diálogo com o Patriarca Kirill.

Francisco agradeceu a “humildade fraterna” do patriarca russo e os seus “bons desejos de unidade”.

O Patriarca Kirill, por sua vez, ressaltou nas suas declarações a abertura do encontro com o Papa e as preocupações com o “futuro do Cristianismo”.

Kirill sublinhou ainda que as duas Igrejas podem “cooperar” trabalhando para o respeito da vida humana.

Deus salva-nos fazendo-Se pequeno, vizinho e concreto

Um segundo momento importante de 2016 aconteceu na Polónia no Santuário de Czestochowa na comemoração dos 1050 anos do Batismo da Polónia. O Papa apelou ao serviço simples e humilde.

Quinta-feira, 28 de julho – o Papa Francisco na Polónia foi de helicóptero de Cracóvia para Czestochowa, tendo sido recebido por milhares de peregrinos no Mosteiro de Jasna Gora. O Santo Padre recolheu-se em oração na Capela da Nossa Senhora Negra e, de seguida, dirigiu-se para o recinto junto do Santuário onde presidiu à celebração eucarística, por ocasião dos 1050 anos do Batismo da Polónia.

Na sua homilia o Papa referiu a passagem de S. Paulo que nos diz que “«quando chegou a plenitude do tempo, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher» (Gal 4, 4). A história, porém, diz-nos que, quando chegou esta «plenitude do tempo», isto é, quando Deus Se fez homem, a humanidade não estava particularmente preparada, nem era um período de estabilidade e de paz” – referiu o Santo Padre que sublinhou “o modo como se realiza a entrada de Deus na história: «nascido de uma mulher»”.

Não há uma “entrada triunfal”, mas simplesmente, “chega como uma criança através da mãe” “na pequenez” e “na humildade” – ressaltou o Papa que citou o episódio das Bodas de Caná da Galileia onde “não há um gesto estrondoso realizado diante da multidão, nem uma intervenção que resolva um problema político flagrante, como a subjugação do povo à dominação romana. Pelo contrário, numa pequena aldeia, tem lugar um milagre simples, que alegra o casamento duma jovem família, completamente anónima”.

“Um Deus que se põe à mesa connosco” e que nos salva fazendo-se pequeno, vizinho e concreto – afirmou Francisco:

“… Deus salva-nos fazendo-Se pequeno, vizinho e concreto.”

Deus faz-Se pequeno porque é “manso e humilde de coração” e prefere os pequeninos “porque se opõem àquele «estilo de vida orgulhoso» que vem do mundo”. Os pequenos vivem “o amor humilde que os torna livres”. Pessoas simples, extraordinárias, tais como, S. João Paulo II e Santa Faustina, autênticos “canais” do amor de Deus para a “humanidade inteira” – realçou o Papa.

Ao mesmo tempo, Deus é vizinho porque o seu “Reino está próximo”: o Senhor “gosta de mergulhar nas nossas vicissitudes de cada dia, para caminhar connosco” – afirmou Francisco que acentuou que também nós, enquanto Igreja, “somos chamados” a tornarmo-nos vizinhos, a ouvir e a envolvermo-nos com os outros.

Por fim, Deus é concreto – referiu o Papa – “o Verbo faz-Se carne, nasce duma mãe, nasce sob o domínio da Lei (cf. Gal 4, 4), tem amigos e participa numa festa: o Eterno comunica-Se transcorrendo o tempo com pessoas e em situações concretas”.

Não nascemos para vegetar mas para mudar o mundo

O terceiro e último momento de Francisco em 2016 que destacamos nesta rubrica, foi vivido, intensamente, por um milhão e meio de jovens a 30 de julho na Vigília de Oração das Jornadas Mundiais da Juventude no Campus Misericórdia de Cracóvia na Polónia.

Francisco afirmou que não nascemos para vegetar mas para mudar o mundo e declarou que a resposta a um mundo em guerra é a palavra fraternidade.

O Santo Padre no seu discurso convidou os jovens a darem as mãos pois “é mais fácil construir pontes do que levantar muros”.

“Sabeis qual é a primeira ponte a construir? Apertarmos as mãos. Força, fazei-o agora. É a ponte humana, o modelo. Que possam aprender a faze-lo os grandes deste mundo” – afirmou Francisco.

Eram tantas as mãos apertadas na Vigília da JMJ de Cracóvia em sinal de comunhão e reconciliação. O Papa atravessou a Porta da Misericórdia e fez um forte apelo aos jovens, provenientes de países e culturas diferentes, para caminharem pelos caminhos de Deus e contagiarem de alegria o mundo:

Pergunto-vos: quereis ser jovens adormecidos e atordoados? Quereis que outros decidam o futuro por vós? Quereis lutar pelo vosso futuro?

“… não viemos ao mundo para vegetar, para passar comodamente a nossa vida num sofá que nos adormeça. Pelo contrário, viemos para outra coisa, para deixar uma marca.”

Os jovens adoraram Jesus Eucaristia em silêncio. Antes tinham proposto uma sugestiva coreografia inspirada em Santa Faustina Kowalska e nos écrans gigantes foram vistas imagens do terrorismo, o perdão de João Paulo II ao homem que atentou contra a sua vida e no palco a representação da juventude sofrida, indiferente, desencorajada e duvidosa. Intensos os testemunhos de três jovens: uma polaca, um paraguaio e uma síria da cidade de Aleppo que partilharam as suas experiências da misericórdia do Pai que ama, levanta-nos do pecado e concede sempre uma nova oportunidade.

O Santo Padre no seu discurso recordou os tantos jovens que vivem a guerra e que já não são apenas uma notícia da imprensa, mas um nome, um rosto e uma história:

… nunca mais deve acontecer que irmãos sejam  circundados pela morte sentindo que ninguém os ajudará. Convido-vos a rezar juntos para que de uma vez por todas possamos perceber que nada justifica o sangue de um irmão, que nada é mais precioso do que a pessoa que está ao nosso lado.”

Francisco convidou os jovens para a ‘escola da misericórdia’ para mudarem o mundo e com Cristo vencerem o mal vivendo em fraternidade:

… não nos vamos pôr a gritar contra alguém, não queremos vencer o ódio com o ódio, vencer a violência com mais violência, vencer o terror com mais terror. E a nossa resposta para este mundo em guerra tem um nome: chama-se fraternidade…

As mensagens e atitudes do Santo Padre em 2016 ajudam-nos a caminhar com Francisco durante este novo ano de 2017.

“Sal da Terra, Luz do Mundo”, é aqui na Rádio Vaticano em língua portuguesa.

(RS)

 

 

 








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