Patriarca Sako: Natal no Iraque, proximidade ao Islã


Bagdá (RV) - As festividades natalinas recentes foram um sinal forte de esperança para o renascimento do Iraque, assolado por guerra e violência. Não obstante os riscos de atentados, houve grande participação nas celebrações cristãs também de muçulmanos e outras denominações. Um espécie de “revolta de base contra o terrorismo, em defesa da vida, da paz e da alegria”. Este é o pensamento do Patriarca de Babilônia dos Caldeus, no Iraque, Dom Louis Raphaël I Sako. Eis o que disse na entrevista à nossa emissora.  

Dom Sako: “Este ano, o Natal teve outro sabor, porque há uma tomada de consciência no respeitar os cristãos e sua fé. Estamos realmente muito surpresos. É a primeira vez que tanta gente vem à igreja. Muitos membros do Governo. Os líderes religiosos muçulmanos nos mandaram cartas de felicitações. Penso que isso seja uma verdadeira esperança.”

É muito importante que os cidadãos continuem dialogando e convivendo pacificamente. Isso poderá influir na situação do país?

Dom Sako: “Acredito que duas coisas mudaram. A primeira é a posição clara da Igreja pela paz, o diálogo e a unidade do Iraque. A segunda é que a realidade civil é acolhedora em relação a todos os iraquianos independentemente da religião ou etnia. Além disso, ajudamos muitos muçulmanos refugiados, em Bagdá, mas também nas áreas sunitas e xiitas através da Caritas e do nosso patriarcado. Os meios de comunicação fizeram um ótimo trabalho. Muitas televisões transmitiram as celebrações do Natal para dar uma mensagem de paz não somente aos cristãos, mas a todos. Existe algo que está se movendo e esperamos que este processo continue.” 

Diante disso é possível reconstruir um Iraque multiétnico, multicultural e multirreligioso, em paz?

Dom Sako: “É o nosso destino. O Iraque não será Iraque sem cristãos, sem yazidis, xiitas e sunitas. O problema não é somente entre iraquianos, o problema é também regional. O impacto dos países vizinhos é muito grande. Não somos acostumados à cultura sectária. Ela vem de fora, assim como a ideologia do Estado Islâmico e o fundamentalismo. Esperamos que a situação mude.”

Os cristãos que fugiram da violência no Iraque estão voltando?

Dom Sako: “Isso é mais complicado, porque eles agora não podem voltar. Mosul não foi libertada e ainda há muito perigo. Além disso, é preciso reconstruir as casas, as ruas e as infraestruturas. Tem muito trabalho a ser feito. Muitos querem voltar, alguns foram ver em que condições estão suas casas. Visitei duas vezes esses povoados para dizer que é a nossa terra e nós retornaremos, mas é preciso tempo e muito trabalho. Existem povoados que foram totalmente destruídos, mas temos muita esperança.” 

(MJ)








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