Dom Zenari: 2017 poderá ser o ano da mudança para a Síria


Damasco (RV) – Na Síria permanece frágil a trégua alcançada em 30 de dezembro, graças à mediação da Rússia e Turquia com o aval do Iran, excetuando-se, no entanto, a guerra contra o Estado Islâmico. De fato, caças russos e turcos continuam a bombardear as bases jihadistas em território sírio. Também a aviação de Assad bombardeia bases islamistas no norte de Damasco, área excluída do cessar-fogo.

Mesmo neste contexto se olha com esperança para as conversações de paz que terão lugar no Cazaquistão, no máximo dentro de um mês. Mas sobre a situação vivida no país, a Rádio Vaticano entrevistou o Núncio Apostólico na Síria, o Cardeal Mario Zenari:

“Gostaríamos que esta trégua representasse uma reviravolta. É um sinal de uma certa esperança: vive-se neste clima. Naturalmente é necessário também andar com muita, muita cautela, porque a trégua – como se sabe – não diz respeito a todos os grupos armados. E depois se viu, justamente nas primeiras horas do ano novo, na vizinha Turquia, este ato de terrorismo. Portanto, é necessário caminhar ainda muito, muito cautelosamente. Porém eu diria que as pessoas têm respirado com certo alívio. É importante também que a esperança não seja sepultada. Eu sempre digo: “Manter viva a esperança!”. Mas é necessário ser prudentes, porque ainda – em alguns lugares – existem combates, bombardeios. Aqui em Damasco, por exemplo, grande parte da capital, há cerca de uma semana está sem água corrente, porque – daquilo que se diz – foram danificados os depósitos; e em grande parte da cidade, também falta eletricidade. Respira-se com certo alívio em Aleppo. Também as nossas comunidades estão vivendo estas festividades natalícias com um cero clima de serenidade que não existia há anos. Existe este clima de confiança e de otimismo, mesmo que – repito  novamente – seja necessário ter muita cautela”.

RV: O Papa, no seu último apelo em favor da Síria, fez votos de que a comunidade internacional trabalhe ativamente pela paz...

“Sim, aqui é muito importante que a Comunidade internacional chegue a um acordo. Nestes últimos seis anos assistimos, infelizmente, a uma divisão no seio da comunidade internacional e em particular no seio do Conselho de Segurança. E estas divisões não ajudaram a encontrar o caminho da paz. Ultimamente, nestes últimos dias, foram votadas por unanimidade algumas Resoluções no seio do Conselho de Segurança: esperamos que isto seja um sinal forte, que possa contribuir para uma reviravolta. Esperamos que 2017 marque realmente o ano da mudança. Naturalmente, há muito a ser feito, mas importante é que cesse a violência. É tempo de curar as feridas profundas – feridas muito profundas! – quer do ponto de vista físico, mas diria também – e sobretudo – as feridas muito profundas na alma e no espírito. É necessário colocar a mão e curar todas estas várias feridas”.

 RV: As esperanças, portanto, para 2017, são muito fortes...

“Eu diria que sim. Mas devem ser alimentadas: todas as comunidades cristãs, nestes dias natalinos, alimentam esta esperança com a oração, indicando o caminho da reconciliação, do perdão, como nos ensina o Senhor no Evangelho. Naturalmente o caminho é ainda muito longo e diria que é uma subida. Porém, se vê algum sinal de esperança para o futuro. E desejamos que, com a ajuda de Deus e da Comunidade internacional, estas sementes de esperança possam crescer e que possamos ver o quanto antes frutos de reconciliação e de paz”.

(je/sc)

 








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